Em Madri, Virgínia foi alvo de comentários e críticas enquanto aproveitava uma viagem sem os filhos. Ao mesmo tempo, Zé Felipe, pai das crianças, curtia o Pantanal na companhia de Ana Castela e recebeu apoio. A diferença de repercussão não é coincidência: a sociedade ainda observa e julga muito mais o comportamento das mães do que o dos pais.
“Desde o século XVII, toda a responsabilidade da criação das crianças foi colocada exclusivamente sobre a mulher”, conta Rafaela Schiavo, psicóloga perinatal e especialista em saúde mental materna. A especialista explica que a cultura consolidou a ideia de que a mulher deveria ser mãe 24 horas por dia, e que sua felicidade plena viria da maternidade. Quando não corresponde a esse ideal, recebe críticas – até de outras mulheres.
O mito da mãe perfeita
A cobrança não tem base biológica, é uma construção social histórica e, por isso, adoece emocionalmente muitas mulheres. Essa expectativa irreal leva à sobrecarga e à culpa. “A sociedade ainda sustenta a ideia da ‘mãe perfeita’, aquela que atende todas as necessidades da criança, abdica de si e se realiza apenas na maternidade. Mas não existe mãe perfeita, existe mãe possível. E é essa mãe real que o filho precisa”, diz Rafaela.
O mito da mãe perfeita também reforça a vigilância sobre o tempo da mulher. Tirar algumas horas para si, trabalhar fora, viajar ou simplesmente descansar ainda é visto como algo suspeito, enquanto o mesmo comportamento em pais é interpretado como natural.
Culpa e saúde mental
Na prática clínica, Rafaela observa que muitas mulheres sentem culpa intensa mesmo em situações legítimas de afastamento, como trabalhar, sair com o parceiro ou cuidar da própria saúde mental. “O bebê precisa de uma mãe saudável, não de uma mãe 100% presente”, lembra a especialista. O que importa é a qualidade do tempo compartilhado, não a quantidade de horas fisicamente ao lado da criança.
O impacto dessa cobrança na autoestima é grande. “Muitas mulheres se frustram porque a maternidade idealizada não corresponde à realidade. Fazem o suficiente, mas acreditam que nunca é o bastante. Isso gera sofrimento emocional, ansiedade e sobrecarga”, acrescenta Rafaela.

Autocuidado não é abandono!
Um ponto importante que a psicóloga reforça é a distinção entre autocuidado e negligência. “Quando a mãe se afasta com intenção de cuidar do próprio bem-estar e mantém atenção ao filho – orienta quem fica com ele, garante alimentação adequada, acompanha à distância – não há prejuízo no vínculo. A negligência acontece quando há ausência de cuidado e interesse”, destaca.
O equilíbrio entre maternidade, trabalho e vida pessoal é essencial. Cuidar de si não diminui o amor pelos filhos; pelo contrário, uma mãe feliz e emocionalmente saudável oferece vínculos mais seguros e afetivos.
“O mito da supermãe só gera sofrimento. Amar um filho não é se anular, é buscar felicidade e equilíbrio. Uma mãe emocionalmente saudável oferece vínculos seguros e afetivos. Crianças não precisam de mães perfeitas, querem ser amadas por mães reais”, finaliza.
Uma mudança cultural necessária
Para Rafaela, mudanças estruturais e culturais são essenciais. A licença-paternidade curta e desigual, a ideia de que cuidar é tarefa feminina e a segregação de brinquedos por gênero contribuem para a manutenção da desigualdade.
“É preciso estimular a presença dos pais em todas as etapas, desde o pré-natal até a vida escolar, para que a parentalidade seja entendida como uma parceria e não como um peso exclusivo das mulheres”, afirma.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (24 de outubro). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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