A rotina das crianças mudou muito nos últimos anos. Em muitas famílias, a semana dos pequenos parece um quebra-cabeça cheio de horários: balé aqui, natação ali, depois inglês, música, teatro, robótica. A intenção quase sempre é positiva, afinal, as atividades extracurriculares ampliam habilidades e oferecem experiências importantes. Mas até onde essa agenda cheia continua saudável?
Para o neurocirurgião e especialista em desenvolvimento infantil André Ceballos, a resposta está no equilíbrio – e esse ponto de equilíbrio nem sempre é fácil de enxergar no dia a dia.
O que acontece quando sobra atividade e falta tempo livre
Antes de falar sobre o excesso, é importante entender algo essencial: crianças não têm a mesma capacidade de organização emocional que os adultos. Quando a rotina deles é preenchida de ponta a ponta, o corpo e o cérebro entram em estado de tensão, mesmo que a atividade seja prazerosa.
“É importante ter em mente que crianças não são adultos em miniatura, então elas não devem ter uma rotina tão cheia como as nossas. Eles precisam de momentos simplesmente para não fazer nada, para serem crianças, brincar com lápis, massinhas, papel e outras crianças, esses momentos estimulam o desenvolvimento social e emocional”, explica Ceballos.
Esses intervalos não estruturados são parte ativa do desenvolvimento. Sem eles, a criança não descobre o que fazer com o próprio tédio, não exercita a imaginação e não fortalece a autonomia.
O valor do tédio: por que o “não fazer nada” ensina tanto
Quando a agenda está completamente tomada, sobra pouco espaço para o chamado ócio criativo. E é justamente nesse espaço que ideias novas surgem, brincadeiras são inventadas e a criança aprende a lidar com a frustração e a satisfação de criar.
Ceballos reforça que, quando tudo é planejado pelos adultos, o pequeno perde a chance de desenvolver repertório emocional para enfrentar situações mais complexas no futuro, o que pode aumentar a tendência à ansiedade.
Atividades extracurriculares são importantes, desde que escolhidas com propósito
Nenhum especialista defende abolir as atividades adicionais. A questão é ajustar a quantidade e a motivação por trás delas. O ideal é que a escolha não seja apenas dos pais, mas também da criança.
De acordo com Ceballos, permitir que o pequeno experimente diferentes modalidades, sem pressão por desempenho, torna o processo mais leve e construtivo. “O aprendizado mais importante nessa fase não é dominar uma técnica, mas desenvolver habilidades como concentração, coordenação motora, trabalho em equipe e autoconfiança”, afirma.

Como saber se a criança passou do limite?
Alguns sinais ajudam a identificar quando a rotina está pesada demais:
– Cansaço frequente ou irritação após as atividades
– Falta de interesse por algo que antes era prazeroso
– Dificuldade de concentração
– Queixas físicas, como dor de cabeça ou dor na barriga antes das aulas
Quando qualquer um desses indicadores aparece, é hora de rever o volume de compromissos.
Caminhos para uma rotina mais leve
Ceballos sugere atitudes práticas para reorganizar o equilíbrio entre diversão, descanso e aprendizado:
– Observe o comportamento: se a criança demonstra resistência ou estresse antes das atividades, reduza a carga.
– Garanta tempo livre diário: brincar sem regras, criar histórias, montar cabanas, mexer com massinha — tudo isso faz parte do desenvolvimento.
– Ouça as preferências da criança: ela deve participar da escolha. Uma aula experimental pode ajudar a testar o interesse real.
– Evite comparações: cada criança tem ritmo próprio; medir habilidades pela régua de outra criança aumenta a ansiedade.
“A melhor atividade é aquela que traz alegria, aprendizado e equilíbrio. A infância não precisa ser uma agenda cheia, e sim um espaço de crescimento saudável”, finaliza o especialista.
Resumo:
A agenda lotada pode prejudicar o bem-estar emocional das crianças. O segredo está em equilibrar atividades com tempo livre, respeitar o interesse do pequeno e observar sinais de sobrecarga.
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Lígia Menezes
Lígia Menezes (@ligiagmenezes) é jornalista, pós-graduada em marketing digital e SEO, casada e mãe de um menininho de 3 anos. Autora de livros infantis, adora viajar e comer. Em AnaMaria atua como editora e gestora. Escreve sobre maternidade, família, comportamento e tudo o que for relacionado!








