A volta ao trabalho após o tratamento de câncer de mama representa um marco de superação, mas traz uma série de desafios físicos, emocionais e sociais que exigem atenção. O retorno à rotina profissional marca o fim de uma etapa difícil, mas o corpo e a mente ainda passam por adaptações que pedem cuidado.
Segundo o Ministério da Saúde, o câncer de mama é o tipo mais frequente entre mulheres no mundo, com 2,3 milhões de novos diagnósticos em 2020. No Brasil, a projeção para 2025 é de mais de 73 mil novos casos, o que reforça a importância de políticas de acolhimento no ambiente de trabalho e acompanhamento especializado para quem retoma suas atividades após o tratamento.
Cuidar do corpo é essencial
De acordo com Roberto Filho, médico da área de Clínica Médica do AmorSaúde, rede parceira do Cartão de TODOS, o retorno ao trabalho deve acontecer de forma gradual, respeitando o ritmo da recuperação. “A paciente deve manter acompanhamento com seu oncologista e realizar fisioterapia ou exercícios leves para prevenir linfedema, melhorar a força muscular e preservar a mobilidade do braço”, explica.
A alimentação também é parte fundamental dessa fase. “Manter uma dieta equilibrada, com frutas, vegetais e proteínas magras, ajuda na recuperação, assim como a hidratação adequada. É importante evitar esforços excessivos e fazer pausas ao longo do expediente”, orienta o médico.
Ele lembra que o tempo de retorno depende de cada caso, variando conforme o tipo de tratamento, o estado geral de saúde e possíveis sequelas físicas ou cognitivas. Em alguns casos, a empresa pode precisar adaptar a função ou ajustar o ritmo de trabalho.
Evitando complicações
Segundo o médico, a prevenção de recaídas ou complicações passa por cuidados diários. “É fundamental seguir o tratamento hormonal, quando indicado, controlar o peso e manter hábitos saudáveis, como evitar o tabaco e o sedentarismo”, diz.
No ambiente profissional, pequenas mudanças podem fazer diferença: ajustar a ergonomia da estação de trabalho, reduzir tarefas físicas intensas e adotar pausas regulares. Além disso, manter uma rotina de sono equilibrada e praticar atividade física moderada ajuda a reduzir o risco de recidiva tumoral.
Desafios cognitivos e emocionais
O tratamento oncológico pode causar fadiga, lapsos de memória e dificuldade de concentração, efeitos conhecidos como “chemobrain”. Roberto explica que essas alterações podem afetar o desempenho no trabalho e exigem estratégias de adaptação. “Dividir as tarefas em partes menores, priorizar as atividades mais complexas nos horários de maior energia e fazer pausas programadas são medidas que ajudam muito”, explica.
Ele ressalta também a importância do cuidado emocional. “Exercícios físicos, técnicas de relaxamento e higiene do sono são aliados na recuperação. Quando necessário, o acompanhamento com psicólogo ou neurologista deve ser considerado”, destaca.
Entre os sinais de alerta para sobrecarga física ou mental estão cansaço constante, dor, inchaço no braço afetado, dificuldade para executar tarefas simples, irritabilidade, ansiedade e insônia. “Reconhecer os limites é parte do tratamento. Ignorá-los pode atrasar a recuperação”, afirma.
O papel das empresas no acolhimento
Para Rennan Vilar, diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional, o apoio das lideranças e do time é determinante nesse processo. “A volta ao trabalho exige empatia e escuta ativa. Cada colaboradora tem um ritmo diferente de readaptação, e compreender isso é um ato de humanidade”, diz.
Ele reforça que práticas como flexibilização de jornada, programas de saúde emocional e mentorias internas ajudam a equilibrar produtividade e bem-estar. “Quando a empresa cria um ambiente de acolhimento, ela contribui para a recuperação da colaboradora e fortalece a cultura organizacional”, complementa.
O executivo também destaca o papel dos colegas. “O apoio do time faz diferença. Nenhum tratamento é enfrentado sozinho, e o retorno não deveria ser. Quando a colaboradora se sente acolhida, o recomeço se torna mais leve e seguro”, orienta.
Três passos para um retorno mais tranquilo
- Converse com o empregador: mantenha diálogo aberto sobre necessidades e possíveis ajustes no ambiente de trabalho.
- Planeje o retorno: combine com colegas e líderes como se sente mais confortável para recomeçar.
- Busque apoio: mantenha contato com pessoas de confiança e, se necessário, procure suporte psicológico.
Resumo:
Retomar o trabalho após o câncer de mama exige cuidado físico, psicológico e suporte das empresas. Especialistas ressaltam a importância de fisioterapia, alimentação saudável, acompanhamento médico e empatia no ambiente corporativo. Políticas de acolhimento e flexibilidade tornam o retorno mais humano e contribuem para a recuperação integral.
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