Sete em cada dez brasileiros não fazem check-up regularmente, segundo o IBGE, e isso afeta também crianças e adolescentes. “Um exame aparentemente normal pode carregar indícios de risco futuro, por isso o acompanhamento deve começar ainda na infância”, afirma a endocrinologista e metabologista Elaine Dias JK, doutora pela USP. Ela explica que exames preventivos identificam alterações silenciosas e ajudam a reduzir complicações graves no futuro.
Câncer colorretal e obesidade infantil
O câncer colorretal é um exemplo de como fatores de risco surgem cedo. A American Cancer Society mostra que 13% dos diagnósticos ocorrem em pessoas com menos de 50 anos, um aumento de 9% desde 2020.
Já a Gastroenterology Journal apontou em 2022 que a obesidade, inclusive a infantil, pode dobrar a probabilidade de desenvolver a doença precocemente. “Famílias com histórico precisam considerar exames antes da fase adulta. Hoje já existe a colonoscopia virtual, que é rápida, menos invasiva e pode ser feita em jovens”, explica Elaine.
Rins, coração e alergias sob vigilância
Histórico familiar de doenças renais exige consultas em nefrologia pediátrica. Exames simples de urina identificam infecções ou proteínas anormais que comprometem o desenvolvimento renal.
No caso do coração, crianças com obesidade, alimentação inadequada ou parentes com problemas cardíacos devem realizar perfil lipídico. “Alterações no colesterol infantil podem ser ajustadas com mudanças de estilo de vida, prevenindo doenças cardiovasculares futuras”, acrescenta a especialista.
Já os exames de fezes detectam verminoses comuns que prejudicam a absorção de nutrientes. Crianças com alergias podem se beneficiar de testes de IgE e cutâneos para identificar substâncias como leite, ovo, ácaros e pólen. “O diagnóstico correto evita crises respiratórias e melhora a qualidade de vida”, ressalta.
Frequência dos check-ups
A periodicidade dos exames depende da idade. Bebês fazem consultas mensais nos primeiros meses e trimestrais até os 2 anos. Dos 2 aos 5 anos, o recomendado é acompanhamento semestral, passando a anual após essa fase. “Qualquer sintoma ou histórico familiar altera essa rotina, e o pediatra avalia quando antecipar exames”, destaca Elaine.
Saúde mental e sexual na adolescência
Um em cada sete adolescentes no mundo sofre de transtornos mentais, segundo a OMS. Depressão e ansiedade estão entre as mais comuns, o que torna essencial o acompanhamento psicológico nessa fase. Também cresce o número de casos de ISTs, como sífilis e clamídia, entre jovens. Dependendo dos fatores de risco, o rastreamento pode ser necessário.
Fatores de risco desde a gestação
Prematuridade, baixo peso ao nascer, icterícia grave e infecções gestacionais são alguns dos fatores que aumentam a chance de problemas no desenvolvimento. O Ministério da Saúde mantém a Caderneta da Criança, que traz marcos motores, cognitivos e de linguagem até os seis anos e orienta pais e profissionais sobre sinais de alerta.
A detecção precoce de síndromes genéticas também faz diferença. Crianças com síndrome de Down, por exemplo, têm melhor qualidade de vida quando a estimulação é iniciada logo nos primeiros dias.
Para não errar:
- Bebês (0 a 6 meses)
• Consultas mensais com pediatra
• Acompanhamento de peso, altura, perímetro cefálico e vacinação - 6 meses a 2 anos
• Consultas trimestrais
• Monitoramento de crescimento e nutrição
• Exames de fezes (verminoses) quando indicado - 2 a 5 anos
• Consultas semestrais
• Perfil lipídico (colesterol total, HDL, LDL, triglicerídeos) em crianças com histórico familiar de doenças cardíacas ou obesidade
• Exames de urina para detecção de infecções urinárias e alterações renais - A partir dos 5 anos
• Consultas anuais em crianças saudáveis
• Testes alérgicos (IgE ou cutâneos) em casos de suspeita de alergias respiratórias ou alimentares
• Avaliação de crescimento e desenvolvimento com base na Caderneta da Criança - Adolescentes (10 a 19 anos)
• Consultas anuais com avaliação clínica completa
• Perfil lipídico e exames de glicemia em jovens com fatores de risco
• Acompanhamento psicológico, diante de sinais de ansiedade ou depressão
• Rastreamento de ISTs em situações de risco ou orientação médica - Casos especiais (todas as idades)
• Colonoscopia virtual para famílias com histórico de câncer colorretal
• Avaliações adicionais em crianças prematuras, com baixo peso ao nascer ou com doenças genéticas identificadas precocemente
Resumo:
Consultas e exames preventivos na infância ajudam a detectar doenças silenciosas e permitem intervenções precoces. Dados do IBGE mostram que 70,6% dos brasileiros não fazem check-up, mas especialistas reforçam que, quanto mais cedo o cuidado começa, maiores as chances de garantir adultos saudáveis no futuro.