A busca por inclusão escolar ainda enfrenta grandes obstáculos no Brasil. Recentemente, o goleiro Cássio, do Cruzeiro, compartilhou nas redes sociais a dificuldade para matricular a filha Maria Luiza, de sete anos, diagnosticada com transtorno do espectro autista (TEA), em escolas de Belo Horizonte.
Segundo ele, várias instituições recusaram a matrícula ou não aceitaram que a menina tivesse o acompanhamento de uma profissional especializada, direito garantido por lei. “Como pai, ver sua filha rejeitada simplesmente por ser autista é algo que corta o coração. Inclusão não é só palavra bonita em propaganda, é atitude”, escreveu o jogador em seu Instagram.
Lei garante direito à inclusão escolar
A Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Essa legislação define que a pessoa autista é considerada pessoa com deficiência para todos os efeitos legais.
Com isso, a lei assegura o acesso à educação, seja em uma escola regular ou em uma instituição especializada. Além disso, o Artigo 3º determina que os alunos com TEA têm direito a um acompanhante especializado em sala de aula, sempre que necessário, para auxiliar no aprendizado e na socialização.
No entanto, na prática, muitas famílias, como a do goleiro do Cruzeiro, ainda enfrentam resistência por parte de algumas instituições. A recusa em aceitar um acompanhante pode comprometer o desenvolvimento da criança e dificultar sua integração no ambiente escolar.
A importância do profissional de apoio para crianças com TEA
De acordo com a neuropsicopedagoga Silvia Kelly Bosi, especialista em desenvolvimento infantil e autismo, esse profissional atua como um mediador no processo de aprendizagem. “Quando a escola não permite a presença de um acompanhante, ela limita a participação da criança nas atividades escolares. Esse apoio é fundamental para promover a autonomia e a inclusão de forma efetiva”, explica.
Silvia também destaca que o trabalho conjunto entre família e escola é essencial. Para ela, os pais devem buscar os direitos dos filhos em órgãos como o Ministério Público e Conselhos de Educação sempre que houver recusa de matrícula ou falta de suporte adequado. Já as escolas precisam investir em capacitação contínua de professores, adaptações pedagógicas e integração de profissionais de apoio.
Inclusão vai além da matrícula
O caso da filha do goleiro Cássio reforça que a inclusão escolar não se resume a permitir que a criança esteja fisicamente na sala de aula. É necessário criar estratégias que favoreçam a participação ativa do aluno em todas as atividades, respeitando suas necessidades individuais.
“A legislação garante direitos importantes, mas a efetivação depende do preparo das escolas e da conscientização de toda a comunidade escolar”, ressalta Silvia.
Além disso, atitudes inclusivas contribuem para um ambiente mais acolhedor, beneficiando não apenas os alunos com autismo, mas também toda a turma, que aprende sobre empatia, respeito e diversidade.
Resumo: O desabafo de Cássio sobre a dificuldade em matricular a filha com autismo traz à tona a distância entre a lei e a realidade das escolas. Embora exista legislação que garante suporte e acompanhante especializado, muitas famílias ainda enfrentam barreiras. Para que a inclusão seja efetiva, é preciso preparo, diálogo e compromisso das instituições de ensino.
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