Por Renan Pereira e Lígia Menezes
Depois de mais de um ano fora do ar, o Casos de Família retorna à programação do SBT em um momento simbólico: sem Silvio Santos à frente da emissora.
Christina Rocha, que comanda o programa desde 2009, volta ao estúdio com o mesmo formato que se tornou conhecido pelas histórias familiares intensas, e muitas vezes explosivas, da vida real.
Aos 66 anos, a apresentadora diz estar mais convicta do que nunca sobre a importância de fazer apenas o que ama. Nesta conversa, ela relembra os aprendizados do tempo fora da TV, comenta os impactos emocionais do programa em sua vida pessoal e fala da sua própria vivência como mãe, profissional e mulher que equilibra fé e rotina puxada.
A volta do “Casos de Família” é feita em um SBT “pós-Silvio Santos”. O que você acha que pode mudar no programa? Qual sua autonomia para conduzir as coisas?
Realmente, o Silvio tinha muito carinho pelo Casos de Família. E agora é até estranho voltar sem a presença dele. O programa não vai mudar muito, porque o formato não é algo voltado para novidades. O programa não tem quadros fixos, na verdade, o ‘quadro’ é o que a pessoa está passando no momento. São temas do dia a dia mesmo. Então, a gente vai torcer para que seja um sucesso, como sempre foi, graças a Deus. E eu estou muito feliz em poder retornar.
O que mudou em você, pessoal e profissionalmente, nesse período longe do “Casos de Família”?
Foi um grande aprendizado de vida. Porque, claro, na vida a gente faz coisas que gosta, mas às vezes também fazemos coisas que nos são impostas. O mais importante – e não que eu não fosse assim antes – é que, de um ano para cá, isso ficou ainda mais forte: fazer o que eu amo, o que eu gosto. Não dá para fazer algo só dando um ‘jeitinho’. Eu sou intensa no que faço e preciso gostar, amar o que estou fazendo. Então, esse período, especialmente o último ano, fortaleceu muito isso em mim.
Você está na TV desde o começo dos anos 1980. Que dica você gostaria de sugerir para nossas leitoras para manter a vitalidade no trabalho durante todos esses anos?
Gente, primeiro: passa tudo muito rápido, né? Quando eu vi o meu documentário, que está no SBT, chamado Divina Cristina, e também a homenagem que fizeram no programa do Silvio, apresentado pela Patrícia, eu pensei: ‘como passou rápido!’. Você sabe que o tempo passou, mas ao mesmo tempo parece que foi ontem. Muito louco!
Eu, por exemplo, trabalho desde os 16 anos. Sempre trabalhei. O trabalho, para mim, sempre foi fundamental. Acho que ele ajuda a manter a vitalidade, a vontade de fazer as coisas. Antigamente, quando a mulher passava dos 60, o que era esperado? Aposentar, ficar em casa, fazendo tricô, crochê – e olhe lá, né? Hoje em dia, não. Hoje a mulher tem, sei lá, 30 anos a mais de expectativa de vida do que antigamente. Então, é muito bacana. A gente não pode perder essa vitalidade. E a cabeça, o nosso psicológico, é essencial.
Você já disse algumas vezes que precisou fazer terapia para lidar com os conflitos que o “Casos de Família” trazia durante as tardes. Pode nos contar um pouco sobre esse processo? Por que as dinâmicas familiares mexeram tanto com você?
Na verdade, eu nunca consegui fazer terapia. Até tentei, e acho que todo mundo deveria fazer, mas ainda não encontrei alguém com quem eu me sinta à vontade para conversar. Fui a alguns terapeutas, mas não posso dizer que faço terapia, seria mentira. Ainda estou procurando alguém com quem eu me conecte. Mas acredito que todos precisamos.
O Casos de Família mexe muito com a gente, porque lida com problemas reais, do dia a dia. Às vezes, você se depara com situações que nunca viveu, e isso te impacta. Você quer ajudar, quer que a pessoa entenda, mas às vezes ela não enxerga. Por exemplo, quando uma mulher está em um relacionamento abusivo, a gente tenta mostrar, mas quem está vivendo aquilo pode não perceber. Isso mexe com a gente. Você quer que a pessoa acorde, e às vezes não é o momento dela. Então, sim, ainda estou procurando um terapeuta – e juro, estou mesmo. Acho super necessário.
No ambiente familiar, você costuma ser que tipo de mãe e esposa? Mais brava? Compreensiva? Pode comentar um pouco sobre os seus “casos de família”?
É engraçado… Quem não me conhece acha que eu sou bravíssima. Claro, sou brava quando preciso ser, mas no geral, sou tranquila. Juro por Deus! Não gosto de fofoca, dou espaço para todo mundo. Sou uma super mãe, até demais, às vezes acho que exagero. Meus filhos têm mais de 35 anos, mas como eu falo para eles: filho não tem idade. A gente se preocupa se chegaram bem em casa, se estão passando por algo… Se o filho não está bem, a gente também não está.
Sou aquela mãe galinha com os pintinhos, sabe? Mas, confesso: estou tentando me controlar mais. Porque às vezes exagero mesmo.
Quais são suas crenças? Você tem algum ritual que pode compartilhar?
Sou católica, tenho muita fé em Nossa Senhora, mas acredito em todas as religiões. Acho que todas levam a Jesus. Tenho muita fé, porque sem fé a gente pira. A palavra tem poder. Quando você fala ‘vai dar certo’, isso já tem força.
Rezo muito para meu anjo da guarda. Antes de entrar em qualquer programa, rezo 13 Ave-Marias e faço o sinal da cruz. Sempre. Também tenho uma oração que faço para o Espírito Santo, é muito importante para mim. Não entro em nenhum lugar sem essas orações.
Seus filhos já são adultos. Como foi para eles crescerem vendo a mãe na TV, sendo famosa?
Eles já cresceram me vendo na TV, então lidam bem com isso. Mas não gostam de aparecer de jeito nenhum. No meu documentário, só apareceram porque eu insisti. E no programa da Patrícia, quando fui homenageada, eles não foram pessoalmente. Tenho que respeitar isso. Eles não curtem exposição, e está tudo certo. Mas amam minha profissão, tanto que os dois são publicitários.
Como foi para você ser mãe ao mesmo tempo em que gerenciava uma carreira bem-sucedida?
Sou carioca, mas tive meus filhos em São Paulo. Graças a Deus, contei com uma pessoa maravilhosa que me ajudava muito com eles. Quando tive os filhos, dei um tempo no trabalho. Depois, voltei em meio período. Nunca trabalhei o dia inteiro, de sair de manhã e voltar à noite. Isso me ajudou a equilibrar a maternidade com a profissão. Claro que a gente sempre se culpa: ‘será que estou deixando a desejar?’ Mas acho que consegui gerenciar bem.”
Família ou trabalho: qual foi sua maior prioridade ao longo dos anos?
Sempre fui muito família. Sou a caçula de seis irmãs, seis Marias! Graças a Deus, todos estão vivos. Minha mãe sempre nos ensinou que família é base, e tento passar isso para os meus filhos. A família é essencial. Quando você não está bem profissionalmente ou pessoalmente, é a família que te sustenta. Para mim, família é tudo.
Qual foi o caso que mais te marcou em todos esses anos?
Sempre me perguntam isso. Dois temas me marcam profundamente: homens que agridem mulheres e filhos que não são bons para os pais. Esses casos mexem comigo, me tiram do sério. E sei que ainda vou me deparar com muitos outros assim, porque fazem parte do nosso cotidiano. Mas são os que mais me tocaram.