Cuidar da aparência deveria ser um gesto de amor-próprio, mas, muitas vezes, se transforma em mais uma cobrança no dia a dia. O fenômeno conhecido como beauty burnout descreve exatamente isso: o esgotamento emocional, físico e financeiro que surge quando a busca por padrões estéticos se torna um fardo. Essa pressão constante faz com que o autocuidado perca o sentido e gere ansiedade, tristeza e baixa autoestima.
Além disso, a pessoa passa a enxergar o corpo não como uma forma de expressão, mas como uma obrigação a ser mantida a qualquer custo. O resultado? Exaustão. Um sentimento de que a aparência nunca está próxima ao ideal. “Quando a estética vira um critério central de aceitação social, a pessoa passa a viver em função do outro, e não por si mesma”, explica o psicólogo Luiz Mafle em entrevista à AnaMaria.

Redes sociais: o berço da indústria da beleza
É impossível negar o papel das redes sociais na intensificação do beauty burnout. Afinal, os feeds exibem imagens idealizadas e editadas, criando padrões que parecem naturais e obrigatórios — mas na realidade são apenas imagens super manipuladas. Muitas mulheres entram em um ciclo desgastante: comparam-se, sentem frustração e acabam consumindo ainda mais na tentativa de atingir o ideal.
Por trás disso tudo, há uma indústria que lucra com a insegurança: novos produtos e procedimentos são lançados para “corrigir” defeitos que, muitas vezes, sequer existiam. Como afirma Luiz, “as redes sociais acabam reforçando padrões inatingíveis. Você compara, frustra, consome… e recomeça.”
Os principais sinais de alerta do beauty burnout
Nem sempre é fácil perceber quando o cuidado com a beleza deixou de ser leve e virou um martírio. Contudo, alguns sinais podem ajudar a identificar esse momento. Quando o autocuidado se transforma em obrigação e começa a gerar culpa por não ter cumprido uma rotina (como esquecer o skincare por um dia, por exemplo), é hora de repensar. Gastos excessivos que comprometem o orçamento e o sentimento constante de insegurança com a própria imagem também são indícios.
Além disso, o isolamento social pode surgir: a mulher passa a evitar sair de casa por acreditar que nunca está “pronta o suficiente”. Como alerta o especialista, “quando o cuidado da beleza vira o único foco e qualquer outra coisa perde o prazer, é essencial buscar ajuda.”
Como transformar o autocuidado e se proteger do beauty burnout
A boa notícia é que dá, sim, para resgatar o prazer nas rotinas de autocuidado. O primeiro passo é refletir se as práticas de beleza fazem sentido para você ou apenas servem para atender às expectativas dos outros? A ideia é abandonar a busca pela perfeição e priorizar o conforto e a autenticidade.
Escolher rituais que nutram o corpo e a alma, como um banho relaxante, um momento de leitura ou um simples cuidado com a pele, ajuda a trazer leveza. “Autocuidado deve ser liberdade, não cobrança. É para se sentir bem, não para se sentir mal”, reforça o especialista.
Além disso, vale a pena reduzir o tempo diante das telas e se reconectar com pequenos prazeres que não dependem da aparência. Isso contribui para fortalecer a autoestima de dentro para fora.

Quando o beauty burnout exige apoio profissional?
Em alguns casos, o impacto do beauty burnout atinge níveis que exigem acompanhamento psicológico. Isso acontece quando a pessoa passa a apresentar sinais de depressão, ansiedade intensa, transtornos alimentares ou tristeza persistente. Nesse momento, procurar ajuda é essencial para reconstruir uma relação mais saudável com o próprio corpo. A psicoterapia contribui para identificar as feridas emocionais escondidas por trás da busca incessante pela beleza e para resgatar um olhar mais amoroso e realista sobre si mesma.
Quem está mais vulnerável ao beauty burnout?
Embora qualquer pessoa possa se ver diante do beauty burnout, algumas estão mais suscetíveis. Entre elas, aquelas que enfrentaram críticas constantes à aparência na infância, que cresceram em ambientes muito competitivos ou que atuam em áreas em que a imagem é constantemente avaliada, como artistas e influenciadoras.
A falta de representatividade de belezas diversas também reforça a pressão por padrões únicos e excludentes. Por isso, é tão importante ampliar o olhar e valorizar outras qualidades além da estética. Como destaca Mafle: “Quando a autoestima é construída com base em múltiplas qualidades, a beleza passa a ser apenas um ponto, e não o principal.”
Resumo: O beauty burnout surge quando o autocuidado vira mais uma obrigação do que um momento de prazer. Identificar os sinais de alerta, ressignificar a relação com a beleza e buscar apoio quando necessário são atitudes que ajudam a transformar o cuidado com a aparência em um ato de amor-próprio e bem-estar.
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