Olá, pessoal.
Na coluna passada, falamos sobre o AVC e seus fatores de riscos. Neste mês, falaremos sobre o diabetes, fator de risco não só para o AVC, mas também para outras condições graves de saúde. O Diabetes Mellitus (DM) é uma doença caracterizada pela elevação persistente dos níveis de glicose no sangue. É considerada uma doença crônica cujas consequências, quando não há controle adequado, podem implicar complicações renais, cardíacas e circulatórias, podendo ser irreversíveis em alguns casos.
Segundo uma publicação recente da International Diabetes Federation (IDF), o Brasil ocupa a 6ª posição em número de casos. São 16,6 milhões de pessoas entre 20 e 79 anos com a doença no país, e 589 milhões em todo mundo. A gravidade do problema se evidencia pelos dados de mortalidade: em 2024, o diabetes esteve relacionado a 3,4 milhões dos óbitos no mundo e 111 mil mortes no Brasil.
A doença tem dois tipos principais e outras causas menos frequentes. Para compreendê-la, é importante saber que alguns órgãos como, o pâncreas, fígado e intestino, têm como função manter o equilíbrio do organismo, produzindo hormônios e substâncias que regulam o metabolismo da glicose. O pâncreas é o principal deles. Dentre suas diversas funções, está a produção de insulina, hormônio que permite a entrada da glicose nas células, reduzindo sua concentração no sangue. Sua ação reguladora é fundamental para o manter os níveis glicêmicos sob controle.
Tipos de diabetes
Diabetes tipo 1(DM1): representa cerca de 10 % dos casos, com diagnóstico mais frequente em crianças e adolescentes. Ocorre por um mecanismo autoimune, em que o sistema imunológico produz anticorpos que destroem as células beta do pâncreas, responsáveis pela produção de insulina. Nesses casos, o uso de insulina é obrigatório e não há outras opções terapêuticas.
Diabetes tipo 2 (DM2): é o tipo mais comum e vem aumentando nos últimos anos. Está associado a fatores como alimentação inadequada, sedentarismo, obesidade, e envelhecimento populacional. Incialmente, com a resistência à ação da insulina (o hormônio não consegue agir adequadamente), a glicose permanece no sangue elevando a glicemia. Posteriormente, o pâncreas, na tentativa de corrigi-la, aumenta a produção de insulina que continua não agindo devido à resistência. Nesse ritmo, as células betas entram em exaustão, reduzindo a produção hormonal.
Diabetes gestacional: relacionado com as alterações hormonais da gestação que aumentam a resistência à insulina, geralmente no 2º e 3º trimestre da gravidez. A condição pode gerar riscos específicos para a mãe e o bebê, justificando a realização do rastreio de diabetes no pré-natal.
Outras causas: causado por uso de medicamentos, doenças pancreáticas ou defeitos genéticos específicos.
Quadro clínico e diagnóstico
São sintomas clássicos do diabetes:
– Aumento da frequência urinária(poliúria);
– Sede excessiva(polidipsia);
– Perda de peso involuntária;
– fadiga e cansaço inexplicáveis;
– Visão embaçada;
– Infecções e dificuldade na cicatrização de feridas.
O diagnóstico é feito com a realização de exames laboratoriais. Segundo a American Diabetes Association (ADA) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), os critérios diagnósticos são:
– Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL em duas ocasiões;
– Glicemia ≥ 200 mg/dL duas horas após 75 g de glicose – Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG);
– Glicemia aleatória ≥ 200 mg/dL com sintomas; ou HbA1c ≥ 6,5 %.
Valores intermediários (pré-diabetes):
– Glicemia de jejum: 100–125 mg/dL
– HbA1c: 5,7–6,4%
– TOTG (2h): 140–199 mg/dL
Tratamento
O tratamento deve ser individualizado, de acordo com as necessidades de cada paciente. De forma geral, o tratamento não medicamentoso como a mudança de hábitos e estilo de vida (alimentação equilibrada e saudável, prática regular de exercícios) são válidas para os dois tipos. Em casos de pré-diabetes, essas medidas reduzem em até 50 %o risco de progressão para diabetes.
