Quantas vezes você já engoliu o choro para não preocupar ninguém? Ou deixou de dizer o que sentia por medo de parecer frágil demais? Esse comportamento, tão comum, pode parecer sinal de força — mas é, na verdade, um peso silencioso que adoece o corpo e a alma.
A psicóloga Pamela Magalhães, autora dos best-sellers Se Amar, Amar e Ser Amado e Bem-me-Quero, explica que o hábito de reprimir emoções tem raízes profundas e consequências sérias. “Crescemos em uma cultura que ainda associa vulnerabilidade à fraqueza, ouvindo frases como ‘engole o choro’ ou ‘seja forte’. Desde cedo, aprendemos a sufocar emoções e acreditar que sentir é um problema”, afirma. Mas acredite: o corpo fala o que a gente, muitas vezes, cala!
Por que agimos assim?
Medo de rejeição, de decepcionar os outros, de ser abandonado e até de entrar em conflito com alguém são as principais causas de guardarmos mágoas e reprimirmos nossos sentimentos, segundo a especialista.
O corpo pede ajuda
As emoções não desaparecem quando são escondidas, apenas mudam de lugar. “O corpo responde ao silêncio emocional como se fosse uma ameaça constante”, explica Pamela. “Emoções abafadas são traduzidas em estresse crônico, que mantém elevados os níveis de cortisol e adrenalina. Essa descarga química prolongada afeta o sono, prejudica a concentração, altera o humor e enfraquece o sistema imunológico”, conta.
Não é raro que dores de cabeça, gastrite, palpitações e crises de ansiedade estejam ligados à repressão emocional.
Os números confirmam a gravidade do problema. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com maior prevalência de transtornos de ansiedade no mundo – cerca de 18 milhões de pessoas convivem com o problema. Além disso, 5,8% dos brasileiros sofrem com depressão.
O preço do silêncio
Além dos impactos na saúde física e mental, o silêncio emocional afeta diretamente as relações e a carreira. A Organização Internacional do Trabalho estima que 12 bilhões de dias de trabalho sejam perdidos anualmente no mundo devido à ansiedade e à depressão, gerando prejuízo de mais de US$ 1 trilhão.

Por outro lado, falar sobre o que sente é libertador. “Profissionais que sabem comunicar suas emoções e necessidades desenvolvem mais resiliência, assertividade e inteligência emocional, competências cada vez mais valorizadas no mercado de trabalho. Além disso, a transparência emocional evita desgastes silenciosos que poderiam levar ao adoecimento, às faltas recorrentes e até a afastamentos por licença médica”, diz.
Dê o primeiro passo
Fale consigo mesma. “Reconheça suas emoções, dê nome a elas. Escreva em um diário, observe seus sentimentos e permita-se sentir. Aos poucos, compartilhe com alguém de confiança. Não há pressa. A vulnerabilidade é construída em pequenas doses”, indica.
Gradualmente, você vai notar que falar não gera rejeição,mas aproximação. A psicoterapia, segundo a especialista, é um espaço seguro para esse processo. “Na terapia, a pessoa aprende a compreender e a comunicar suas emoções sem medo de julgamento. É onde o silêncio se transforma em palavra e a dor em aprendizado”, explica.







