Bonecas que parecem assustadoramente reais, com traços delicados, pele macia e até cheiro de recém-nascido: esse é o universo dos bebês reborn, uma tendência que se transformou em febre nas redes sociais e em grupos especializados. Mais do que brinquedos, esses bonecos despertam emoções profundas, dividem opiniões e movimentam um mercado bilionário. Neste artigo, vamos entender a origem desse fenômeno, por que ele viralizou, o que dizem os especialistas e como está impactando a cultura contemporânea.
O que é bebê reborn?
Bebê reborn é uma boneca hiper-realista, feita à mão, com técnicas de pintura, aplicação de fios de cabelo e outros detalhes que a tornam visualmente e sensorialmente semelhante a um recém-nascido. O termo “reborn” significa “renascido”, indicando o processo artesanal de transformar um molde simples em uma peça de aparência extremamente realista.
Esse movimento surgiu nos Estados Unidos, na década de 1990, com artistas que buscavam elevar o nível de realismo das bonecas tradicionais. Com o tempo, a técnica se difundiu e chegou a países como o Brasil, onde ganhou força principalmente a partir dos anos 2010, graças às redes sociais e a lojas virtuais especializadas.
Atualmente, é comum encontrar vídeos no TikTok, YouTube e Instagram mostrando pessoas “cuidando” de seus bebês reborn: vestindo, alimentando e até levando-os para passeios em carrinhos, como se fossem crianças reais.
Por que a febre do bebê reborn viralizou ou ganhou força?
O fenômeno ganhou força com a ascensão das redes sociais, onde vídeos que mostram o dia a dia com bebês reborn acumulam milhões de visualizações. A estética hiper-realista impressiona e provoca reações diversas, desde fascínio até desconforto.
Fatores emocionais também são importantes. Para muitas pessoas, os bebês reborn são uma forma de expressar carinho, preencher vazios afetivos ou lidar com traumas relacionados à maternidade, como perdas gestacionais. Além disso, o apelo visual e a possibilidade de criar conteúdos de alto engajamento tornaram o tema popular entre influenciadores e criadores de conteúdo.
Outro aspecto que impulsionou a febre foi o isolamento social durante a pandemia, que intensificou a busca por passatempos e hobbies terapêuticos. Muitas pessoas passaram a investir na coleção, personalização e cuidado desses bonecos como uma maneira de aliviar a solidão.
O que dizem especialistas sobre o bebê reborn?
Especialistas em psicologia destacam que o bebê reborn pode ter efeitos terapêuticos positivos. A psicóloga britânica Wendy Holloway, referência em estudos sobre luto perinatal, aponta que essas bonecas podem ajudar mulheres a processarem perdas ou a se prepararem emocionalmente para a maternidade.
Por outro lado, críticos levantam questões sobre o potencial de gerar confusão emocional ou reforçar o isolamento social, principalmente quando há uma substituição excessiva de vínculos humanos pelo apego aos bonecos.
A socióloga francesa Nathalie Nadaud-Albertini, especialista em cultura pop, analisa o fenômeno como um reflexo das transformações contemporâneas nas relações afetivas e familiares, onde há maior abertura para diferentes formas de expressar vínculos e cuidar do outro.
Pesquisas acadêmicas ainda são limitadas, mas o debate é crescente, especialmente sobre os usos terapêuticos e os possíveis efeitos psicológicos do apego intenso aos bebês reborn.
Como esse fenômeno afeta a cultura atual
O bebê reborn impacta diretamente áreas como consumo, artesanato e até a indústria do entretenimento. O mercado dessas bonecas movimenta milhões de dólares, com modelos que podem custar de R$ 500 a mais de R$ 10 mil, dependendo do nível de realismo e do artista envolvido.
Na cultura digital, criou-se um subgênero de conteúdos, com canais dedicados exclusivamente a mostrar rotinas com os bonecos, produzindo vídeos de “primeiro banho”, “primeiro passeio” e “hora da mamadeira”. Isso alterou a percepção sobre o que é brincar e expandiu a ideia de colecionismo para além do público infantil, com muitos adultos como principais consumidores.
Além disso, o bebê reborn está ligado a discussões sobre maternidade, cuidados e as formas como a sociedade lida com o afeto, a perda e o desejo de proteção. Embora alguns considerem o fenômeno passageiro, muitos especialistas veem nele um sinal das transformações profundas no modo como as pessoas buscam conforto emocional na atualidade.
Curiosidades sobre o bebê reborn
- Segundo levantamento da consultoria Statista, o mercado global de bonecas hiper-realistas, incluindo os bebês reborn, movimentou cerca de US$ 2,5 bilhões em 2024.
- O Brasil está entre os cinco países com maior número de artistas e colecionadores de bebês reborn, sendo destaque em feiras internacionais do setor.
- Celebridades como a atriz norte-americana Kylie Jenner e a influenciadora Charli D’Amelio já publicaram fotos interagindo com bebês reborn, impulsionando ainda mais a popularidade do fenômeno.