Tratamento medicamentoso
-A insulina é sempre indicada para DM1 e nas fases avançadas doDM2(quando a células betas perdem a capacidade de produção). Existem diferentes tipos de insulina (Regular, Lispro/Asparte, NPH, Glargina/Degludec) que se diferem quanto ao início, pico e duração de ação. As indicações devem ser realizadas de acordo com cada perfil clínico e condição do paciente.
DM2:
Biguanidas – Reduz a produção hepática de glicose e aumenta a sensibilidade à insulina nos tecidos periféricos. Ex.: Metformina.
Sulfonilureias – Estimulam a secreção de insulina pelas células beta pancreáticas de forma independente da glicemia. Ex.:Glibenclamida, gliclazida, glimepirida).
Glinidas – Agem de forma semelhante à sulfonilureias, mas têm ação mais curta e rápida. Ex.: Repaglinida, Nateglinida.
Inibidoresalfa-glicosidase – Inibem a enzima alfa-glicosidase intestinal, retardando a absorção de carboidratos e reduzindo picos após as refeições(pós-prandiais) de glicose. Ex.: Acarbose.
Glitazonas – Aumentam a sensibilidade à insulina por meio da ativação do receptor PPAR-γ, melhorando a captação de glicose em tecidos periféricos. Ex.: Pioglitazona.
Inibidores DPP 4- inibem a enzima DPP-4, prolongando a ação dasincretinas (GLP-1 e GIP), aumentando a secreção de insulina e reduzindo a de glucagon de forma dependente da glicemia. Ex.: Sitagliptina, vildagliptina, saxagliptina.
Análogos de GLP-1-miméticos da incretina GLP-1, estimulam secreção de insulina e inibem glucagon de forma dependente da glicemia, retardam o esvaziamento gástrico e promovem saciedade. Ex.: Exenatida, liraglutida, dulaglutida.
Inibidores SGLT-2-Inibem o cotransportador de sódio-glicose 2 nos túbulos renais, promovendo a excreção da glicose pela urina (glicosúria) e reduzindo a glicemia. Ex.: Dapagliflozina, empagliflozina, canagliflozina.
Cada classe tem diferentes mecanismos de ação, a escolha do tratamento deve ser pautada na eficácia, tolerabilidade do paciente e condições de acesso aos medicamentos. Muitos desses medicamentos são oferecidos pelo SUS, o que facilita o controle da glicemia e ajuda na prevenção de complicações.
Novos medicamentos
Nos últimos anos, surgiram novos medicamentos como a semaglutida, (agonistas do receptor GLP-1), aprovados para o tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. Esses medicamentos reduzem a glicemia, diminuem o apetite, atrasam o esvaziamento gástrico e promovendo sensação de saciedade.
Entretanto, o uso indiscriminado para perda de peso tem crescido, o que levou a ANVISA intervir ao regulamentar as vendas que, agora, só podem ser realizadas mediante a apresentação de receita controlada. Vale destacar que esses fármacos têm alto custo, efeito temporário (muitas pessoas readquirem o peso perdido quando cessam o uso) e efeitos adversos importantes, como náuseas, vômitos e dores abdominais.
Importância do controle glicêmico e prevenção
O descontrole glicêmico crônico destrói a microcirculação e acarreta complicações como doenças: cardiovasculares (AVC e infarto), insuficiência renal crônica, retinopatia diabética (cegueira), neuropatias periféricas e amputações. O diabetes é controlável, porém exige esforço e dedicação para evitar a progressão e agravos da doença.
Importante ressaltar que a rotina moderna (maus hábitos alimentares, sedentarismo) tem gerado uma verdadeira epidemia de diabetes. A projeção é que, até 2045, o número de casos global aumente para 783 milhões. Diante desse cenário alarmante, para evitá-la e não entrar nesta estatística, a adoção de hábitos saudáveis, com boa alimentação, exercícios físicos regulares e acompanhamento médico periódico, pode fazer toda a diferença.
Pensem nisso e cuidem-se.
Até a próxima!