Todos os anos, o Dia Mundial do Diabetes reforça a importância do diagnóstico precoce, do cuidado contínuo e das mudanças no estilo de vida. Segundo a Federação Internacional de Diabetes, mais de 537 milhões de adultos vivem com a doença no mundo, e o Brasil ocupa o sexto lugar nesse ranking.
Mas, nos últimos anos, o debate ganhou um novo elemento: a possibilidade de transformar a trajetória de quem convive com o diabetes tipo 2. Os avanços científicos, as novas terapias e a visão mais integrada sobre a doença têm mudado esse cenário, especialmente entre mulheres acima dos 50 anos — grupo que concentra a maior incidência no Brasil.
Para entender o que está por trás dessas transformações, conversamos com a endocrinologista e metabologista Elaine Dias JK, PhD pela USP, que acompanha esse movimento diretamente da prática clínica.
Um novo olhar para a doença
Nos consultórios, especialistas têm observado resultados cada vez mais consistentes quando o tratamento envolve acompanhamento contínuo, orientação nutricional e, principalmente, os avanços farmacológicos dos últimos anos. Esses medicamentos atuam na regulação do apetite, no controle da glicose e na melhora da sensibilidade periférica, ampliando o impacto do tratamento tradicional.
Mas, ao contrário do que se pensava há alguns anos, o diabetes tipo 2 pode entrar em remissão, uma fase em que o paciente mantém níveis normais de glicose sem necessidade de medicamentos. “Hoje, a ciência já fala em remissão e não apenas em controle do diabetes tipo 2. Isso muda completamente a perspectiva do tratamento”, afirma a especialista. Para Elaine, observar esse avanço é ver nascer uma nova fase para parte dos pacientes.
O papel dos novos medicamentos
Essa transformação é impulsionada por estudos que mostram resultados expressivos, especialmente entre pessoas recém-diagnosticadas. Pesquisas publicadas na revista The Lancet Diabetes & Endocrinology apontam que perder entre 10% e 15% do peso corporal pode levar até 60% dos pacientes à fase em que a glicose permanece estável sem o uso de medicamentos.
Entre as terapias disponíveis, medicamentos como os agonistas de GLP-1 e GIP vêm ganhando destaque. O tirzepatida, conhecido comercialmente como Mounjaro, demonstrou uma perda média de 22,5% do peso em pacientes com obesidade, além de melhora significativa do controle glicêmico. Já a Retratutida, ainda em fase de estudos, apresentou resultados promissores, com redução de até 24% do peso corporal.
Exercício físico e estilo de vida
Mesmo com os avanços, especialistas reforçam que o acompanhamento médico e os hábitos saudáveis não perdem sua relevância. A popularização das “canetas injetáveis” trouxe benefícios, mas também preocupações sobre uso inadequado e produtos falsificados.
Além disso, manter a massa magra é fundamental durante o processo de perda de peso. Em congressos recentes, pesquisadores destacaram a importância de inserir exercícios de resistência na rotina, como a musculação. A orientação individualizada faz diferença para evitar o efeito sanfona, preservar músculos e garantir que o corpo responda adequadamente às terapias mais modernas.

Segundo Elaine, essa união entre ciência e movimento físico fortalece o organismo. “O músculo é um grande aliado no controle do açúcar no sangue. Ele ajuda a aumentar a sensibilidade à insulina e é fundamental para evitar o reganho de peso”, pontua.
A tecnologia como aliada
Pesquisas apresentadas pelo Klick Labs apontam que a inteligência artificial pode ajudar no diagnóstico precoce, identificando alterações metabólicas a partir da voz do paciente. Segundo os estudos, pequenas variações na fala — como ritmo, frequência e entonação — refletem o controle glicêmico. Esse tipo de tecnologia tem potencial para facilitar o monitoramento contínuo e ampliar o acesso a ferramentas de prevenção.
Além disso, novos medicamentos, como os agonistas de GLP-1 e os inibidores de SGLT2, vêm mostrando benefícios que vão além da glicemia. Eles também reduzem o risco cardiovascular e renal, dois dos maiores desafios enfrentados por quem tem diabetes tipo 2.
O que os estudos revelam no fim das contas
Com tantos caminhos sendo explorados, os especialistas têm observado um movimento que parecia distante até pouco tempo. A endocrinologista Elaine resume o cenário atual com otimismo: “Estamos entrando em uma era em que o paciente pode voltar a ter esperança real de viver sem os efeitos da doença. A remissão é possível e a ciência está mostrando o caminho”, finaliza.
Resumo: Os avanços no tratamento do diabetes tipo 2 apontam para uma nova fase no cuidado da doença. A união entre medicamentos modernos, exercícios de resistência, tecnologia e acompanhamento médico adequado traz resultados animadores. No Dia Mundial do Diabetes, essa mensagem de esperança reforça que mudanças práticas podem transformar a vida de muitos pacientes.
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