Cigarros eletrônicos com luzes LED, desenhos divertidos e até bichinhos virtuais que “morrem” caso seu “dono” pare de tragar. Tudo para atrair a um público que se vicia sem sequer perceber: os adolescentes. Apesar da proibição da Anvisa desde 2009, os vapes, como são chamados, estão cada vez mais acessíveis – e perigosos!
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), em todas as regiões da OMS, o uso de cigarros eletrônicos é maior entre crianças de 13 a 15 anos do que entre adultos. Os jovens impactados pelo uso de vapes já vêm sendo diagnosticados com doenças pulmonares graves. “Os cigarros eletrônicos contêm nicotina em concentração maior que a dos convencionais e a dependência gerada é mais rápida e intensa. Além dos danos aos pulmões, há impacto no neurodesenvolvimento, afetando atenção, aprendizado e controle de impulsos”, afirma a médica Fernanda Aguiar, coordenadora da Medicina Respiratória do Hospital Mater Dei Salvador.
Uma estratégia pensada para atrair adolescentes
Os dispositivos estão sendo desenhados sob medida para o público jovem. “É uma criação absurda que visa manter o adolescente preso ao uso constante. Muitos desses aparelhos têm o formato de pen drives ou brinquedos, dificultando até mesmo o reconhecimento por parte de pais e professores”, aponta Fernanda.
Com sabores doces e aroma agradável, os vapes escondem riscos sérios à saúde. “A estética moderna é uma estratégia de marketing da indústria do tabaco para fisgar adolescentes. Existe até campeonato para ver quem sopra mais longe a fumaça”, diz a especialista.
Pulmões em desenvolvimento sofrem mais
A ilusão de que o vape é inofensivo ainda persiste no imaginário dos adolescentes. Mas a médica é categórica: “o cigarro eletrônico é extremamente nocivo, principalmente para adolescentes, cujos pulmões e vias aéreas ainda estão em formação.”
Seu uso está ligado ao aumento de doenças pulmonares, como a EVALI (lesão pulmonar associada ao uso de vapes), com casos graves que levaram a hospitalizações e sequelas Além disso, há relatos da chamada bronquiolite obliterante, ou “pulmão de pipoca”, uma condição que causa cicatrizes nos bronquíolos e gera falta de ar crônica. “Essa lesão é causada por inalação de substâncias presentes nos aromatizantes”, conta.
Um vício difícil de combater
O impacto da nicotina em adolescentes pode ser devastador: “A dependência ocorre mais rápido e com mais intensidade. E mesmo os vapes vendidos como ‘sem nicotina’ já foram analisados e identificados com a substância”, alerta Fernanda. Entre os sintomas de intoxicação por nicotina, o chamado nick sick, estão vômitos, tontura, salivação excessiva, taquicardia e até convulsões.
Por isso, a abordagem precisa ser cuidadosa. “Muitos adolescentes negam o uso. O ideal é apostar na educação e não no sermão. Precisamos entender os gatilhos, oferecer ajuda e planejar a interrupção com acompanhamento médico”, diz.
O que diz a legislação brasileira
Desde 2009, a Anvisa proíbe a comercialização, importação e propaganda de cigarros eletrônicos no Brasil. A Resolução 46 abrange todos os tipos de vapes, inclusive, os descartáveis e reutilizáveis. A violação pode resultar em multas, interdições e ações civis e criminais. Mesmo assim, o acesso é facilitado via internet e comércio informal.
Sinais de alerta: como identificar o uso de vape por adolescentes
- Mudanças repentinas de comportamento ou humor;
- Queda no rendimento escolar;
- Isolamento e irritabilidade sem motivo aparente;
- Presença de objetos suspeitos (como dispositivos que parecem pen drives);
- Cheiro adocicado incomum nas roupas ou no quarto;
- Tosse persistente ou falta de ar;
- Dor de cabeça, náuseas ou tontura frequente;
- Sinais de intoxicação, como salivação excessiva e batimentos acelerados.
O que fazer se seu filho estiver “fumando pendrive”?
- Eduque com informação de qualidade: compartilhe os riscos reais à saúde e explique que o vape não é uma brincadeira.
- Converse sem julgamento: abra espaço para que seu filho fale sobre suas experiências e dúvidas.
- Monitore discretamente: esteja atento aos hábitos digitais e objetos novos sem invadir a privacidade.
- Reconheça os dispositivos: muitos vapes têm formato de pendrive ou objetos eletrônicos comuns.
- Trabalhe junto à escola: incentive palestras, rodas de conversa e políticas preventivas.
- Busque ajuda especializada: se houver sinais de dependência, procure acompanhamento médico e psicológico.
- Valorize pequenas vitórias: abandonar o vape pode ser um processo longo. Reconhecer avanços é essencial.
A matéria acima foi produzida para a revista AnaMaria Digital (edição 1469, de 16 de maio). Se interessou? Baixe agora mesmo seu exemplar da Revista AnaMaria nas bancas digitais: Bancah, Bebanca, Bookplay, Claro Banca, Clube de Revistas, GoRead, Hube, Oi Revistas, Revistarias, Ubook, UOL Leia+, além da Loja Kindle, da Amazon. Estamos também em bancas internacionais, como Magzter e PressReader.
Resumo: