A Academia Brasileira de Letras (ABL) deu um passo histórico nesta quinta-feira (10) ao eleger a escritora Ana Maria Gonçalves como sua nova imortal. Aos 54 anos, ela se tornou a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira na instituição, que existe há 128 anos. Além disso, é atualmente a integrante mais jovem do grupo.
Autora do aclamado romance Um defeito de cor, Ana recebeu 30 dos 31 votos possíveis e assumirá a cadeira de número 33, anteriormente ocupada pelo linguista Evanildo Bechara, falecido em 2025. A eleição representa não apenas o reconhecimento de sua trajetória, mas também uma mudança importante na representatividade da Academia.
Um defeito de cor
Mineira de Ibiá, Ana Maria Gonçalves iniciou a carreira como publicitária antes de se dedicar integralmente à escrita. Seu nome ganhou destaque nacional com o romance Um defeito de cor, publicado em 2006. A obra, que mistura ficção e fatos históricos, reconstrói a trajetória de uma mulher africana escravizada no Brasil do século XIX e é considerada uma das mais importantes do século XXI.
Em 2007, o livro foi vencedor do Prêmio Casa de las Américas, e, em 2021, foi eleito o melhor romance brasileiro do século por um júri da Folha de S.Paulo. Com mais de 900 páginas, o livro se tornou leitura obrigatória em escolas, universidades e clubes de leitura, e influenciou toda uma nova geração de escritores e leitores interessados em revisitar a história do Brasil sob a ótica da população negra.
Carreira internacional e ativismo cultural
Além de romancista, Ana Maria Gonçalves é também roteirista, dramaturga, professora e curadora de projetos culturais. Já foi escritora residente em universidades norte-americanas como Stanford, Tulane e Middlebury, e é referência quando o assunto é escrita criativa e literatura afro-brasileira.
Seu trabalho ultrapassa as páginas dos livros: ela atua na formação de novos autores, participa de debates públicos sobre racismo estrutural, identidade e pertencimento, e tem sido uma voz essencial no fortalecimento das narrativas negras dentro e fora do país.
Um novo tempo na ABL
A eleição de Ana Maria Gonçalves marca mais um movimento de renovação na Academia Brasileira de Letras, que nos últimos anos passou a incluir nomes como o do líder indígena Ailton Krenak e da jornalista Míriam Leitão. A chegada de Ana Maria representa também um avanço simbólico e concreto na luta por diversidade nas instituições culturais brasileiras.
Mais do que um feito individual, sua presença na ABL abre portas e inspira futuras gerações de escritoras negras a ocuparem espaços historicamente negados.
Resumo:
A escritora Ana Maria Gonçalves foi eleita para a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, tornando-se a primeira mulher negra da história da ABL. Autora do premiado Um defeito de cor, Ana é também professora, roteirista e ativista cultural, e sua entrada simboliza um importante avanço na representatividade da literatura brasileira.
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