Comemorado em 26 de julho, o Dia dos Avós vai muito além das lembranças carinhosas de colos acolhedores e receitas de família. A data reforça a importância de enxergarmos os mais velhos com um novo olhar: de protagonismo, potência e presença ativa na sociedade. De acordo com o Censo 2022, o número de pessoas com 60 anos ou mais cresceu 56% em dez anos, totalizando 32,1 milhões de brasileiros. Enquanto isso, as taxas de natalidade diminuem e o país vive uma inversão histórica da pirâmide etária. Ou seja, temos cada vez mais avós — e eles estão longe de querer apenas descanso.
“Avós não são apenas figuras afetivas: eles são consumidores, empreendedores, cuidadores dos netos, ativos no mercado de trabalho, líderes comunitários”, afirma a gerontóloga Cláudia Alves, autora do livro O Bom do Alzheimer. Para ela, é preciso deixar de enxergar essa fase como sinônimo de fragilidade. “O idoso de hoje é mais conectado, mais exigente e mais engajado. É hora de deixarmos de pensar a velhice como uma espera passiva e começarmos a vê-la como um novo ciclo de possibilidades.”
O que os dados revelam sobre o envelhecimento no Brasil
Além do retrato feito pelo Censo, as projeções do IBGE e da ONU reforçam que essa mudança demográfica está só começando. Estima-se que, por volta de 2029, a população com 50 anos ou mais será maior do que a de crianças e adolescentes até 14 anos. E a expectativa é de que o grupo com 60+ continue crescendo até pelo menos 2070. Diante dessa transformação, surgem também novas demandas sociais, políticas e econômicas.
É aí que entra um conceito que já vem ganhando espaço no mundo todo: a chamada economia prateada — ou economia da longevidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), esse mercado movimenta cerca de 8 trilhões de dólares ao ano globalmente. No Brasil, a população acima dos 50 representa mais de 25% dos habitantes e é responsável por aproximadamente 40% da renda familiar, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Ou seja, trata-se de um público com grande poder de compra e influência.
26 de julho também é um convite para combater o etarismo
Mesmo com números tão expressivos, ainda há muita resistência quando o assunto é o envelhecimento. A especialista em longevidade alerta para a forma como o mercado e a sociedade tratam os mais velhos. “Essa geração quer consumir, quer ser vista, quer viver plenamente. O problema é que o mercado ainda insiste em olhar para os mais velhos com uma lente ultrapassada, como se todos estivessem em declínio. Isso é etarismo estrutural disfarçado de desatenção”, critica Cláudia.
Infelizmente, muitos produtos, serviços e políticas públicas ainda são pensados apenas para os jovens, ignorando as necessidades e desejos dos 50+. Isso inclui desde campanhas publicitárias até oportunidades no mercado de trabalho. Por isso, datas como o Dia dos Avós, celebrado em 26 de julho, devem servir como um alerta e um convite à mudança. Afinal, reconhecer o potencial dessa geração é um passo importante para uma sociedade mais inclusiva e justa.
Mais do que cuidados: escuta, presença e reconhecimento
Por fim, o envelhecimento da população também exige que repensemos a forma como nos relacionamos com os mais velhos — especialmente no que diz respeito à saúde emocional. Muitas vezes, sintomas como tristeza profunda ou lapsos de memória são diagnosticados como depressão ou doenças neurológicas, quando, na verdade, estão ligados à solidão e à desconexão afetiva.
“Muitos idosos são diagnosticados com doenças como Alzheimer e depressão, quando, na verdade, estão apenas desconectados do afeto e da vida em comunidade. Escutá-los mais pode ser um dos maiores atos de cuidado”, destaca Cláudia. Valorizar a escuta, o convívio e o protagonismo é essencial para garantir uma velhice mais digna e plena. Isso envolve não apenas o poder público, mas também cada família.
Neste 26 de julho, aproveite o Dia dos Avós para olhar com mais carinho — e mais atenção — para os mais velhos da sua vida. Porque respeitar e acolher quem veio antes de nós é, também, plantar o futuro que desejamos para nós mesmos.
Resumo: O Dia dos Avós, celebrado em 26 de julho, reforça a importância de valorizar o protagonismo das pessoas com 50 anos ou mais. Com o envelhecimento acelerado da população, cresce também o papel social e econômico dos mais velhos, que se mostram ativos, conectados e prontos para ocupar espaços com autonomia. Para isso, é fundamental combater o etarismo e promover escuta e inclusão.
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