Na última sexta-feira, dia 26 de setembro foi lembrado o Dia Nacional do Surdo, uma data que nos convida a refletir sobre a importância da saúde auditiva e a prevenção da perda de audição. Como médico otorrinolaringologista eu tenho dever de falar sobre isso com vocês já que percebo diariamente como esse tema ainda é subestimado, mesmo sendo um problema que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
A perda auditiva pode acontecer de forma gradual ou até súbita, e justamente por ser silenciosa, muitas vezes só é percebida quando já compromete de maneira significativa a qualidade de vida. Os principais fatores de risco incluem a exposição prolongada a sons altos, infecções de ouvido repetitivas e o envelhecimento natural.
Nos últimos anos, tenho observado um aumento preocupante de casos entre jovens. O uso frequente de fones de ouvido em volumes excessivos é hoje uma das principais causas de perda auditiva nessa faixa etária. Em ambientes barulhentos, como ônibus, metrôs ou ruas movimentadas, é comum ver pessoas aumentando ainda mais o volume para “abafar” o ruído externo. O problema é que essa prática acelera os danos ao ouvido interno.
Um dado importante: sons acima de 85 decibéis provocam danos
A exposição contínua a sons acima de 85 decibéis já é suficiente para provocar lesões temporárias ou permanentes. Isso acontece porque o som intenso danifica as células ciliadas da cóclea — estruturas sensíveis que transformam as ondas sonoras em impulsos nervosos para o cérebro. O detalhe mais sério: uma vez lesionadas, essas células não se regeneram.
Algumas orientações práticas
- Mantenha o volume dos fones em até 60% da capacidade total e faça pausas a cada hora de uso.
- Em shows, casas noturnas ou ambientes de trabalho muito barulhentos, utilize protetores auriculares.
- Realize check-ups auditivos regularmente, especialmente a partir dos 50 anos ou se você trabalha exposta a ruídos intensos.
É importante lembrar que sempre existem soluções quando a perda auditiva já foi instalada. Em alguns casos, aparelhos auditivos devolvem a qualidade de vida de forma surpreendente. Em situações mais graves, cirurgias ou implantes cocleares podem ser recomendados.
Outro alerta essencial é para os pais e cuidadores: infecções de ouvido não tratadas corretamente na infância podem deixar sequelas duradouras. Fiquem atentos a sinais como a ausência de resposta a sons ou dificuldades no desenvolvimento da fala.
Cuidar da audição é cuidar da nossa conexão com o mundo. Escutar bem significa participar das conversas, ouvir música, trabalhar, estudar e, acima de tudo, manter a mente ativa e as relações sociais vivas.
No Dia Nacional do Surdo, meu convite é para que cada um faça uma pausa e reflita: como você tem cuidado da sua saúde auditiva?
Dr. Bruno Borges de Carvalho Barros
Médico otorrinolaringologista pela UNIFESP
Médico do corpo clínico do hospital Albert Einstein
Especialista em otorrinolaringologia pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e cirurgia cervico-facial.
Mestre e fellow pela Universidade Federal de São Paulo.
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