Expressões como stealthing, gaslighting sexual, revenge porn e até sexsomnia vêm ganhando espaço no debate público. Mas, apesar da crescente visibilidade, ainda são pouco compreendidas pela maioria das mulheres. O resultado é preocupante: abusos que deveriam ser reconhecidos e denunciados muitas vezes passam despercebidos, até mesmo pelas próprias vítimas.
Com a aproximação do Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, o alerta sobre essas formas sutis (mas profundas) de violência ganha força. Afinal, o silêncio em torno dessas práticas contribui para perpetuar a dor de quem passou por elas.
Stealthing: tirar o preservativo sem consentimento é crime
O stealthing acontece quando o parceiro retira o preservativo durante o ato sexual sem o consentimento da outra pessoa. Mesmo que a relação tenha começado de forma consensual, a mudança sem aviso configura uma quebra de acordo. No Brasil, essa prática já vem sendo reconhecida como violação sexual mediante fraude.
A jornalista britânica Olivia Petter contou que só percebeu ter sido vítima de stealthing anos depois, ao conhecer o termo. Situações parecidas foram relatadas contra o ator Russell Brand e acenderam o debate sobre a necessidade de leis mais claras contra esse tipo de violência.
Gaslighting sexual: quando a manipulação apaga a realidade da vítima
Manipular alguém a ponto de fazê-la duvidar de sua própria percepção também é violência. O gaslighting sexual é um tipo de abuso psicológico em que a vítima se sente culpada, confusa ou invalidada por experiências impostas. No Brasil, a prática pode ser enquadrada como violência psicológica desde 2021.
A atriz Evan Rachel Wood deu um depoimento emblemático ao Congresso dos Estados Unidos: “Fui levada a acreditar que os abusos eram culpa minha”. Relatos como esse mostram como o abuso emocional, muitas vezes invisível, pode marcar profundamente a saúde mental da vítima.
Revenge porn: exposição íntima é crime
O revenge porn, ou pornografia de vingança, refere-se à divulgação de imagens íntimas sem consentimento — seja por vingança, ameaça ou chantagem. Desde 2018, essa conduta é considerada crime no Brasil, com pena de até cinco anos de prisão.
A atriz Mischa Barton passou por isso quando um ex-namorado tentou vender vídeos íntimos sem sua autorização. A artista obteve uma liminar que impediu a divulgação das imagens e falou publicamente sobre o trauma e a sensação de violação.
Sexsomnia: quando distúrbio do sono entra em casos de abuso
Mais recentemente, o termo sexsomnia tem aparecido em processos judiciais como argumento de defesa para abusadores. Trata-se de um distúrbio do sono em que a pessoa teria comportamentos sexuais involuntários.
Apesar do reconhecimento médico, especialistas alertam: a condição jamais deve ser usada para invalidar a denúncia de uma vítima. A perícia especializada é essencial nesses casos.
A falta de informação ainda protege os agressores
A desinformação é uma das maiores barreiras para romper o ciclo de violência. Muitas vítimas só conseguem nomear o que viveram anos depois. Por isso, reconhecer essas práticas, mesmo que tardiamente, é o primeiro passo para buscar acolhimento e justiça.

Reconhecer é o primeiro passo e há como pedir ajuda
Com o objetivo de ampliar o acesso à informação, um vídeo educativo com linguagem simples e exemplos reais está sendo produzido e será divulgado nas redes sociais. A ideia é dar visibilidade a esses temas e estimular mulheres a buscarem apoio.
Se você ou alguém próximo já viveu algo semelhante, saiba que não está sozinha. A denúncia pode ser feita na Delegacia da Mulher ou pelo Disque 180. Nenhuma forma de violência deve ser ignorada – e reconhecer o abuso é o primeiro passo para quebrar o silêncio e recomeçar.
Resumo:
Abusos como stealthing, gaslighting sexual e revenge porn ainda são pouco reconhecidos, mesmo quando configuram crimes. A falta de informação impede que muitas mulheres denunciem. Falar sobre essas práticas é fundamental para fortalecer o acolhimento e garantir justiça.
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