Se você tem filhos pequenos, certamente já vivenciou ou está se preparando para inventar alguma arte nos próximos dias, para a Semana Maluca nas escolas. Criada para ser uma forma divertida de celebrar a data das crianças ou o fim do ano letivo, o que era para ser uma ideia divertida, se tornou um pesadelo para os pais e, muitas vezes, motivo de ansiedade para as crianças.
Maria Eduarda Schwab, mãe de Vírginia, de cinco anos, conta que, nesse período, a menina chega a perder o sono de tão empolgada que fica para vestir as fantasias. “Eu tento conversar sobre a importância de ter paciência e saber esperar, mas é inútil”, diverte-se. E continua: “Embora seja bastante estressante tentar aprender as técnicas e ideias que aparecem na internet para vestir a minha filha a cada dia de forma diferente, eu acho que é uma época importante, pois as crianças desenvolvem habilidades sociais e emocionais. Como mãe, posso dizer que é uma loucura para a maioria de nós, especialmente quando trabalhamos fora. Mas acaba compensando pela memória que minha filha guardará desses dias”, desabafa.
Já Jéssica Silva Dos Santos, mãe de Ísis, de dois anos e cinco meses, diz que como a filha ainda é pequena, ela evita tocar no assunto com muita antecedência para que não haja tanta ansiedade. “Prefiro contar um dia antes, de forma lúdica, que no dia seguinte vai ter uma festa na escola e que ela poderá ir de fantasia, com penteado diferente… Assim, ela cria expectativa sem ficar ansiosa. Já percebi que, se conto algo com muita antecedência, ela fica muito agitada. Mas incentivo a participação porque acho importante essa conexão com o que está acontecendo na escola, a interação com as outras crianças e a inclusão em tudo, desde que ela fique confortável”, pontua.
O fato é: não tem escapatória: entre a rotina de trabalho, a correria do fim de ano e a busca por roupas e acessórios criativos que combinem com o tema do dia, o período pode se transformar em um verdadeiro teste de paciência. Nas redes sociais, inclusive, é comum ver desabafos e memes sobre o assunto, que mobiliza famílias inteiras e transforma a logística escolar em uma maratona diária.
Mais que uma brincadeira
Inicialmente, vista apenas como uma brincadeira entre as crianças, a Semana Maluca é entendida por alguns profissionais como uma oportunidade de expressão individual, socialização e pertencimento.
Daniela Gamboa Pianez, psicóloga e fundadora da Clínica Humanizzare, explica que quando a criança participa ativamente, seja vestindo uma roupa engraçada, penteando o cabelo de uma forma diferente ou levando um objeto inusitado, ela está se permitindo experimentar o “ser diferente” em um ambiente seguro e acolhedor, e isso fortalece a autoestima, estimula a criatividade e amplia as habilidades sociais, já que ela compartilha risos, olhares e conversas com os colegas de forma mais leve. “É uma pausa lúdica na rotina escolar que, quando bem conduzida, promove vínculos e memórias afetivas para a vida inteira”, diz.
Para Micheli Marinho, psicóloga da Clínica MedViana, explica que por trás das roupas engraçadas e penteados criativos, existem lições valiosas sobre autoestima, pertencimento e controle emocional. “É muito mais do que uma sequência de fantasias, é uma oportunidade de expressão e conexão. Na Psicologia Positiva, entendemos que experiências lúdicas e cheias de emoção fortalecem o bem-estar, estimulam a criatividade e ampliam a capacidade da criança de se conectar com o outro. Já na TCC, essa vivência ajuda na flexibilidade cognitiva, na capacidade de experimentar o novo, lidar com a exposição e se adaptar sem medo do julgamento. Colocando de forma prática: uma criança tímida pode, ao usar um penteado engraçado, sentir-se mais à vontade para interagir com os colegas; outras aprendem que cada um tem um estilo e que o diferente também é bonito. Participar mostra que o importante é estar junto e não ser o mais criativo ou o mais bonito. Essas pequenas vivências constroem segurança emocional e fortalecem o senso de pertencimento, base de qualquer relação saudável”, analisa.
É preciso lembrar, porém, que embora existam pontos positivos na “brincadeira”, como estímulo à criatividade, socialização, diversão coletiva, desenvolvimento da imaginação e fortalecimento da relação escola-família, nem tudo é perfeito. “O contraponto vem quando a brincadeira vira competição, seja entre as crianças ou, muitas vezes, entre os próprios adultos. Quando o foco deixa de ser a diversão e passa a ser somente a “melhor fantasia”, ou o melhor “penteado”, a brincadeira perde seu propósito e pode gerar ansiedade, frustração ou até exclusão social”, avalia Pianez. A psicoterapeuta Daniele Caetano acrescenta, ainda, que a criança pode se sentir menos criativa ou “menos legal” se não tiver uma fantasia tão elaborada quanto a do colega. “Por isso, é importante que os adultos reforcem o valor da brincadeira e da participação, não do “melhor cabelo maluco”. A ideia é viver a experiência, não disputar”, determina.
