Os casos de ansiedade entre crianças brasileiras dispararam nos últimos dez anos. Dados do Ministério da Saúde mostram que, entre 2014 e 2024, os atendimentos por transtornos de ansiedade em crianças de 10 a 14 anos aumentaram quase 2.500% no SUS. Para especialistas, o dado reforça a urgência de cuidar da saúde mental infantil desde cedo, principalmente diante das mudanças no estilo de vida e da rotina familiar cada vez mais corrida.
Segundo a psicóloga Aline Silva, da plataforma de saúde mental Telavita, o excesso de estímulos e a falta de tempo de qualidade com os pais estão entre os fatores que mais prejudicam o equilíbrio emocional dos pequenos. Ela explica que a infância tem sido marcada por um ambiente de atenção fragmentada, no qual o brincar livre e as interações presenciais foram substituídos por atividades digitais.
Conexão emocional é mais importante que estímulos
Pesquisas apontam que 78% das crianças de 0 a 3 anos no Brasil têm contato diário com telas — número que sobe para 94% entre 4 e 6 anos, segundo o estudo “Panorama da Primeira Infância”, da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. Para Aline, quando as interações virtuais substituem o convívio presencial, há prejuízo no aprendizado emocional. “O desenvolvimento saudável acontece na troca, no olhar e no vínculo com o outro. Sem isso, surgem sentimentos de insegurança, irritação e dificuldade em lidar com frustrações”, explica.

O comportamento dos pais também tem papel determinante. Crianças tendem a reproduzir as atitudes que observam em casa. “Pais estressados, sempre conectados ou apressados, acabam transmitindo essa sensação de urgência. Já aqueles que demonstram calma e abertura para conversar ajudam os filhos a aprender sobre autorregulação emocional”, afirma a psicóloga.
Como reconhecer sinais de alerta
Mudanças repentinas de humor, irritabilidade, isolamento, insônia, perda de apetite e queda no desempenho escolar são alguns indícios de sofrimento emocional. Aline lembra que nem sempre a criança consegue expressar o que sente por meio de palavras — e muitas vezes o corpo se torna o canal de comunicação. “Quando esses sinais persistem por semanas, é importante buscar orientação profissional. A terapia é um espaço de cuidado, não de fraqueza, e pode ajudar toda a família a reorganizar emoções e rotinas”, destaca.
O papel dos pais no equilíbrio emocional
Diante de situações de estresse, como bullying ou dificuldades escolares, o acolhimento é o primeiro passo. Frases como “eu entendo que isso te deixou triste” têm efeito muito mais positivo do que tentativas imediatas de resolver o problema. O importante, segundo Aline, é que a criança sinta que pode contar com adultos que a escutam e validam seus sentimentos.
Além do diálogo aberto, a rotina estruturada é essencial para o bem-estar emocional. Dormir bem, manter uma alimentação equilibrada e praticar atividades físicas regularmente contribuem para regular o humor e fortalecer a autoestima. “O sono organiza as emoções, a boa alimentação mantém o equilíbrio químico e o movimento físico libera substâncias que reduzem o estresse”, explica a psicóloga.
Pequenos gestos que fazem diferença
Aline destaca que atitudes simples do dia a dia ajudam a fortalecer a confiança e a resiliência das crianças. Elogiar o esforço, permitir pequenas decisões, incentivar a criatividade e reservar tempo de afeto são formas de criar um ambiente emocionalmente seguro. “Afeto, presença e escuta ativa são os pilares do desenvolvimento emocional. É isso que prepara as crianças para lidar com os desafios da vida com mais segurança e empatia”, conclui.
Resumo:
O aumento dos casos de ansiedade infantil no Brasil reforça a importância da presença emocional dos pais. O equilíbrio entre o uso das telas e o convívio real, somado ao afeto, à rotina organizada e ao exemplo dos cuidadores, é essencial para proteger a saúde mental das crianças.
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