Microagulhamento com drug delivery. Peeling químico. Laser fracionado. Lipo de papada. Ultrassom microfocado. Lifting com fios de sustentação. Bioestimuladores de colágeno. Skinbooster. Preenchimento com ácido hialurônico. Botox preventivo. Isso sem falar nos infinitos cosméticos destinados ao skincare, com um único objetivo: não envelhecer.
Aqui, entre nós: não parece cansativo? E é! Nadar de braçada nas redes sociais e trombar com uma influenciadora listando todos os procedimentos estéticos que já fez, mesmo antes de completar 30 anos, virou banal, coisa do dia a dia. Mas será que normalizamos um comportamento que beira a obsessão?
Antes de explorarmos juntas o tema, vamos tirar o elefante branco da sala: sim, todos deveríamos cuidar da pele — o grande órgão que acomoda todo o nosso ser. Lavar, hidratar e proteger a pele é indispensável. Mas tudo o que vem depois disso é opcional. E gravem essa palavra: opcional!
Você sabia que o Brasil ocupa a segunda posição global em procedimentos estéticos? De acordo com a Pesquisa Global Anual da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o país só é superado pelos Estados Unidos. Ou seja, a realidade parece ainda mais dura para quem vive por aqui, no país tropical que clama por beleza e juventude.
Perdemos a mão em busca do glow up?
Um dia desses, enquanto zapeava pelo Instagram, me deparei com esse exato formato de vídeo: uma grande criadora de conteúdo revelando, em primeira mão, todos os procedimentos que já fez para manter o colágeno (e a juventude) em dia — com 29 anos.
A popularização do chamado “Baby Botox”, termo que ficou em alta nas últimas semanas, impulsionado por influenciadoras teens, expõe o medo quase generalizado de envelhecer. A técnica utiliza pequenas quantidades de toxina botulínica para suavizar linhas de expressão ou prevenir o surgimento delas.
Mas, considerando a maior fatia das mulheres brasileiras, poucas têm acesso aos procedimentos ad infinitum queridinhos das famosas. E o que sobra para elas? O adoecimento por não pertencer. A distorção de imagem. A sensação de inadequação.
Redes sociais: a fonte da (falsa) juventude
E o pior é que não se trata só de impressão. Um estudo recente mostrou que bastam oito minutos assistindo a vídeos com foco em padrões estéticos no TikTok para abalar a autoestima de uma mulher. O experimento, feito com mais de 270 participantes, comprovou que o contato com esse tipo de conteúdo pode aumentar a insatisfação com a própria imagem e reforçar a ideia de que a beleza está ligada exclusivamente a um corpo magro e jovem. E estamos falando de minutos — o tempo de tomar um café.
A verdade é que o algoritmo das redes sociais não nos dá espaço para respirar. Um vídeo leva ao outro, que leva a outro e, quando nos damos conta, estamos encarando o espelho, repensando a ruga, o cabelo, o peso, o tempo. Não é coincidência. É projeto. E, por isso, volto à pergunta que me guia: e se a gente apenas envelhecesse?
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