Colocar um bebê para dormir pode parecer, à primeira vista, um momento tranquilo da rotina. Mas para muitas famílias, é justamente aí que começa o verdadeiro terror. Afinal, depois de todo o ritual — banho, mamar, historinha, silêncio absoluto — basta um simples espirro ou rangido de porta para que tudo vá por água abaixo. E, com isso, junto se vão as esperanças de descanso dos pais.
Foi inspirada por esse momento que a escritora Caroline Figueira criou o livro Oh Não!, lançado pela Ovolê Editora. Com ilustrações bem-humoradas e texto leve, a obra retrata, de forma lúdica, o medo quase universal dos adultos: acordar o bebê que acabou de pegar no sono. “Lembro com nitidez daqueles momentos de tensão ao deixar minha bebê no berço, tomando cuidado com qualquer mínimo ruído: os passos, a minha respiração, o ranger da porta”, conta Caroline em entrevista à AnaMaria.
Medos noturnos e ansiedade na hora de dormir
Segundo a psicóloga obstétrica Marília Scabora, fundadora da Comunidade Tribo Mãe, a hora do sono é mesmo desafiadora. “É um momento de separação, tanto para o bebê quanto para os pais. Para o bebê, adormecer pode ser percebido como uma perda temporária da mãe, o que ativa inseguranças. Já os pais, especialmente os que estão sobrecarregados, acabam transmitindo essa tensão, e o bebê sente isso.”
Caroline percebeu que esse medo silencioso que ronda os pais poderia ser transformado em narrativa. E, mais do que isso, que havia uma oportunidade de envolver toda a família nessa missão. “O papel do pai e de toda a rede de apoio é fundamental. No livro, a família toda entra na onda do silêncio total, e é nítido que todos compartilham do cuidado, carinho e preocupação com que o bebê tenha um sono tranquilo”, comenta.
Rotina
Criar um ritual de sono pode fazer toda a diferença para bebês e cuidadores. “Rotinas previsíveis trazem segurança emocional. Um banho morno, luz baixa, história contada com calma… Esses sinais ajudam o bebê a entender que é hora de desacelerar. E os pais também se beneficiam desse momento”, diz Marília.
Além disso, as sonecas diurnas também são fundamentais. Não adianta pular soneca na esperança do bebê ter mais sono e dormir melhor à noite. Bebês pequenos precisam de muitas horas de sono e a soneca diurna os ajuda a passar o dia bem para conseguir relaxar à noite.
Quando o medo é dos pais
Outro ponto que aparece tanto no livro quanto na vida real é o medo que os pais sentem de “estragar tudo” após o bebê finalmente adormecer. “Essa ansiedade nasce do cansaço acumulado e da ideia de que o bebê precisa dormir bem para que os pais estejam fazendo um bom trabalho”, explica a psicóloga. Trabalhar expectativas mais flexíveis, dividir o cuidado com alguém de confiança e acolher os próprios sentimentos ajuda a aliviar essa carga.
Caroline também deixa uma mensagem acolhedora para mães e pais cansados: “Sei que é clichê dizer isso, mas ter em mente que essa fase vai passar é importante, porque vai mesmo! Temos que ouvir nosso coração e filtrar os palpites.”
A boa notícia é que, com leveza, apoio e afeto, até mesmo a hora do sono, por mais aterrorizante que pareça, pode se transformar em um ritual de amor e conexão.
Eles crescem… e os desafios mudam
Se os desafios do sono costumam começar ainda na fase do berço, eles podem continuar também na infância. Com crianças um pouco maiores, é comum o surgimento de medos noturnos, como pesadelos ou até episódios mais intensos, como o terror noturno. Embora muitas vezes confundido com sonhos ruins. Entenda a diferença:
O terror noturno costuma acontecer nas primeiras horas da noite, durante o sono profundo. A criança pode gritar, suar, se debater e até abrir os olhos, mas não está consciente nem acordada. Ao amanhecer, normalmente não se lembra de nada. Pesadelos, por outro lado, ocorrem na fase REM do sono (mais próxima do despertar). A criança geralmente acorda assustada, pode chorar e consegue relatar o que sonhou.
“Por mais assustador que o terror noturno pareça para os pais, ele é mais comum do que se imagina e tende a desaparecer com o tempo. O ideal é não tentar acordar a criança, mas garantir que ela esteja segura e acolhida com uma presença calma e afetuosa”, orienta Marília.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (1º de agosto). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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