Após anos de expectativa, o atual Dalai Lama — Tenzin Gyatso — confirmou que irá reencarnar, dando continuidade à linhagem espiritual que guia o budismo tibetano há séculos. A declaração, feita pouco antes de seu aniversário de 90 anos, tranquiliza os fiéis sobre o futuro da tradição.
Embora no passado o líder tenha cogitado ser o último da linhagem, agora ele reafirma que os rituais de sucessão continuarão. Segundo o budismo tibetano, o Dalai Lama é a manifestação de Avalokiteshvara, o Buda da Compaixão. Por isso, acredita-se que, ao morrer, ele renasce em um novo corpo, e cabe aos monges identificar essa criança especial.
Como acontece a escolha do ‘novo’ Dalai Lama
Após a morte do líder espiritual, monges iniciam uma busca minuciosa para encontrar seu sucessor. A tradição milenar envolve pistas deixadas antes do falecimento, além da análise de sinais místicos e características físicas específicas.
Entre os indícios considerados estão a direção da fumaça da cremação do líder anterior, visões espirituais e marcas no corpo da criança. Para confirmar a reencarnação, os monges oferecem objetos do antigo Dalai Lama à criança escolhida. Se ela reconhecer os itens e demonstrar familiaridade, é um forte sinal de que a linhagem espiritual continua viva.
No caso do atual líder, nascido em 1935, relatos indicam que monges procuravam por sinais como orelhas grandes, pernas com marcas semelhantes às de tigre e palmas com o desenho de uma concha marinha.
A trajetória de Tenzin Gyatso e os desafios políticos
Tenzin Gyatso foi reconhecido como Dalai Lama aos dois anos, em 1937, e recebeu o título oficialmente dois anos depois. Natural de uma vila no Tibete, ele passou a infância em um mosteiro, onde estudou teologia e filosofia budista.
Aos 15 anos, foi proclamado chefe de Estado do Tibete, em meio ao aumento da tensão com a China. No entanto, em 1959, com a repressão chinesa, ele se exilou na Índia — onde vive até hoje. Em 1989, recebeu o Prêmio Nobel da Paz por sua luta pacífica em prol da autonomia do povo tibetano.
Recentemente, o líder reafirmou que seu sucessor nascerá fora da China e orientou os fiéis a rejeitarem qualquer nome apresentado pelo governo chinês. O país, por sua vez, deseja controlar a nomeação do ‘novo’ Dalai Lama, como parte de sua estratégia política de domínio da região do Tibete.
O futuro do ‘novo’ Dalai Lama e a continuidade da linhagem
Durante o anúncio mais recente, o líder espiritual afirmou que, agora que completou 90 anos, começará a dar sinais mais claros sobre sua futura reencarnação. Segundo Samdhong Rinpoche, autoridade ligada ao Dalai Lama, ainda não há carta oficial com as instruções, mas esse documento deve ser divulgado em breve.
Há ainda a possibilidade de que o sucessor seja uma mulher — algo que o líder já sugeriu publicamente em outras ocasiões. Para Thupten Jinpa, tradutor e ex-monge que acompanhou o Dalai Lama por décadas, a linhagem espiritual não depende de uma única alma reencarnada, mas de uma conexão profunda entre os escolhidos ao longo da história.
Assim, mesmo em tempos de conflito geopolítico e modernização acelerada, a tradição do budismo tibetano segue viva — guiada por rituais ancestrais e pela fé de milhões de devotos espalhados pelo mundo.
Resumo final:
Aos 90 anos, Tenzin Gyatso confirma que a linhagem do Dalai Lama continuará por meio da reencarnação. O sucessor será reconhecido por sinais espirituais e tradições budistas, sem influência do governo chinês. O líder também já cogitou que a próxima encarnação seja uma mulher, sinalizando abertura para mudanças dentro da própria tradição.
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