Não é à toa que tanta gente se emociona ao relembrar o primeiro bichinho de estimação da infância. Os laços criados entre uma criança e seu pet vão muito além das brincadeiras. Essa relação tem o poder de fortalecer a autoestima, ensinar empatia e ajudar no amadurecimento emocional e social dos pequenos.
Para entender melhor como esse vínculo pode impactar positivamente o desenvolvimento infantil, conversamos com Renata Roma, psicoterapeuta e pesquisadora da University of Saskatchewan, no Canadá, que há anos estuda a relação entre humanos e animais. Ela explica que, quando mediada pelos adultos, essa convivência se torna uma verdadeira escola de valores e habilidades para a vida toda.
Uma conexão livre de julgamentos
Segundo Renata, os pets costumam ser vistos pelas crianças como refúgios emocionais seguros. “Muitas conversam com seus bichinhos, sentem que são ouvidas e acolhidas, já que os animais não julgam, apenas estão presentes”, explica em entrevista à AnaMaria. Esse vínculo oferece conforto físico e emocional, promovendo calma, sensação de pertencimento e conexão.
Em casos de crianças com limitações físicas ou cognitivas, os animais podem ter um papel ainda mais importante. Ao se sentirem aceitas e queridas pelos pets, elas fortalecem a autoestima e desenvolvem maior confiança em si mesmas.
Aprendendo um novo olhar sobre o outro
Crescer ao lado de um animal de estimação também ensina, na prática, o valor da empatia. Crianças que vivem em lares chamados de “multiespécies”, nos quais os pets são considerados parte da família, costumam desenvolver desde cedo um olhar mais respeitoso para a diversidade.
“Essas crianças aprendem a respeitar seres diferentes delas: com outra forma de se comunicar, de se mover, com outras necessidades. Isso cria uma base muito importante para relações mais empáticas e inclusivas no futuro”, afirma Renata.
Elas também desenvolvem habilidades de leitura da linguagem não verbal, fundamentais para uma comunicação mais sensível com os humanos.
Doses diárias de responsabilidade e autonomia
Participar da rotina de cuidados do pet é uma das maneiras mais eficazes de ensinar responsabilidade às crianças. Atividades simples como alimentar o bichinho, trocar a água ou acompanhar nos passeios são oportunidades valiosas para estimular o senso de dever e autonomia.
“Essas tarefas, quando feitas com orientação dos pais, ajudam a criança a perceber que ela é capaz, fortalecendo também sua autoestima”, destaca a psicoterapeuta.
O poder do afeto
Meninos e meninas mais tímidos, ansiosos ou com dificuldade de socialização encontram nos pets uma fonte poderosa de afeto e segurança. Estudos mostram que acariciar um bichinho por cerca de 10 minutos já tem efeito calmante tanto para a criança quanto para o pet.
Essa convivência estimula o desenvolvimento de várias habilidades:
- Equilíbrio e coordenação motora: durante os passeios, ao segurar a guia e acompanhar o ritmo do animal;
- Memória e organização: ao lembrar os horários e quantidades de ração ou água;
- Autonomia e senso de responsabilidade: ao participar das tarefas do dia a dia de forma ativa e divertida.
A importância do olhar atento dos pais
Para que essa relação seja realmente benéfica, o papel dos pais é fundamental. São eles que orientam a criança sobre como interagir com o pet, desde fazer carinho com delicadeza até respeitar quando o animal quer ficar sozinho.
“Sem essa mediação, há risco de acidentes e também da criança crescer sem entender que o pet não é um brinquedo”, alerta Renata. A supervisão deve ser constante, principalmente na infância, quando os pequenos ainda estão aprendendo a reconhecer limites.
Observar os sinais do animal, como rosnar ou se afastar, e ensinar a criança a respeitá-los também faz parte do processo. Assim, ela desenvolve empatia e sensibilidade.
Além disso, envolver os filhos nas rotinas com o pet, como a hora do banho ou do passeio, reforça valores como cuidado, compromisso e respeito. Tudo isso contribui para uma convivência harmoniosa e cheia de aprendizados que a criança levará por toda a vida.
Quando o pet tem comportamentos desafiadores: desistir não é a solução
Por fim, a especialista lembra que nem sempre o animal corresponde à imagem idealizada dos vídeos da internet – e tudo bem. “Se o bichinho apresenta comportamentos difíceis, isso não significa que ele não pode conviver com a criança. Um plano de adestramento pode ajudar bastante.”
Incluir a criança nesse processo de cuidado e adaptação também é um aprendizado valioso. “Ela entende que relações exigem paciência e esforço, lições fundamentais para a vida”, finaliza Renata.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (11 de julho). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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