Com a recente declaração de estado de calamidade pública devido às fortes chuvas no Rio Grande do Sul, surge um alerta crucial para a saúde pública: o aumento do risco de leptospirose. Isso porque, em meio às inundações, as águas contaminadas se tornam um ambiente propício para a transmissão dessa doença grave.
Diante desse cenário preocupante, é essencial entender os perigos da leptospirose e as medidas de profilaxia necessárias para proteger a população. Pensando nisso, AnaMaria reuniu informações acerca da chamada ‘doença dos ratos’. Confira a seguir.
O que é leptospirose?
A leptospirose é uma doença infecciosa causada por bactérias do gênero Leptospira, comumente encontradas em ambientes úmidos, como água contaminada por urina de animais infectados, especialmente ratos. Quando ocorrem inundações, essas bactérias são disseminadas, aumentando significativamente o risco de contaminação.
A leptospirose pode variar de uma infecção leve a uma forma grave, podendo causar complicações sérias, como insuficiência renal e hepática, e até mesmo levar à morte se não for tratada adequadamente. Entender os sintomas e como se prevenir é essencial para proteger a saúde durante períodos de inundação, quando aumenta-se o risco de leptospirose.
Sintomas leptospirose
- Febre alta;
- Dores musculares, especialmente na panturrilha;
- Dor de cabeça;
- Calafrios;
- Náuseas e vômitos;
- Icterícia (coloração amarelada da pele e dos olhos);
- Olhos vermelhos;
- Dor abdominal;
- Diarreia;
- Manchas vermelhas na pele (semelhantes à erupção cutânea do sarampo);
- Insuficiência renal;
- Insuficiência hepática;
- Meningite (em casos graves).
Por que o risco de leptospirose aumenta diante de inundações?
O risco de leptospirose aumenta significativamente durante períodos de inundação devido à contaminação das águas por bactérias da doença. Nas inundações, como está acontecendo em diversos municípios do Rio Grande do Sul, as águas pluviais podem se misturar com esgotos e outras fontes de água contaminada, tornando-se um ambiente propício para a disseminação das bactérias.
Além disso, o aumento do nível da água pode levar à invasão de áreas habitadas por roedores, que são os principais portadores da Leptospira, a bactéria causadora da doença. Assim, o contato com águas de enchente contaminadas e a presença de roedores aumentam exponencialmente o risco de contaminação e transmissão da leptospirose durante eventos de inundação.
Como se proteger da leptospirose?
Para se proteger da doença, é crucial evitar o contato com águas de enchente durante períodos de inundação. Essas águas podem estar contaminadas com bactérias, representando um sério risco de leptospirose à saúde. Ao lidar com áreas potencialmente contaminadas, é recomendável usar equipamentos de proteção, como botas de borracha, luvas e roupas apropriadas, para minimizar o contato direto com a pele.
Além disso, é importante manter uma boa higiene pessoal, lavando as mãos cuidadosamente com água e sabão após qualquer contato com água de enchente ou áreas inundadas. Em locais de alto risco ou durante surtos de leptospirose, a vacinação pode ser uma medida preventiva recomendada.
Para reduzir ainda mais o risco de contaminação, é essencial manter o ambiente livre de roedores, realizando limpezas regulares, armazenando alimentos corretamente e vedando possíveis pontos de entrada para os animais. Durante períodos de inundação, evite áreas alagadas ou com acúmulo de água parada, onde os roedores podem proliferar e contaminar o ambiente.
É fundamental, ainda, tratar a água antes de consumi-la, seja fervendo-a ou utilizando métodos de purificação, especialmente se houver suspeita de contaminação. Caso você desenvolva sintomas de leptospirose após contato com águas de enchente, busque imediatamente assistência médica para diagnóstico e tratamento adequados.
O que fazer diante das enchetes no RS?
Com o estado de calamidade que assola diversos municípios do Rio Grande do Sul, a Sociedade Brasileira de Infectologia, juntamente da Sociedade Gaúcha de Infectologia e da Secretaria da Saúde do Estado, emitiu uma nota técnica sobre a situação. O documento faz um alerta para o aumento do risco de leptospirose e orienta sobre as medidas preventivas mais eficazes para evitar a propagação da doença.
Confira um trecho da nota na íntegra:
Algumas revisões e publicações, incluindo um guia de tratamento publicado pela Organização Mundial da Saúde em 2003, apontam que a profilaxia com antimicrobianos pode ser realizada em situações de alto risco, justificando que, apesar de os estudos terem baixo número de participantes, falhas de randomização, serem heterogêneos e essa intervenção aplicada em momentos diferentes da história clínica, há uma tendência de benefício no uso dessas medicações.
A definição de alto risco é genérica na maioria dos artigos e definida em alguns deles como: “indivíduos com exposição contínua de transitar em águas contaminadas ou alagadiças com ou sem lesões de pele. Nadar em área alagada e a ingestão de água contaminada também são consideradas de alto risco”. Não há definição na literatura sobre qual é o intervalo de tempo que seria considerado período prolongado.
Baseado nesses fatos, fazemos a recomendação de que sejam considerados de alto risco e elegíveis para que seja considerado o uso de quimioprofilaxia:
- Equipes de socorristas de resgate e voluntários com exposição prolongada a água de enchente, nos quais os equipamentos de proteção individual não são capazes de prevenir a exposição;
- Pessoas expostas à água de enchente por período prolongado com avaliação médica criteriosa do risco dessa exposição.
Como realizar a quimioprofilaxia:
– Indicação principal: Doxiciclina (apenas com indicação médica, ok?)
- Adultos: 200 mg por via oral, em dose única para pessoas em pós exposição de alto risco;
- Adultos: 200 mg por via oral, 1x/semana enquanto ocorrer a exposição (resgate/socorristas);
- Crianças: 4 mg/kg por via oral, em dose única para crianças em pós exposição de alto risco. Dose máxima de 200 mg.
– Alternativa: Azitromicina (esse também: use apenas com indicação médica, ok?)
- Adultos: 500 mg por via oral, em dose única para pessoas em pós exposição de alto risco.
- Adultos: 500 mg por via oral, 1x/semana enquanto ocorrer a exposição (resgate/socorristas).
- Crianças: 10 mg/kg por via oral, em dose única para crianças em pós exposição de alto risco. Dose máxima de 500 mg.
Observações pertinentes:
- A profilaxia com antimicrobianos não é 100% eficaz, e, mesmo em uso de quimioprofilaxia, a pessoa pode adquirir doença;
- Profilaxia com doxiciclina não deve ser feita em gestantes e lactantes;
- Pele íntegra não é fator protetor em exposição prolongada à água de enchente;
- Há risco elevado de infecção quando as pessoas retornam às suas residências. Devem ser utilizados EPI’s (botas, luvas, calças para proteção) onde normalmente há contato com água suja ou lama.
Acesse a nota técnica na íntegra clicando aqui.
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