Mas atenção: mesmo a Semana Maluca sendo divertida e um turbilhão de emoções para os pequenos, é preciso lembrar que tudo é muito intenso, inclusive o cansaço. Então, os pais devem ajudar a criança a aproveitar, mas também a desacelerar. “É importante manter pequenas rotinas: garantir boas horas de sono, alimentação equilibrada e momentos de pausa em casa, sem excesso de estímulos. Isso ajuda o corpo e a mente a não ficarem sobrecarregados. E, depois que tudo passar, vale acolher o retorno com leveza: conversar sobre o que mais gostaram, relembrar os momentos divertidos e, aos poucos, retomar os horários normais. Assim, a criança entende que é possível viver algo intenso e, depois, voltar à rotina de forma tranquila e segura”, conclui Daniele, que também é mãe de duas meninas, Maria Eduarda, de 11 anos, e Rebeca, de cinco.
Dicas malucas
A gente sabe que nem sempre é fácil encontrar tantas ideias para tantos dias malucos. A seguir, Luciana do Rocio Mallon, especialista em Vesteterapia, dá algumas dicas para gastar pouco nesses dias.
Cabelo Maluco:
– Medusa: Vá a uma loja de brinquedos e compre miniaturas de cobras, que custam menos de cinco reais cada. Depois, coloque gel na parte de cima da cabeça e encaixe as cobras;
– Cientista Maluco: Arrepie o cabelo para cima e depois coloque spray imitando os penteados dos cientistas malucos de filmes;
– Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo: Pegue um gorro e costure ou cole fitas coloridas de cetim, ou fitas de retalhos coloridos, ou fios de lã finos coloridos nesse gorro. Assim surge o cabeço da boneca Emília.
– Cabelo colorido: Nas lojas de cosméticos, existem sprays coloridos, que a cor sai com um simples banho. Esses sprays saem por menos de 30 reais cada lata;
– Tiara de Bicho: Em lojas populares, existem tiaras com orelhas de animais como unicórnio, gato, abelha e coelho.
Roupa Maluca:
– Jaleco antigo: Sabe aquele jaleco antigo do vovô ou do papai abandonados no armário? É hora de tirar, lavar e fazer uma fantasia de cientista maluco combinando com o cabelo do cientista;
– Chucky: Sabe aquele macacão ou jardineira esquecidos no guarda-roupa? Sabe aquela blusa listada no fundo do armário? A combinação do macacão com a jardineira formam uma fantasia divertida do Chucky;
– Bruxa, Wandinha ou Mortícia: Sabe aquele vestido preto abandonado no armário? Ele forma uma linda fantasia de bruxa, Wandinha ou Mortícia dependendo do penteado ou acessório da cabeça que a pessoa escolher;
– Camponesa Medieval: Sabe aquele vestido florido no fundo do guarda-roupa e aquele lenço da vovó? Juntos, eles formam uma linda fantasia de camponesa medieval;
– Camisa-de-força: Já que o nome do evento é Semana Maluca, podemos fazer uma camisa-de-força com uma blusa de manga comprida tamanho adulto grande, basta vestir na criança e colocar os braços para trás;
– Irmãos Metralha: Pegue uma blusa listrada em preto-e-branco e faça uma máscara com cartolina preta que a fantasia já está pronta.
Direto ao Ponto
A seguir, Daniela Gamboa Pianez, Micheli Marinho e Daniele Caetano falam um pouco mais sobre como enfrentar esses dias de Semana Maluca.
Aventuras Maternas – Para crianças que os pais acabam não tendo tempo para participar ativamente, inventando cabelos, mochilas etc, como devem explicar para os filhos que outros colegas, provavelmente, terão fantasias mais elaboradas, mas que isso não significa que não tenham se dedicado para ajudar os filhos?
Daniela Gamboa Pianez – Essa é uma conversa importante que e precisa ser feita com muita empatia e verdade. Porque nem todo gesto de amor é visível, e é essencial ensinar isso desde cedo. Os pais que não conseguem participar além,pois o amor não se mede pelo visual ou por qualquer outa coisa palpavel, mas pela intenção do coracãoche preparado com carinho, no beijo antes de sair, no esforço silencioso para garantir que nada lhes falte. Uma boa conversa pode ser assim: “Tem famílias que conseguem fazer penteados incríveis, outras compram fantasias além,pois o amor não se mede pelo visual ou por qualquer outa coisa palpavel, mas pela intenção do coracãoara você. E isso também é muito especial.” Mais do que a aparência, a criança precisa sentir que foi vista, ouvida e considerada. A autenticidade é um presente muito mais valioso do que qualquer produção elaborada, e ela ensina algo que vai muito além: que o amor não se mede pelo visual, nem por nada palpável, mas pela intenção sincera do coração.
Micheli Marinho – Esse é um momento valioso para ensinar sobre valores e significado emocional. A Psicologia Positiva mostra que o afeto não está na forma, mas na intenção. Já a TCC ajuda a reformular pensamentos de comparação, mostrando à criança que “ser diferente” não significa “ser menos”. Na prática diga com sinceridade: “Eu sei que você queria uma fantasia mais elaborada, mas o que importa é que estamos juntos e participando. O amor não está na roupa, está no tempo que passamos pensando nisso.” Envolver a criança no processo: “O que podemos criar juntos com o que temos em casa?” Isso devolve a ela o senso de participação e pertencimento. Mostrar que a simplicidade também tem valor: um acessório colorido, um desenho feito à mão ou até um penteado divertido podem ter mais significado do que algo comprado. Essas experiências fortalecem a autenticidade e a autoaceitação, duas virtudes essenciais da Psicologia Positiva.
Daniele Caetano – Essa conversa pode ser muito simples e sincera. Os pais podem dizer algo como: “Nem sempre a gente consegue preparar tudo do jeito que gostaria, mas o importante é que você participe e se divirta”. O foco é ensinar que o amor e o cuidado estão na presença, no diálogo, e não no nível de produção do visual.
Aventuras Maternas – A Semana Maluca é cheia de estímulos, novidades e expectativas. Como os pais podem ajudar os filhos a lidarem melhor com a intensidade dessa semana e com o retorno à rotina depois dela?
Daniela Gamboa Pianez – A semana é intensa mesmo! A troca de roupas, os sons, as risadas, as mudanças de rotina… tudo isso é um combo de estímulos emocionais e sensoriais. Os pais podem ajudar mantendo alguns pontos de ancoragem na rotina, como os horários das refeições, o momento de dormir ou um ritual de relaxamento à noite. Também é importante conversar com a criança antes de cada dia maluco, explicando o que vai acontecer e validando qualquer sentimento: “Se você ficar cansado, está tudo bem. Se não quiser participar de algo, também está tudo bem.” E, ao final da semana, vale muito reforçar a volta à rotina com leveza, deixando um dia livre para o descanso, por exemplo o sábado ou domingo, retomar os combinados com calma e dar à criança espaço para contar o que mais gostou. Essas transições suaves fazem toda a diferença no bem-estar emocional infantil.
Micheli Marinho – A semana é intensa e isso pode gerar cansaço físico e emocional. Por isso é importante trabalhar o equilíbrio entre estímulo e pausa, ajudando a criança a identificar o que sente e encontrar formas saudáveis de se regular. O encerramento da semana pode ser transformado em um momento de gratidão e reflexão. Durante a semana: mantenha rituais previsíveis: horários de sono, alimentação e momentos de pausa. Valide as emoções: “Eu vejo o quanto você está animado, mas também cansado. Vamos descansar um pouco agora para aproveitar mais depois?” Depois da semana: incentive a criança a falar sobre o que mais gostou e o que aprendeu. Pode ser desenhando, escrevendo ou montando um mural com fotos e lembranças. Para retomar a rotina, planeje algo leve e prazeroso, como um lanche especial ou um filme em família. Isso sinaliza que o fim da festa também pode ser um momento bom. Essas ações simples ajudam a criança a compreender que a vida é feita de ciclos: momentos de euforia e momentos de pausa e que ambos são importantes para o bem-estar tanto físico quanto emocional. Criar um ambiente emocionalmente saudável não exige perfeição, exige presença, escuta e conexão. A Semana Maluca pode ser uma festa para os olhos, mas, acima de tudo, é uma oportunidade para ensinar valores que ficam: respeito, autenticidade e pertencimento. Pais presentes emocionalmente constroem filhos mais seguros e confiantes. Mesmo nos pequenos gestos, vocês estão ajudando seus filhos a construir a base do seu bem-estar para a vida inteira.
Brincar pode, mas com cuidado
Mais do que uma brincadeira, o Dia do Cabelo Maluco se tornou tradição. Mas apesar da diversão com os diferentes penteados, é precioso atenção para que nenhum acidente aconteça.
A seguir, a Popper, empresa de artigos para festas que tem o selo de clinicamente testado, reuniu quatro pontos importantes que garantem um visual cheio de cor e estilo, sem abrir mão dos cuidados com as crianças:
– Prefira produtos de fácil aplicação: Na correria do dia a dia, quanto mais prática for a aplicação, melhor. Sprays que tenham jato uniforme e sem levantar pó, além de serem sensíveis ao toque, facilitam a produção do penteado, reduzem o tempo de manuseio e garantem um acabamento bonito e homogêneo;
– Fique atento à segurança da pele e dos olhos: A pele e os olhos das crianças são mais sensíveis, por isso é importante escolher produtos testados por dermatologistas, oftalmologistas e pediatras. Mesmo assim, a Popper recomenda proteger a região do rosto e evitar contato direto com olhos e boca durante a aplicação;
– Escolha produtos de secagem rápida: Produtos que secam rapidamente ajudam a manter o penteado intacto, sem manchas nas roupas ou escorrimento de tinta no rosto. As versões líquidas costumam transferir menos, garantindo mais conforto e segurança para a brincadeira e evitando marcas indesejadas em sofás e bancos de carro;
– Não deixe resíduos na pele, cabelos e roupas: Após o evento, a remoção deve ser fácil, sem necessidade de substâncias agressivas. O ideal é escolher tintas que saem apenas com água e shampoo, preservando o couro cabeludo, a pele e evitando resquícios de tinta pela casa.