Com embalagens recicláveis, fórmulas mais simples e a promessa de serem mais seguras para a pele, os produtos de beleza limpa (ou clean beauty, como o termo ficou conhecido) têm ganhado espaço nas prateleiras e no nécessaire das consumidoras brasileiras. Mas será que essa tendência é tudo isso mesmo? Ou estamos diante de mais um modismo cheio de marketing e pouca regulamentação?
Afinal, o termo “beleza limpa” ainda não é oficial. Isso significa que qualquer produto pode se apresentar assim, mesmo sem comprovação de que cumpra os critérios esperados.
Então, o que é clean beauty?
Para a dermatologista Ana Carolina Sumam, um cosmético só pode ser considerado clean beauty quando adota uma formulação mais transparente, segura e com menor impacto à saúde humana e ao meio ambiente. “Ser vegano pode ser um dos critérios, mas não é suficiente por si só”, afirma.
Segundo Kacau Diaz, engenheira química e fundadora da marca brasileira Kacau Cosméticos, a beleza limpa exige atenção em toda a cadeia de produção: desde a extração da matéria-prima até o descarte do produto. “Esses ingredientes não podem causar danos à saúde e o resíduo que sobra não deve poluir rios ou o solo. A cadeia precisa ser fechada por completo”, explica.
O farmacêutico Maurizio Pupo, fundador da Ada Tina, marca de dermocosméticos com tecnologia italiana, destaca que o conceito ultrapassa o conteúdo dos frascos. “Não basta a fórmula ser vegana ou natural. O processo de fabricação também precisa ser limpo, sem gerar poluentes ou resíduos”, afirma. Ele reforça que embalagens recicláveis e menor uso de água na produção são outras exigências da filosofia.
Clean beauty x Beleza natural
Apesar de parecidos, os conceitos de clean beauty e beleza natural não são sinônimos. A dermatologista explica que a beleza natural prioriza ingredientes de origem vegetal ou mineral, enquanto a beleza limpa pode incluir componentes sintéticos, desde que sejam seguros, não tóxicos e sustentáveis.
Ou seja, um produto natural pode conter substâncias alergênicas, enquanto um cosmético limpo pode ter sintéticos inofensivos.
Kacau reforça: “Não é porque algo é natural que está livre de causar reações. A cenoura, por exemplo, pode manchar a pele. O mel pode causar alergia. E certas frutas têm acidez que pode irritar”.
Por isso, ela desaconselha o uso de alimentos diretamente na pele, mesmo que seja uma alternativa mais barata. “Tem gente que consegue bons resultados, mas os riscos são altos. Um cosmético desenvolvido com tecnologia é sempre mais seguro”, alerta.
Ingredientes proibidos
Apesar de não haver uma regulamentação oficial, há um consenso sobre os ingredientes que devem ser evitados: parabenos, ftalatos, sulfatos, silicones, derivados de petróleo, corantes artificiais, fragrâncias sintéticas e certos filtros solares químicos, como a avobenzona. Esses compostos são frequentemente apontados como disruptores endócrinos, alergênicos ou irritantes, além de causarem impactos ambientais negativos.
Mas será que é justo demonizar ingredientes que já foram aprovados por agências como a Anvisa ou o FDA (Administração de Alimentos e Medicamentos dos EUA)? Para a dermatologista Ana Carolina, não é correto rotular esses compostos como vilões, já que muitos são seguros nas concentrações permitidas.
A ausência deles nas fórmulas clean tem mais a ver com filosofia de precaução do que com evidência de risco real. “Produtos sem esses ingredientes não são automaticamente mais seguros”, alerta. “O que determina a segurança é o conjunto da fórmula, a estabilidade do produto e sua aplicação correta.”
Vale desembolsar?
O preço dos cosméticos de beleza limpa costuma ser mais alto – e não é só pelo rótulo. “As matérias-primas orgânicas e certificadas ainda são mais caras. Além disso, muitas marcas são pequenas e artesanais, o que encarece a produção”, explica a dermatologista.
Kacau destaca que, além disso, há muito mais tecnologia envolvida: os produtos são multifuncionais, usam menos água e têm fórmulas ricas em ativos. “Um shampoo em barra, por exemplo, pode durar até três vezes mais que um líquido comum”, afirma.
A demanda crescente por esse tipo de produto pode ajudar a mudar o cenário. Segundo um relatório da Grand View Research, o mercado global de cosméticos veganos deve ultrapassar US$ 24 bilhões até 2028. Com a falta de certificações específicas, o segredo ainda está em se informar, ler rótulos e pesquisar marcas confiáveis.
Mas então vale investir na categoria? Como conclui Maurizio Pupo, o conceito de clean beauty não é sobre ingredientes milagrosos, mas sobre consumo consciente e informado: “É uma escolha que envolve saúde, meio ambiente e responsabilidade”.
Resumo: A tendência da beleza limpa vem ganhando espaço com promessas de fórmulas seguras e sustentáveis, mas ainda carece de regulamentação oficial. Especialistas alertam que nem todo produto “clean” é livre de riscos – e nem todo ingrediente sintético é vilão. O mais importante é consumir de forma consciente, sempre de olho nos rótulos e na procedência das marcas.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (4 de julho). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
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