Vivemos em uma sociedade que valoriza estar sempre ocupado. Ser produtivo virou sinônimo de competência e valor pessoal. Porém, como alerta o psicólogo Lucas Freire, autor de Exaustos: Imaginando saídas para o cansaço diário, “Por trás dessa imagem de eficiência, há um esgotamento crescente que poucos reconhecem, e menos ainda ousam nomear”, disse Lucas Freire.
Fazer várias tarefas ao mesmo tempo pode parecer uma demonstração de habilidade, mas, na verdade, é prejudicial. Pesquisas em neurociência mostram que o cérebro não realiza multitarefa de fato: ele alterna rapidamente entre atividades, perdendo até 40% da eficiência. É como tentar ouvir várias músicas ao mesmo tempo: o resultado é apenas ruído, sem aproveitamento real.
Multitarefa e o preço do excesso
A pressão por resultados e prazos curtos nos transforma em máquinas. O descanso, o ócio e o silêncio passam a ser vistos como desperdício de tempo. Mesmo quando o corpo para, a mente continua em movimento, pulando de um pensamento a outro. A tecnologia, que deveria facilitar a vida, acaba intensificando essa dinâmica: estamos sempre conectados, disponíveis e distraídos.
Como consequência, surge o cansaço permanente. “Dormir não basta, relaxar parece impossível, e o tempo livre perde seu significado. Você acorda cansada, passa o dia cansada e dorme cansada, já pensando nas tarefas do dia seguinte”, afirma o autor.
O impacto na vida pessoal
A pressa não só desgasta, mas rouba a presença. “Você está com seu filho, mas pensando na reunião de amanhã. Está no jantar, mas checando e-mails. Está na cama, mas o cérebro já montou a agenda da semana que vem”, explica. Essa necessidade de estar sempre ocupada impede perceber o essencial: em que momento estamos realmente vivendo?

Descobrindo o play verdadeiro
Existe um conceito pouco explorado que pode mudar essa rotina: o play. Não se trata de jogos ou entretenimento passivo, mas de um estado biopsicossocial que envolve corpo, mente e relações, tirando você do modo sobrevivência e colocando no modo viver.
Lucas Freire questiona: “Quando foi a última vez que você fez algo completamente inútil? Algo que não fosse para render post, melhorar currículo, queimar calorias ou aumentar produtividade?”. É nesse espaço de ócio intencional que se encontra o antídoto para o cansaço.
Apesar de estarmos cercados de entretenimento — séries, TikTok, jogos —, isso não é play genuíno. Trata-se de consumo passivo que mantém sua atenção ocupada sem renovar energia. A verdadeira pausa exige desacelerar, concentrar-se em uma única atividade e permitir-se o tédio.
Desligar o celular por algumas horas ou simplesmente não fazer nada pode parecer simples, mas exige resistência contra uma cultura que glorifica o excesso e mede valor pelo quanto aguentamos.
Encontrando equilíbrio e presença
A eficiência real não está em fazer mais, mas em escolher onde investir atenção. O cérebro precisa alternar entre foco intenso e recuperação, entre trabalho e momentos de ócio, entre fazer e ser. Reconhecer isso é essencial para não se perder na correria diária.
Talvez a solução não seja produzir sem parar, mas reencontrar o ritmo natural da vida, onde o tempo se torna aliado, e não inimigo. Assim, é possível existir com mais clareza, leveza e presença. Afinal, quanto mais tentamos dar conta de tudo, mais esquecemos de dar conta de nós mesmas.
Resumo: A busca por produtividade constante pode gerar exaustão física e mental. Alternar entre foco e momentos de ócio, escolher tarefas com atenção plena e permitir pausas são formas de desacelerar e viver com mais presença, segundo Lucas Freire.
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