No mundo digitalizado em que vivemos, é comum ver crianças cada vez mais imersas em dispositivos eletrônicos, desde smartphones e tablets até computadores e TVs. No entanto, o uso excessivo de telas na infância, hábito aparentemente inofensivo, pode acarretar uma série de consequências negativas para a saúde e o desenvolvimento infantil.
O vício em telas tornou-se uma preocupação crescente para pais, educadores e profissionais de saúde, levantando questões sobre seus impactos e como mitigar seus efeitos nocivos. AnaMaria conversou com a psicanalista Andréa Ladislau, especialista em Psicopedagogia e Inclusão Digital, para entender por que o uso excessivo de telas prejudica as crianças e o que pode ser feito para enfrentar esse desafio crescente.
QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS RISCOS ASSOCIADOS AO USO EXCESSIVO DE TELAS NA INFÂNCIA?
O principais riscos do uso excessivo de telas para o desenvolvimento dos pequenos, são:
- Impacto na saúde mental: o tempo excessivo diante das telas pode contribuir para problemas como ansiedade, depressão e dificuldades de sono. Por isso, o equilíbrio é essencial para proteger a saúde mental dos nossos pequenos;
- Prejuízo na socialização: a interação face a face é necessária para o desenvolvimento sócio emocional. O uso constante de tecnologia pode comprometer a habilidade de se comunicar e criar vínculos interpessoais;
- Sedentarismo: a imersão em dispositivos eletrônicos pode levar a um estilo de vida sedentário, afetando a saúde física. Intercalar com atividades ao ar livre é uma boa alternativa para manter o equilíbrio entre o mundo virtual e o real.
COMO O ACESSO ILIMITADO A TELAS PODE IMPACTAR O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E EMOCIONAL DAS CRIANÇAS?
De acordo com Andréa, o uso excessivo de telas e dispositivos eletrônicos impacta diretamente na qualidade do sono e limita as interações sociais das crianças, bem como as atividades físicas — necessárias para um crescimento saudável e de qualidade.
“Além disso, podemos destacar a importância da interação social para estimular o gerenciamento das emoções. Crianças que interagem com outras crianças, e não só com telas, conseguem enfrentar com mais facilidade os desafios no desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais”, aponta.
QUAIS SÃO OS SINAIS DE QUE UMA CRIANÇA ESTÁ DESENVOLVENDO UM VÍCIO EM TELAS?
A intensidade, frequência e duração do tempo de utilização da tecnologia são fatores de identificação do uso excessivo de telas na infância. “A exposição intensa ao celular, substituindo brincadeiras lúdicas, ou mesmo os estudos e a dedicação às tarefas escolares, também são indícios”, indica Andréa.
“O fato da criança priorizar as telas acima dos interesses vitais, como: comer, dormir, descansar, higienizar, socializar, dentre outras rotinas cotidianas, também é uma constatação de que o vício em telas pode estar instaurado”, completa a especialista.
QUANTO TEMPO AS CRIANÇAS PODEM FICAR EM FRENTE ÀS TELAS?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) forneceu diretrizes e recomendações referentes ao tempo de tela recomendado para as crianças na primeira infância. A seguir, veja as recomendações do órgão:
CRIANÇAS MENORES DE 2 ANOS: RESTRIÇÃO TOTAL
- A OMS recomenda que crianças com menos de 2 anos não tenham acesso a telas eletrônicas;
- Os primeiros anos de vida são cruciais para o desenvolvimento cognitivo, emocional e físico, e a exposição a telas nessa fase pode ser prejudicial.
CRIANÇAS ENTRE 2 E 5 ANOS: UMA HORA DE TELA POR DIA
- Para crianças de 2 a 5 anos, a recomendação é uma exposição limitada de até uma hora por dia;
- Nessa faixa etária, é importante priorizar interações sociais, atividades físicas e brincadeiras para estimular o desenvolvimento.
CRIANÇAS ENTRE 6 E 10 ANOS: ATÉ DUAS HORAS DE TELA POR DIA
- Para crianças de 6 a 10 anos, a OMS permite um aumento no tempo de tel: até duas horas por dia;
- É essencial equilibrar o tempo de tela com outras atividades, como atividades ao ar livre, leitura e interações sociais, para promover um desenvolvimento saudável.
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) também emitiu um manual de orientação referente ao uso de telas, pensando na saúde de crianças e adolescentes na era digital. Acesse o documento aqui.
QUAIS OUTRAS MEDIDAS OS PAIS PODEM TOMAR PARA GARANTIR O USO SAUDÁVEL DE TELAS?
Além das restrições de tempo recomendadas pela OMS, de acordo com Andréa, os pais devem:
- Substituir o uso de dispositivos tecnológicos por atenção, acolhimento e tempo de qualidade;
- Estabelecer regras claras e proibir o uso de celulares em escolas, além de limitar seu uso no cotidiano;
- Desencorajar o uso de tecnologia para crianças menores de 5 anos;
- Priorizar atividades lúdicas e brincadeiras que promovam a interação familiar e com outras crianças;
- Proibir o uso de telas uma hora antes de dormir.
- Restringir o uso de telas durante as refeições, estudos e atividades físicas;
- Incentivar outras formas de entretenimento, como brincadeiras, jogos, leituras, artes e esportes.
COMO AJUDAR UMA CRIANÇA A SUPERAR O VÍCIO EM TELAS?
Mostrar, por meio da comunicação aberta e transparente, os riscos do uso excessivo de telas na infância, sem utilizar do recurso de punições, é um ótimo caminho para ajudar as crianças que passam tempo demais em frente a dispositivos eletrônicos.
“O principal é criar as regras e disciplina, deixando claro o objetivo que está acima de qualquer represália, evidenciando que o que está em jogo é o bem-estar e a qualidade de vida da criança. Também é importante mostrar quais as consequências para a saúde física e mental de quem fica muito tempo ligado às telas”, explica Andréa.
A psicanalista ainda observa que o apoio está intimamente ligado ao acolhimento, a escuta ativa e a abordagem adequada, sem repressão, mas com ensinamento educacional. “Um trabalho muito delicado que requer paciência e cuidado, mas que fará a diferença no cotidiano e no desenvolvimento cognitivo e emocional da criança”, aponta.
O QUE FAZER PARA ACABAR COM O VÍCIO EM TELAS DE CRIANÇAS MAIORES?
Andréa lista algumas ações que podem ajudar os pais a controlarem o uso excessivo de telas das crianças maiores:
- Estabelecer conversas abertas e apoio mútuo para ouvir sem criar conflitos na comunicação;
- Aumentar a presença e participação ativa dos pais na vida da criança;
- Promover brincadeiras e passeios em família ou com amigos;
- Encorajar diálogos mais profundos e frequentes dentro da família;
- Estimular a interação entre crianças da mesma idade, sem a presença de dispositivos eletrônicos;
- Realizar passeios lúdicos e proporcionar maior contato com a natureza;
- Introduzir atividades físicas regulares na rotina da criança.
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