O período de férias escolares é sinônimo de passeios, brincadeiras e momentos em família. Mas para quem convive com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), esse momento também exige planejamento e sensibilidade.
Mudanças na rotina, excesso de estímulos e ambientes desconhecidos podem gerar desconforto para algumas crianças autistas – e, por isso, é essencial pensar em estratégias que tornem esse período mais previsível, seguro e prazeroso.
O psicólogo Fábio Coelho, especialista em TEA e diretor da Clínica Mosaico, traz orientações práticas para organizar viagens, lidar com imprevistos e incluir atividades sensoriais simples no dia a dia. O objetivo é o mesmo: garantir que todos se divirtam, respeitando as particularidades de cada criança.
Por que viagens podem ser desafiadoras para pessoas com TEA?
Muitas pessoas com TEA têm dificuldade para lidar com mudanças, não lidam bem com frustrações e podem ser mais sensíveis a sons, cheiros ou luzes. Isso faz com que momentos que fogem do habitual – como viagens – demandem preparação extra. “É essencial ensinar habilidades emocionais desde cedo para ajudar na regulação e no enfrentamento dessas situações”, afirma o psicólogo.
Entre os principais pontos de atenção estão a rigidez cognitiva (dificuldade para aceitar mudanças), a baixa tolerância à frustração, a necessidade de previsibilidade e a autorregulação emocional.
Por isso, a dica é antecipar o que vai acontecer, oferecer suporte afetivo e criar alternativas para momentos inesperados.
3 dicas para tornar uma viagem mais tranquila com autistas
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Crie uma rotina visual
Use imagens, fotos ou vídeos para apresentar o destino e montar um cronograma simples com as etapas da viagem. Isso ajuda a criar previsibilidade e reduz a ansiedade. -
Prepare um kit de conforto
Inclua itens que tragam segurança à criança: brinquedos preferidos, fones abafadores de som, mantas, snacks familiares e objetos sensoriais que ajudam a acalmar. -
Treine a flexibilidade com leveza
Fale sobre mudanças de planos de forma lúdica, use jogos ou simulações para mostrar que tudo bem mudar de caminho às vezes. Isso pode ajudar a criança a lidar melhor com imprevistos durante a viagem.
Atividades inclusivas para curtir as férias com crianças autistas
Para quem vai ficar em casa ou prefere programas mais tranquilos, também é possível garantir diversão com atividades simples, adaptadas às preferências de cada criança. O segredo está em observar o que desperta interesse e respeitar os limites sensoriais e sociais.
Veja 5 sugestões que funcionam bem para diferentes idades:
1. Esportes em grupo com adaptações
Jogos como basquete, futebol e queimada podem estimular a socialização, desde que sejam ajustados à realidade da criança. Use equipamentos apropriados, ofereça apoio físico no início e valorize cada avanço, como passar a bola ou marcar um ponto.
2. Brincadeiras sensoriais com bexigas
Encha bexigas com grãos, areia ou gel para criar texturas diferentes. Explore junto com a criança o que é leve, pesado, áspero ou gelado. Essa é uma forma divertida de estimular os sentidos e enriquecer o vocabulário.
3. “Eu sou o carrinho” com pista no chão
Cole fitas adesivas no chão formando um circuito. A criança pode andar sobre ele como se fosse um carrinho ou guiar miniaturas. A brincadeira trabalha noção espacial, atenção e coordenação.
4. Oficina de pintura livre
Disponha tintas, cartolinas e pinceis em um local onde a sujeira não seja um problema. Estimule o uso das mãos e dos pés, incentive a mistura de cores e promova a expressão criativa. Ao final, monte uma “galeria” com os trabalhos feitos.
5. Ampulheta sensorial para momentos difíceis
Encha duas garrafas PET com água colorida e conecte-as para formar uma ampulheta caseira. Observar o líquido escorrendo pode ajudar a criança a se acalmar durante crises de estresse ou frustração.
É necessário analisar a individualidade de cada um
É importante lembrar que cada autista é único. Há pessoas com comprometimentos importantes e outras com habilidades excepcionais, inclusive com alta performance acadêmica ou profissional.
Em muitos casos, o autismo vem acompanhado de outras deficiências (como intelectual ou sensorial), o que torna ainda mais importante a personalização de atividades e o respeito às particularidades. Como diz a frase conhecida entre famílias atípicas: “Conhecer um autista não é conhecer o autismo”.
A importância da inclusão e da escuta
Mais do que oferecer atividades adaptadas, é preciso promover uma cultura de inclusão afetiva: onde a criança se sinta acolhida, respeitada e valorizada por quem ela é. Famílias, escolas, terapeutas e amigos têm papel essencial nessa construção.
Ao planejar as férias com uma criança autista, lembre-se: o mais importante não é seguir uma agenda cheia, mas construir momentos de conexão verdadeira. Ouvir, adaptar, acolher e incluir são os verbos que tornam qualquer férias inesquecíveis.
Resumo:
Viajar ou curtir as férias com uma criança autista pode ser desafiador, mas também extremamente gratificante. Com planejamento, sensibilidade e adaptações simples, é possível tornar os dias mais leves, previsíveis e inclusivos. Atividades como pintura, brincadeiras sensoriais e esportes com mediação ajudam na socialização e no bem-estar. A chave está em respeitar a individualidade de cada criança e promover, acima de tudo, o acolhimento.

Lígia Menezes
Lígia Menezes (@ligiagmenezes) é jornalista, pós-graduada em marketing digital e SEO, casada e mãe de um menininho de 3 anos. Autora de livros infantis, adora viajar e comer. Em AnaMaria atua como editora e gestora. Escreve sobre maternidade, família, comportamento e tudo o que for relacionado!