O câncer de mama continua sendo o tipo mais incidente entre mulheres no Brasil, representando cerca de 30% dos novos diagnósticos todos os anos, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Além dos impactos físicos, o tratamento da doença, especialmente quando envolve a mastectomia, a retirada total ou parcial da mama, traz profundas consequências emocionais.
A reconstrução mamária tem papel que vai muito além da estética: é uma etapa essencial no processo de reabilitação, resgate da autoestima e retomada da identidade feminina.
A reconstrução como parte da cura
O cirurgião plástico Marcelo Moreira, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (TSBCP) e da American Society of Plastic Surgeons (ASPS), atua no corpo clínico do INCA e acompanha diariamente mulheres em diferentes fases do tratamento oncológico. “A reconstrução mamária, quando indicada, é um momento de transformação, não apenas física, mas emocional. Ela devolve autoestima, feminilidade e a sensação de inteireza”, explica.
O especialista destaca que, para muitas pacientes, a possibilidade de reconstruir a mama representa um recomeço. “Muitas chegam cheias de dúvidas e inseguranças sobre como será se olhar no espelho depois da mastectomia. A reconstrução, quando possível, ajuda a responder a essa pergunta com esperança. É um momento de ressignificação”, diz.
Técnica aliada à humanização
De acordo com Marcelo, os avanços técnicos da cirurgia plástica trouxeram grandes resultados estéticos, mas a verdadeira transformação vem do cuidado integral. “A técnica por si só não basta. O que realmente faz diferença é o olhar humanizado de toda a equipe: médicos, enfermeiros, psicólogos e fisioterapeutas. Quando a paciente se sente acolhida, ouvida e respeitada, o impacto da cirurgia se torna ainda mais profundo”, diz.
Essa abordagem multidisciplinar tem sido cada vez mais valorizada em hospitais e centros especializados. Além da cirurgia, o processo inclui acompanhamento psicológico e fisioterápico, essenciais para o bem-estar físico e emocional.
Direitos garantidos por lei
Desde 1999, a Lei nº 9.797 garante às mulheres o direito à reconstrução mamária pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A cobertura inclui a simetrização da mama contralateral e a reconstrução da aréola. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também determina que os planos de saúde privados ofereçam o mesmo benefício.
Apesar da conquista, o acesso ainda é desigual. Muitas pacientes enfrentam filas de espera e falta de infraestrutura adequada em algumas regiões do país.
A reconstrução pode ser feita no mesmo momento da mastectomia (reconstrução imediata) ou em um segundo tempo (reconstrução tardia), de acordo com o quadro clínico e o tipo de tratamento indicado. A decisão deve ser tomada em conjunto entre paciente e equipe médica, respeitando o tempo físico e emocional de cada mulher.
Resumo:
A reconstrução mamária representa um marco na jornada de reabilitação das mulheres que enfrentam o câncer de mama. Garantida por lei, ela une técnica, acolhimento e humanização, devolvendo não apenas a forma física, mas a autoestima e a identidade à paciente.
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