Festas, troca de votos e muita treta: esses são alguns dos ingredientes do BBB 24. Por outro lado, o reality show também é palco de conversas importantes: Os participantes trocam experiências, vivências e expõem dores e fragilidades. Muitas vezes, por causa de traumas da infância.
Davi afirmou que apanhava do pai, que o criou ‘para ser homem’. Fernanda já expôs o difícil relacionamento com genitores quando criança, e o abandono do companheiro. Alane demonstrou episódios de crises de ansiedade severas em algumas oportunidades – em uma delas, desmaiou.
“Faz pouco tempo que minha mãe passou a dizer ‘te amo“‘, revelou Giovanna Pitel. O mesmo aconteceu com MC Bin Laden , que disse que a primeira vez que ouviu ‘eu te amo’ foi com 19 anos, quando foi adotado.
À AnaMaria, a biomédica Telma Abrahão, especialista em educação neuroconsciente, explica os impactos de alguns traumas da infância: “A rejeição, especialmente na infância, é algo que impacta profundamente a forma como o indivíduo olha para si e para o mundo”.
COMO OS TRAUMAS DA INFÂNCIA AFETAM A VIDA ADULTA?
A especialista alerta que os eventos do período infantil de várias maneiras, incluindo:
- Dificuldades em formar relações íntimas saudáveis;
- Aumento do risco de desenvolver distúrbios mentais, como depressão e ansiedade;
- Maior probabilidade de adotar comportamentos de risco, como abuso de substâncias.
- Impactos na a capacidade de lidar com o estresse e regular emoções;
- Influência negativa na autoestima e a visão de mundo do indivíduo
Os efeitos das experiências negativas passadas são potencializados em situações de desconforto, como é o confinamento do BBB 24. A dinâmica reduz o espaço pessoal e a privacidade, intensificando as emoções, como o estresse e a pressão.
“O ambiente altamente controlado e a constante observação podem desencadear ou exacerbar questões emocionais preexistentes, levando a uma maior vulnerabilidade emocional e, possivelmente, a confrontos com traumas antigos”, explica.
O confinamento para o reality show é uma experiência plausível para uma minoria. No entanto, outros acontecimentos desencadeiam a intensificação desses sentimentos oriundos de traumas da infância.
Na vida real, há alguns exemplos:
- Relacionamentos íntimos;
- Estresse no trabalho;
- Perdas significativas;
Além deles, qualquer evento que reative memórias ou sentimentos relacionados, mesmo que indiretamente ao trauma original. Situações de abuso, negligência e violência são alguns dos eventos que podem desencadear reações traumáticas.
Por que os acontecimentos da infância são tão impactantes?
A primeira infância é o período em que o cérebro está em desenvolvimento. A época é um momento crítico para a formação do indivíduo, onde ocorre a formação das bases para a saúde mental futura, habilidades de aprendizado e capacidade de formar relações.
Para a especialista, o órgão está em “um estado altamente plástico” durante a fase, que abrange os primeiros seis anos de vida. Por isso, experiências, sejam elas positivas ou negativas, têm um impacto maior na estrutura e funcionamento do cérebro – consequentemente, na personalidade daquela pessoa.
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SINTOMAS DE TRAUMAS DA INFÂNCIA
- Ansiedade persistente;
- Depressão;
- Flashbacks;
- Pesadelos;
- Dificuldade em confiar em outras pessoas;
- Problemas de relacionamento;
- Comportamentos autodestrutivos;
- Sintomas físicos, como dor crônica sem causa médica aparente.
“Esses sintomas podem variar amplamente e nem sempre são imediatamente reconhecidos como relacionados a traumas passados”, alerta Telma, que também explica como entender se determinadas atitudes são fruto de traumas da infância.
Para a biomédica, entender as próprias atitudes pode ser um processo de autoconhecimento e reflexão. Mas há alguns indicativos: padrões de comportamento, reações emocionais exageradas a situações específicas, ou dificuldades persistentes em relacionamentos.
Como lidar ou superar esses traumas?
O primeiro passo para superar acontecimentos antigos é compreender e ressignificar a própria história de vida. O objetivo da atitude é olhar para as experiências vividas com desejo de mudar alguns dos padrões negativos.
“Como crianças não somos responsáveis pelo que nos aconteceu, mas como adultos é nosso papel mudar aquilo que julgamos importante para conquistar relações emocionalmente saudáveis e harmonia ao longo da vida”, avalia.
O processo para superar os traumas da infância envolve uma série de atividades. Entre elas, a terapia psicológica, a reeducação emocional, feita com a terapia cognitivo-comportamental e o apoio de amigos e familiares.
Além disso, a busca de relacionamentos interpessoais que trazem segurança e bem-estar, ao invés de medo, angústia e outros padrões negativos da infância.
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COMO EVITAR A CRIAÇÃO DE TRAUMAS EM CRIANÇAS?
Para Telma, é improvável que alguém passe da infância sem traumas. No entanto, o papel dos responsáveis é minimizar os danos. Para isso, há alguns cuidados a serem tomados na criação dos pequenos.
Os tutores, sejam eles os pais ou outros, devem promover afeto, segurança física e emocional e ensinar habilidades de regulação emocional. É fundamental evitar comportamentos abusivos ou negligentes, além de oferecer apoio emocional e psicológico.
“Educar não é sobre ferir, é sobre aprender a se relacionar, primeiramente consigo e depois com o outro. É sobre aprender a colocar limites sim, mas com respeito! É se dar a educação emocional que não recebeu para sair do caos e poder educar sem tapas, gritos e castigos. Sem ferir emocionalmente e fisicamente. A infância é a base da vida e não tem replay. Precisamos quebrar o ciclo da dor e aprender a fazer diferente”, finaliza a especialista.
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