Com o aumento da expectativa de vida, cresce também a convivência com condições típicas do envelhecimento. Uma delas é a perda auditiva, que já figura entre as principais causas de incapacidade no mundo, atrás apenas das doenças cardiovasculares e da artrite.
Ou seja: viver mais é uma ótima notícia, mas exige atenção à saúde auditiva fundamental para a comunicação, a autonomia e até a memória.
A chamada presbiacusia é a perda auditiva progressiva que ocorre naturalmente com a idade. Afeta ambos os ouvidos e costuma começar por volta dos 50 ou 60 anos, atingindo principalmente os sons mais agudos. Estima-se que metade das pessoas acima de 70 anos tenha algum grau de perda auditiva significativa o que pode comprometer o entendimento das palavras e dificultar a participação em conversas do dia a dia.
Os primeiros sinais são sutis, mas perceptíveis: o famoso “hein?” nas conversas, indicando dificuldade para ouvir, e a sensação de ouvir, mas não compreender totalmente o que foi dito. Isso ocorre porque o ouvido não serve apenas para captar sons ele também ajuda o cérebro a distinguir e interpretar as palavras. Quando essa função se altera, a comunicação se torna confusa e cansativa.
Embora o envelhecimento seja o principal fator, há outros que podem acelerar ou agravar a perda auditiva: medicamentos ototóxicos (como alguns antibióticos e drogas usadas em quimioterapia), exposição frequente ao ruído (como trânsito, música alta, fones de ouvido e ambientes barulhentos), tabagismo, doenças crônicas (diabetes, hipertensão, colesterol alto) e fatores genéticos.
A principal forma de tratamento é o uso de aparelhos auditivos, que devem ser indicados para ambos os ouvidos, assim como os óculos equilibram a visão dos dois olhos, os aparelhos equilibram a audição e estimulam o cérebro de forma simétrica. Controlar doenças associadas e manter hábitos saudáveis também ajuda a preservar a audição.
Ignorar o problema vai além do incômodo: pode causar isolamento social, sintomas depressivos e aumento do risco de demência. Um estudo recente publicado no JAMA Otolaryngology – Head & Neck Surgery (2025) acompanhou 3 mil adultos entre 66 e 90 anos, por oito anos, e concluiu que até 32% dos casos de demência poderiam estar ligados à perda auditiva detectada em exames. Mesmo perdas leves mostraram associação com risco cognitivo reforçando que vale a pena cuidar da audição desde os primeiros sinais.
Tratar a audição não é apenas ouvir melhor é proteger a memória, a mente e a qualidade de vida.
Se você (ou alguém da sua família) tem apresentado dificuldade para ouvir, procure avaliação médica. O diagnóstico precoce e o uso de aparelhos auditivos podem preservar a comunicação, a autonomia e o bem-estar.
Cuidar da audição é cuidar do cérebro e da vida em todas as idades.