Na última quarta-feira (25), o Brasil parou diante de uma notícia devastadora: um adolescente matou os pais e o irmão mais novo, de apenas 3 anos, em Itaperuna, no Noroeste Fluminense. O jovem, de 14 anos, confessou o crime e chocou os investigadores com uma declaração. Ele chegou a dizer que “faria tudo de novo”, frase que, apesar de impactante, precisa ser analisada com cautela.
Segundo informações da Polícia Civil, o crime ocorreu no último sábado (21), mas os corpos só foram encontrados na quarta-feira (25), após familiares sentirem falta da família e buscarem ajuda. O garoto teria cometido o triplo homicídio após uma briga com os pais, que não aprovavam um relacionamento virtual que ele mantinha com uma adolescente de Mato Grosso. Eles se conheceram por meio de um jogo online.
O adolescente esperou os pais dormirem, pegou uma arma escondida sob a cama — registrada no nome do pai, que tinha permissão para porte como CAC (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador) — e atirou neles e no irmão. Depois, tentou apagar os vestígios usando produtos químicos e arrastou os corpos até a cisterna da casa da família, no distrito de Comendador Venâncio. Tudo isso foi feito por ele, sozinho.

Mentiras para encobrir a tragédia familiar
Nos dias seguintes ao crime, o jovem mentiu para a avó e o tio, afirmando que os pais haviam levado o irmão ao hospital porque ele teria engolido um caco de vidro. A história não convenceu. Os familiares procuraram os hospitais da região, mas não encontraram registros de atendimento em nome dos pais ou da criança. Diante do desaparecimento e do silêncio do garoto, a família procurou a polícia.
Quando os agentes chegaram à residência, sentiram um forte odor vindo da cisterna. Com o auxílio do Corpo de Bombeiros, os corpos foram localizados e encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML). Ao ser levado à delegacia, o adolescente confessou o crime. Foi apreendido em flagrante e deve responder por ato infracional análogo a triplo homicídio e ocultação de cadáver.
O que está por trás da fala “faria tudo de novo”?
A frase dita pelo garoto — “faria tudo de novo” — rapidamente viralizou, mas especialistas alertam que não se deve tirar conclusões apressadas. Para o psicólogo Luiz Mafle, é possível que essa fala esteja relacionada a um mecanismo de defesa. “Em situações extremas, adolescentes podem dissociar a emoção do que aconteceu. Essa frieza pode esconder um sofrimento muito profundo”, explica.
Ele também destaca a importância de não patologizar o jovem sem uma análise cuidadosa. “Reduzir esse comportamento a rótulos como psicopatia ou sociopatia é simplista. Antes de julgar, precisamos compreender como essa subjetividade foi formada, quais vínculos estavam ausentes e o que foi silenciado ao longo dos anos.”
Especialistas explicam as causas por trás de tragédias como a de Itaperuna
A psicóloga, hipnoterapeuta e arteterapeuta Brunna Dolgosky aponta que comportamentos extremos na adolescência geralmente nascem de um acúmulo de fatores: traumas silenciosos, negligência emocional, isolamento social e vínculos afetivos frágeis. “Um adolescente não explode do nada. Antes disso, ele implodiu. Quando não é possível elaborar os sentimentos, a dor pode sair de formas que ninguém imagina”, afirma.
Brunna também destaca alguns sinais que precisam ser observados por pais, responsáveis e educadores: isolamento excessivo, agressividade frequente, falas com teor violento ou desesperançado, perda de interesse por atividades antes prazerosas, além de mudanças abruptas na rotina. “Tudo isso pode indicar que o adolescente está pedindo socorro, mesmo que em silêncio.”
Como a família pode agir antes que situações como essa ocorram?
Apesar de casos como o de Itaperuna serem raros, eles reforçam a importância de se criar um ambiente emocionalmente seguro em casa. O adolescente precisa se sentir pertencente e compreendido. A escuta ativa, o diálogo constante e o acolhimento emocional são ferramentas fundamentais na prevenção de comportamentos destrutivos.
Muitas vezes, o jovem só precisa ser ouvido com atenção. Quando não há espaço para expressar o que sente, ele pode acabar buscando conexão em ambientes virtuais — como aconteceu nesse caso. Portanto, é papel da família construir vínculos reais, promover conversas abertas e mostrar que é possível sentir, errar e crescer sem medo do julgamento.
Resumo: A tragédia vivida por uma família em Itaperuna revelou muito mais do que um crime: escancarou a importância de olhar com mais cuidado para a saúde emocional dos adolescentes. A ausência de vínculos, a falta de escuta e o isolamento digital são alguns dos fatores que, juntos, podem resultar em atos extremos. Para especialistas, é urgente transformar o ambiente familiar em um espaço de acolhimento, diálogo e afeto.
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