Você tem certeza de que viveu uma determinada situação, consegue descrevê-la em detalhes, mas descobre que nada daquilo aconteceu?
Essa sensação intrigante pode ser explicada por um fenômeno real: a síndrome da falsa memória. A condição envolve a criação de lembranças que parecem verdadeiras, mas são completamente inventadas pelo cérebro – e isso acontece com muito mais frequência do que se imagina.
O que é a síndrome da falsa memória?
A falsa memória ocorre quando alguém recorda um evento que nunca aconteceu ou distorce significativamente algo que de fato ocorreu. Apesar de parecer algo incomum, o cérebro humano está propenso a esse tipo de erro – e ele pode ser provocado por fatores psicológicos, emocionais ou até sugestões externas.
Pesquisas mostram que as memórias são armazenadas em partes diferentes do cérebro, como se fossem peças de um quebra-cabeça. A amígdala cerebral, por exemplo, decide quais memórias devem ser guardadas com base na carga emocional. Quando uma lembrança é incompleta ou pouco clara, o cérebro tende a “preencher os espaços vazios” com informações inventadas. É o que explica por que algumas memórias são tão vívidas, mesmo que sejam falsas.
Experimentos mostram como as falsas memórias são formadas
Um experimento liderado pela psicóloga Julia Shaw demonstrou como o cérebro pode ser enganado. Estudantes foram convencidos de que haviam cometido um crime na adolescência, mesmo que nada disso tivesse acontecido. Bastou a combinação de informações reais com sugestões sutis para que os participantes criassem memórias falsas, com descrições ricas em detalhes.
Por que o cérebro erra?
Diversas situações favorecem o surgimento de memórias falsas. Entre elas:
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Percepção imprecisa: quando não se registra todos os detalhes de um evento, o cérebro completa com “pedaços inventados”.
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Interferência de novas informações: um comentário de alguém ou uma imagem vista depois pode alterar o que você pensa lembrar.
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Erro de atribuição: lembrar de algo real, mas confundir o momento em que ocorreu.
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Emoções intensas: quanto mais emocional é a experiência, maior a chance de distorções nos detalhes.
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Sugestionabilidade: pessoas mais propensas a dissociar experiências reais são mais vulneráveis a criar falsas memórias, especialmente sob influência de terapias que usam hipnose ou imagens guiadas.
Perigos e consequências
Embora algumas falsas memórias sejam inofensivas – como acreditar que pegou as chaves antes de sair de casa – outras podem ter efeitos devastadores.
Em casos judiciais, por exemplo, testemunhos baseados em memórias falsas já levaram à condenação de inocentes. Há também situações em que pessoas passam a acreditar em experiências traumáticas que nunca ocorreram, o que pode desencadear sérios problemas emocionais.
A Associação Americana de Psicologia (APA) chegou a emitir recomendações alertando sobre o risco de se confiar cegamente em memórias “recuperadas” durante terapias, especialmente quando envolvem alegações de abuso antigo.
Memória falsa ou confusão?
A diferença entre uma memória falsa e uma simples confusão está na certeza. Na memória falsa, a pessoa acredita firmemente que aquilo aconteceu. Já na confusão, há dúvidas ou lacunas na lembrança.
Resumo:
O cérebro é capaz de criar memórias falsas com riqueza de detalhes, mesmo de eventos que nunca ocorreram. Esse fenômeno, conhecido como síndrome da falsa memória, pode surgir por influência de emoções, sugestões externas ou falhas na percepção. Embora algumas lembranças distorcidas sejam inofensivas, outras podem ter consequências graves, principalmente em contextos jurídicos ou terapêuticos.
Lígia Menezes
Lígia Menezes (@ligiagmenezes) é jornalista, pós-graduada em marketing digital e SEO, casada e mãe de um menininho de 3 anos. Autora de livros infantis, adora viajar e comer. Em AnaMaria atua como editora e gestora. Escreve sobre maternidade, família, comportamento e tudo o que for relacionado!