Nos últimos dias, um anúncio envolvendo o tratamento do autismo chamou atenção. O governo do presidente Donald Trump citou o uso de um medicamento pouco conhecido, chamado leucovorina, como possível alternativa terapêutica para pessoas com transtorno do espectro autista (TEA). A notícia gerou dúvidas e debates, principalmente por ainda existirem muitas perguntas sem respostas sobre sua eficácia.
Mas, afinal, o que é esse remédio e por que ele está sendo estudado? A seguir, entenda melhor como ele funciona e quais descobertas a ciência já fez até agora.
O que é a leucovorina
A leucovorina, também chamada de ácido folínico, é uma forma ativa do ácido fólico — vitamina do complexo B (B9) essencial para o desenvolvimento celular e prevenção de malformações durante a gestação.
De acordo com a cientista e neuropsicopedagoga especialista em autismo Silvia Kelly Bosi, o grande diferencial desse medicamento está na capacidade de ultrapassar uma barreira natural do organismo que, em algumas pessoas, impede que o folato atue adequadamente no cérebro. Essa característica pode ser importante em casos de deficiência cerebral de folato (DCF), condição que pode ter relação com alguns quadros de autismo.
Uso da leucovorina em outros tratamentos
Tradicionalmente, a leucovorina já é usada na medicina, principalmente como parte de tratamentos contra o câncer. Ela costuma ser administrada em conjunto com outros medicamentos para potencializar os efeitos da quimioterapia.
Além disso, pode ser indicada para algumas doenças autoimunes, como psoríase. Ou seja, não se trata de um medicamento novo, mas sim de um remédio que agora está sendo avaliado sob uma nova perspectiva.
Relação entre leucovorina e autismo
Estudos recentes investigam se a leucovorina pode beneficiar crianças com TEA que apresentam alterações no transporte de folato para o cérebro ou que produzem anticorpos que atrapalham esse processo. Em alguns casos, esses desequilíbrios estão ligados a dificuldades na fala, na cognição e a um risco maior de epilepsia.
Segundo Silvia, os primeiros resultados indicam melhora em aspectos cognitivos, como comunicação e linguagem. No entanto, ela alerta que ainda não existe comprovação científica sólida que justifique o uso amplo do medicamento. “O remédio pode ajudar um grupo específico de crianças, mas não deve ser visto como uma cura ou tratamento definitivo para o autismo”, explica.
Esse tipo de terapia ainda está em fase experimental. Por isso, os pesquisadores destacam a necessidade de estudos mais amplos, com metodologias rigorosas, para definir quem realmente pode se beneficiar, quais doses são seguras e em quais contextos clínicos devem ser aplicadas.
O que dizem as autoridades de saúde
Nos Estados Unidos, a FDA (órgão que equivale à Anvisa) iniciou o processo de avaliação para aprovar o uso da leucovorina no tratamento de TEA. Enquanto isso, médicos reforçam que os pais devem ter cautela e não iniciar qualquer tratamento sem acompanhamento especializado.
No Brasil, a recomendação segue sendo buscar orientação médica e não utilizar o medicamento sem prescrição. É importante lembrar que o tratamento do autismo envolve uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir terapias comportamentais, fonoaudiologia, acompanhamento psicológico e, em alguns casos, o uso de medicamentos já aprovados.
Resumo: A leucovorina surge como uma possível aliada no tratamento de casos específicos de autismo, principalmente quando há deficiência cerebral de folato. Apesar dos resultados promissores em estudos iniciais, ainda faltam pesquisas mais robustas para confirmar sua eficácia e segurança. Por enquanto, a recomendação é ter cautela e sempre seguir as orientações médicas antes de iniciar qualquer tratamento.
Leia também:
Paracetamol na gravidez causa autismo? OMS esclarece polêmica