O aumento das taxas de suicídio entre crianças e adolescentes no Brasil tem chamado atenção de especialistas e da sociedade. Dados recentes mostram que a adultização precoce, combinada com a intensa exposição às redes sociais, contribui para o surgimento de problemas de saúde mental e aumenta o risco de suicídio.
Segundo o estudo “Adolescência e suicídio: um problema de saúde pública”, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz em 2024, entre 2000 e 2022, os óbitos por suicídio entre adolescentes de 10 a 19 anos passaram de 2,73% para 7,28%. Entre adultos jovens, a taxa subiu de 3,11% para 6,58%. O relatório alerta que o suicídio é resultado de “isolamento individual, coação para desempenho, cultura da violência, assédio moral e sexual, agravadas pela pobreza e barreira de acesso ao cuidado de saúde mental”.
Redes sociais intensificam o impacto da adultização
O Índice KidsRights, com base em dados da Organização Mundial da Saúde, revela que mais de 14% das crianças e adolescentes de 10 a 19 anos enfrentam problemas de saúde mental, com uma taxa média global de suicídios de 6 por 100.000 entre jovens de 15 a 19 anos. A análise aponta que a subnotificação é significativa, e o problema é potencializado pelas redes sociais, que “priorizam o engajamento em detrimento da segurança infantil”.
Para Vanessa Schaker, psiquiatra do Hospital São Lucas (HSL) da PUCRS, a adultização precoce gera sobrecarga emocional. “Quando impedimos uma criança ou adolescente de viver sua fase e o empurramos para o universo adulto, ele é exposto a uma pressão intensa. Isso pode desencadear depressão, ansiedade, distúrbios de sono e alimentação”, explica.
A psiquiatra ainda reforça que o uso precoce de redes sociais aumenta os riscos. “Os jovens lidam com cobrança estética, sexualização do corpo, comparação constante e cyberbullying. A busca por padrões irreais gera sentimentos de inadequação e desesperança, que em casos graves podem levar à ideação suicida”, completa.
Estratégias de prevenção: papel da família e da escola
A prevenção exige esforço coletivo. Segundo Schaker, a família desempenha papel central ao proteger as fases do crescimento. “É essencial garantir que crianças possam brincar e interagir com colegas da mesma idade, sem sobrecarga de compromissos. Os pais devem cuidar da exposição digital dos filhos, evitando conteúdos prejudiciais”, diz.
Na adolescência, é necessário equilibrar autonomia com suporte. Limites claros, diálogo sobre emoções e orientação sobre o uso das redes sociais ajudam a reduzir riscos. “O diálogo aberto, sem julgamentos, é uma das formas mais eficazes de proteger a saúde mental dos adolescentes”, afirma.
A escola como aliada na promoção do bem-estar
Clemilson Graciano da Silva, especialista do Marista Brasil, destaca que a escola tem papel complementar. “Além do aprendizado formal, a instituição deve oferecer atividades lúdicas e promover a educação socioemocional. Estimular a escuta ativa e a construção de vínculos fortalece a proteção das crianças e adolescentes”, explica.
Educação digital e políticas públicas: prevenção integrada
O combate à adultização e aos riscos à saúde mental requer integração de ações em saúde, educação, assistência social, segurança e justiça. Ferramentas de monitoramento e denúncias, aliadas à educação digital, contribuem para a proteção de crianças e adolescentes em ambientes virtuais, prevenindo exposição a conteúdos nocivos e cyberbullying.
A sociedade, portanto, precisa atuar de forma conjunta, promovendo ambientes seguros, acolhedores e respeitosos, tanto offline quanto online, garantindo que os jovens possam viver cada fase da vida com suporte emocional adequado.
Resumo: A adultização precoce e a pressão das redes sociais aumentam os riscos de suicídio e problemas de saúde mental entre crianças e adolescentes. Família, escola e políticas públicas têm papel central na prevenção, oferecendo suporte, diálogo e proteção.
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