A notícia da morte de Lô Borges, aos 73 anos, chocou o país. Mais do que a perda de um dos ícones da Música Popular Brasileira, o caso chama a atenção para um problema de saúde pública cada vez mais grave: a intoxicação medicamentosa. O músico enfrentava complicações decorrentes do uso de fármacos e acabou internado com falência múltipla de órgãos, um desfecho que escancarou o risco de combinar diferentes remédios sem o acompanhamento médico adequado.
Segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), os medicamentos são, há anos, a principal causa de envenenamento e intoxicação no país. De 2012 a 2021, foram registrados mais de 596 mil casos — e a maioria deles poderia ter sido evitada com orientação profissional e uso racional.
Automedicação: um hábito comum, mas perigoso
A automedicação é vista, por muitos, como uma prática inofensiva. Um analgésico aqui, um anti-inflamatório ali, e pronto — sintomas aliviados. Mas, segundo o médico especialista em farmacologia Miguel de Lemos Neto, coordenador da pós-graduação em Medicina do Estilo de Vida da Afya Educação Médica, esse hábito pode ser fatal.
“Mesmo medicamentos considerados inofensivos podem provocar reações adversas quando combinados entre si ou com outros tratamentos em andamento. Buscar orientação profissional é essencial para garantir a segurança e a eficácia da terapia”, explica o especialista.
O alerta do médico se confirma nas estatísticas: o uso simultâneo de diferentes fármacos, conhecido como polifarmácia, é cada vez mais frequente — principalmente entre idosos e pessoas com doenças crônicas. O problema é que, sem acompanhamento, essa combinação pode gerar reações adversas graves, como sangramentos, falência hepática, confusão mental e até parada respiratória.
Misturas que exigem atenção redobrada
Algumas interações entre medicamentos são especialmente perigosas. E o mais assustador é que, muitas vezes, elas acontecem dentro de casa, em tentativas de tratar sintomas isolados.
Entre as combinações de risco mais comuns estão:
- Anti-inflamatórios e anticoagulantes: aumentam o risco de sangramentos.
- Antibióticos e anticoncepcionais: podem reduzir a eficácia da pílula.
- Ansiolíticos, antidepressivos e bebidas alcoólicas: elevam o risco de sonolência intensa, confusão mental e depressão respiratória.
O uso combinado de remédios sem orientação médica pode parecer inofensivo, mas o corpo pode reagir de maneira imprevisível. “É fundamental que o paciente comunique ao médico todos os medicamentos e suplementos que utiliza, para que o profissional avalie possíveis interações”, reforça Miguel.

Entender o tratamento é parte da cura
Além da automedicação, erros de administração também aparecem entre os fatores que levam à intoxicação. Segundo levantamento do Sinitox, eles respondem por 1,83% dos casos notificados. Pode parecer pouco, mas, considerando o volume total de ocorrências, representa milhares de pessoas afetadas.
Por isso, ler a bula, respeitar horários e doses e nunca dividir remédios com outras pessoas são cuidados essenciais. Outra recomendação é manter os medicamentos em suas embalagens originais, longe do alcance de crianças e em locais secos e arejados.
Pequenos hábitos, como descartar medicamentos vencidos de forma correta e guardar anotações sobre as prescrições, também ajudam a garantir um uso mais seguro.
O papel da orientação médica
A orientação profissional é o principal pilar da segurança em qualquer tratamento. É ela que previne a escalada de um simples desconforto para um evento adverso grave. O acompanhamento médico e farmacêutico garante que cada substância cumpra sua função — sem que uma anule o efeito da outra.
“Quando há acompanhamento adequado, o benefício do medicamento supera o risco. Mas, sem isso, o que era para curar pode se transformar em um novo problema de saúde”, conclui o especialista.
O caso de Lô Borges é, portanto, um lembrete doloroso, mas necessário: o remédio certo, na dose certa e com orientação certa, salva vidas. Fora disso, o risco é grande demais para ser ignorado.
Resumo: A intoxicação medicamentosa é um problema silencioso, mas prevenível. Evitar a automedicação, respeitar as doses e buscar sempre a orientação médica são atitudes simples que podem salvar vidas. Informação e cuidado são os melhores antídotos contra os riscos do uso inadequado de remédios.
Leia também:
Verdadeira causa da morte de Lô Borges é revelada; veja








