A solidão virou parte da rotina de muita gente. De 2003 a 2020, o tempo médio de convivência caiu drasticamente – e os mais afetados foram os jovens. Em apenas duas décadas, o tempo que passam com amigos caiu mais de 70%. No Brasil, cerca de 36% da população relata se sentir solitária, segundo levantamentos recentes.
A nova temporada de Black Mirror traz esse tema à tona no episódio “Pessoas Comuns”. Nele, uma mulher só consegue sobreviver com um serviço de assinatura que mantém seu cérebro conectado à nuvem. O preço dessa solução é alto: a aparente companhia se transforma em uma prisão tecnológica. A história mostra até onde somos capazes de ir para não encarar o vazio da solidão.
Estudos já classificam a solidão como um problema de saúde pública, capaz de afetar o corpo, a mente e o modo como nos relacionamos. De jovens a idosos, ninguém está imune. O excesso de redes, a falta de tempo e a vida performática ajudam a explicar esse sentimento crescente de desconexão.
Conexões de qualidade
Nem sempre a ausência de pessoas é sinônimo de solidão. Há quem se sinta só, mesmo cercado de colegas, familiares ou seguidores. E isso tem muito a ver com a qualidade das conexões. Quando os vínculos se tornam superficiais ou baseados apenas em aparência e aprovação digital, o espaço para trocas verdadeiras diminui.
Impactos na saúde
Sentir-se só não é apenas um problema emocional. A solidão tem impacto direto na saúde, podendo aumentar os riscos de doenças cardiovasculares, depressão, ansiedade e até mesmo levar a quadros mais graves, como ideação suicida ou distúrbios psicóticos, explica Marcos Torati, psicólogo, professor e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP.
Nos últimos anos, também cresceu o número de pessoas que tentam preencher esse vazio com outras estratégias: consumo excessivo, trabalho em excesso, compulsões, e até relações passageiras que apenas acentuam o sentimento de desconexão.
É possível sair da bolha?
Romper com a solidão exige mais do que mensagens instantâneas ou curtidas. Implica coragem para sair da zona de conforto e cultivar vínculos reais. Isso envolve tempo, presença e disposição para escutar e ser escutado, sem filtros ou encenações.
Participar de grupos, resgatar amizades antigas, dedicar tempo a encontros presenciais, criar espaços para convivência… tudo isso pode parecer simples, mas é transformador. A chave está em trocar a ilusão de conexão por momentos verdadeiros, ainda que imperfeitos. É na convivência que se forma o senso de pertencimento – e ele é um dos maiores antídotos contra a solidão.

6 atitudes que ajudam a driblar a solidão
– Crie uma rotina de convívio presencial: marque um café com uma amiga, faça uma caminhada em dupla ou almoce com um colega de trabalho fora da tela.
– Participe de grupos com interesses em comum: clubes de leitura, aulas de dança, voluntariado, artesanato ou yoga. Estar em grupo fortalece a autoestima e cria novas conexões.
– Reduza o tempo de tela nas horas livres: troque parte do tempo online por atividades que envolvam pessoas reais, mesmo que seja uma ida à feira, ao parque ou à padaria.
– Reviva amizades antigas: retome o contato com pessoas queridas que ficaram distantes com o tempo. Às vezes, uma mensagem simples pode reacender laços valiosos.
– Frequente lugares públicos com regularidade: visitar sempre o mesmo café, feira ou clube facilita o surgimento de relações espontâneas com outras pessoas do bairro.
– Seja gentil com desconhecidos: um bom dia no elevador, uma conversa com o porteiro ou com a vizinha podem ser o início de novas trocas. Toda conexão começa pequena.
Resumo: