Em meio a uma crise global de saúde mental, a presença dos animais de estimação se consolida como uma das formas mais eficazes de apoio emocional, trazendo benefícios não apenas para tutores, mas também oportunidades de reconhecimento e valorização para a medicina veterinária.
Vivemos uma era em que a saúde mental deixou de ser tabu e se tornou pauta urgente. A Organização Mundial da Saúde estima que mais de 300 milhões de pessoas no mundo sofram de depressão, enquanto a ansiedade já figura como um dos transtornos mais diagnosticados em sociedades modernas. No Brasil, segundo dados da Fiocruz, cerca de 9,3% da população convive com a depressão, e aproximadamente 18 milhões de brasileiros sofrem de transtorno de ansiedade.
Diante desse cenário, os animais de estimação têm se mostrado aliados silenciosos, mas poderosos. Estudos recentes da American Psychiatric Association mostram que 86% dos tutores relatam melhora significativa na sensação de solidão e bem-estar após adotarem um pet. O simples ato de acariciar um cão ou um gato pode reduzir os níveis de cortisol, hormônio do estresse, e aumentar a liberação de serotonina e dopamina, neurotransmissores ligados ao prazer e à calma.
Diversos famosos já recorreram a cães de suporte emocional para lidar com questões de saúde mental e momentos de vulnerabilidade. O comediante Drew Lynch, por exemplo, encontrou na cadela Stella apoio fundamental para controlar a ansiedade após desenvolver uma gagueira permanente. Já o ator Orlando Bloom costuma aparecer em eventos acompanhado de seu poodle Biggie Smalls, que ele descreve como seu animal de suporte emocional.
Até mesmo o ex-presidente americano George H. W. Bush contou com a companhia do labrador Sully em seus últimos meses de vida, um cão que, além de auxiliar em tarefas práticas, também proporcionava conforto emocional. Esses casos evidenciam como o vínculo com os animais vai além do afeto e pode se tornar um suporte importante para enfrentar dificuldades psicológicas.
“Quando entendemos que o latido de um cão ou o ronronar de um gato podem salvar vidas humanas, damos um salto de consciência. Animais são pontes para o equilíbrio emocional e, quando bem cuidados, devolvem à sociedade um capital imensurável de afeto e resiliência”, diz Raphael Clímaco, médico veterinário há mais de 13 anos.
Pesquisas publicadas em veículos de prestígio como Frontiers in Psychology apontam que a convivência com animais pode reduzir sentimentos de isolamento, fortalecer rotinas de autocuidado e até melhorar a adesão a tratamentos de saúde mental. Para muitas pessoas, levantar da cama porque há um cão esperando pelo passeio ou um gato pedindo alimento é o primeiro passo de um dia mais estruturado.
Contudo, esse impacto não se limita ao ambiente doméstico. Clínicas veterinárias, hospitais e profissionais do setor pet podem se enxergar como agentes de transformação social. Campanhas de adoção responsável, projetos de terapia assistida por animais, palestras de conscientização não somente durante o Setembro Amarelo, mas em todos os meses do ano, e até iniciativas de bem-estar em ambientes corporativos são exemplos de ações que fortalecem os laços entre humanos e animais, mostrando o quanto essa relação pode transformar vidas.
“Que tutores encontrem em seus pets um motivo a mais para sorrir. Que veterinários reconheçam o impacto de sua prática para além do consultório. E que a sociedade, como um todo, perceba nos animais não apenas companheiros, mas aliados fundamentais no cuidado com a saúde mental e na construção de uma vida mais saudável e empática”, diz o veterinário.