Você sabia que o cigarro vai muito além de prejudicar os pulmões? Segundo Fernando Gomes, neurocirurgião, neurocientista e professor livre-docente da Faculdade de Medicina da USP, as toxinas do tabaco aceleram o envelhecimento do cérebro e aumentam a chance de desenvolver doenças como Alzheimer, Parkinson e outros tipos de demência. “Esses danos começam muito antes dos primeiros sintomas. É como se o cigarro colocasse o cérebro em um envelhecimento silencioso e precoce”, explica.
Além disso, a exposição constante à nicotina e a outros componentes do tabaco prejudica a oxigenação cerebral, afetando a memória, a atenção e até a produtividade do dia a dia.
Nicotina e o vício
A nicotina, substância psicoativa do cigarro, cria um verdadeiro ciclo de dependência no cérebro. Ela estimula a liberação de dopamina, o que gera prazer imediato e reforça o ato de fumar. “O fumante associa o cigarro a sensação de alívio, mesmo sabendo dos malefícios. Mas, com estratégias baseadas em neurociência, é possível ensinar o cérebro a ‘desaprender’ esse padrão e criar novas conexões que ajudem a largar o vício”, afirma o neurocirurgião.
Compreender a relação entre cigarro e cérebro ajuda a enxergar que o vício é químico e psicológico, e não apenas falta de força de vontade.
Doenças perigosas ligadas ao tabagismo
Outro efeito preocupante do tabagismo é o aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC). Fumar provoca inflamação nas artérias cerebrais e facilita a coagulação do sangue, elevando a probabilidade de derrames — até em pessoas mais jovens. “O cigarro não escolhe idade. Já vi casos de AVC em pessoas abaixo dos 40 anos em que o principal fator de risco era o tabagismo”, alerta Fernando.
Além disso, a redução crônica de oxigênio no cérebro prejudica a memória, deixa o raciocínio mais lento e provoca cansaço mental constante, interferindo na qualidade de vida.
Benefícios imediatos de parar de fumar
Quando a pessoa decide abandonar o cigarro, o cérebro começa a se recuperar rapidamente. Nas primeiras horas, a queda nos níveis de nicotina e monóxido de carbono melhora a oxigenação do sangue e do cérebro. Claro que os receptores de nicotina passam pela “síndrome de abstinência”, causando irritabilidade, ansiedade e dificuldade de concentração.
Nas semanas seguintes, a neuroplasticidade entra em ação, reorganizando conexões para reduzir a dependência. A atenção e a memória de curto prazo melhoram, enquanto a inflamação nos vasos cerebrais diminui, baixando o risco de AVC.
Após alguns meses, os receptores de dopamina se equilibram, o sistema de recompensa volta a funcionar sem nicotina, o humor se estabiliza e a velocidade do processamento mental aumenta. Com o tempo, o risco de AVC e de demência cai significativamente — depois de cinco anos, chega quase ao mesmo nível de quem nunca fumou — protegendo o cérebro do envelhecimento precoce e retardando doenças como Alzheimer e Parkinson.
Resumo: O cigarro afeta o cérebro de diversas maneiras: acelera o envelhecimento, compromete a memória e aumenta o risco de demência e AVC. Parar de fumar traz benefícios quase imediatos, melhora a oxigenação cerebral, reorganiza conexões neurais e protege a saúde mental a longo prazo.
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