Queridinha dos artistas e conhecida por sua forte ligação com a espiritualidade, Mãe Michelly da Cigana defende que todos os caminhos levam a Deus e alerta sobre o aumento da intolerância religiosa. Em entrevista à AnaMaria, ela fala sobre fé, equilíbrio e o poder de cuidar da alma.
Em um país laico como o Brasil, a coexistência de várias crenças deve ser entendida como celebração da diversidade que nos forma. Mãe Michelly da Cigana, para além da fama de “vidente dos famosos”, leva a sério sua relação com o divino e busca sempre se manter em harmonia para seguir ajudando outras pessoas. Nesta conversa, ela reflete sobre o aumento da busca por espiritualidade, os desafios do preconceito e a importância de viver a fé sem interesses.

A busca pela fé tem crescido nos últimos anos. Você acredita que isso tem relação com o momento de incerteza e ansiedade que vivemos como sociedade?
Mãe Michelly:
Sim. As pessoas estão muito preocupadas com o futuro espiritual e também com o que vem acontecendo no mundo — as catástrofes climáticas, o tempo que parece passar cada vez mais rápido. Tenho sido muito procurada para falar sobre isso, sobre dúvidas que estão mexendo com muita gente. Não sei se é por medo ou por fé, mas é fato que as pessoas estão buscando mais espiritualidade nesse momento.
Como é o seu processo de preparo e equilíbrio antes de atender alguém que busca orientação espiritual?
Mãe Michelly:
O meu processo de equilíbrio é anual. Uma vez por ano, eu me recolho por quatro a oito dias para o meu orixá, mãe Oxum. É um reforço espiritual importante, em que fico recolhida no quarto de santo, em conexão com os orixás. O meu preparo não é diário, ele é um compromisso anual de renovação da fé.
Você costuma dizer que todos os caminhos levam a Deus. Como lida com o preconceito e a falta de compreensão em relação às religiões de matriz africana?
Mãe Michelly:
Sim, todos os caminhos levam a Deus. O nosso Deus é único, criador de todos, não aquele que julga ou exclui. Infelizmente, eu vivo intolerância religiosa todos os dias. Quando acho que já vi de tudo, surge algo novo. Ultimamente, tenho enfrentado até uma forma mais silenciosa de intolerância: perdi meu Instagram com mais de um milhão de seguidores, além de ter meu WhatsApp e meu Facebook constantemente bloqueados. Sinto que estão tentando me silenciar, mas sigo firme na minha fé.
Muita gente procura ajuda espiritual em busca de prosperidade, amor ou proteção. Que conselho você dá para quem quer começar uma caminhada mais conectada com o divino?
Mãe Michelly:
O conselho é buscar a religião pela fé — e não pela troca. Quando cuidamos da nossa espiritualidade, ela cuida da gente. A religião não promete riqueza, mas oferece sabedoria, equilíbrio e bem-estar. E quando estamos bem, tudo flui: o amor, a saúde, o dinheiro. Tudo vem na hora certa. Se alguém entra em um terreiro com interesse material, já começa errado. A fé é entrega, não barganha.
Qual foi o momento mais marcante da sua trajetória como Mãe de Santo?
Mãe Michelly:
Foi quando viralizou a imagem de Belzebu na frente da minha casa. Eu já cultuava essa força há dez anos, e aquele momento foi uma resposta de que meu trabalho não foi em vão. Senti que ele apontou a estrela que tinha que brilhar e me direcionou a pessoas do mundo inteiro, que vieram até mim em busca de fé e entendimento. Foi a confirmação da minha missão espiritual.








