Falar sobre a morte nunca é fácil – e quando envolve uma criança, o desafio parece ainda maior. Tanto que, segundo um levantamento da University College London, realizado em 26 países, incluindo o Brasil, 63% dos pais de crianças entre 5 e 10 anos nunca conversaram sobre o tema com os filhos.
Mas será que o silêncio protege? Para especialistas, a resposta é não. Ao evitar ou fantasiar a realidade, os adultos podem acabar confundindo e até traumatizando os pequenos. “Minimizar uma perda fará com que a criança crie pensamentos distorcidos e incompatíveis com a realidade”, alerta a psiquiatra Danielle H. Admoni, pesquisadora da UNIFESP.
Segundo a psicóloga Monica Machado, falar abertamente e com delicadeza pode prevenir traumas e fortalecer os vínculos. “As crianças não devem ser rotuladas como incapazes de lidar com a perda. Uma abordagem sensível e apropriada à idade ajuda a construir um entendimento saudável do ciclo da vida”, diz.
Em referência ao Dia Nacional do Luto, lembrado em 19 de junho, reunimos orientações para ajudar as famílias a lidar com esse tema tão delicado:
Quem deve conversar com a criança?
A conversa deve ser conduzida por alguém de confiança, com quem a criança tenha vínculo emocional. Essa pessoa precisa ter escuta ativa, paciência e estar aberta para acolher reações diversas, desde o choro até o silêncio.
Como começar o assunto?
Antes de explicar o que aconteceu, vale sondar o que a criança já entende sobre o assunto. Isso evita sobrecarregá-la com informações. “Nem todas suportam muitos detalhes. Pergunte o que ela sabe e parta daí”, recomenda a psiquiatra.
Perguntas repetidas fazem parte
É normal que a criança repita as mesmas perguntas várias vezes. Quando isso acontecer, mantenha a mesma explicação com palavras diferentes. Isso ajuda a construir compreensão aos poucos, mesmo que ela ainda não entenda completamente o conceito de morte.
Evite metáforas confusas
Dizer que alguém “virou uma estrela”, “foi dormir” ou “viajou para longe” pode confundir e até assustar a criança. Ela pode passar a temer dormir, pensar que quem viaja nunca volta ou olhar para o céu com angústia. Sempre que possível, use palavras claras e reais, com sensibilidade.
Não esconda seus sentimentos
Chorar na frente do seu filho não é sinal de fraqueza. Ao contrário: mostra que todas as emoções são válidas. Isso ajuda a criança a validar os próprios sentimentos. Diga que também está triste, que sente saudade, e que isso é normal quando alguém que amamos vai embora.
Ela deve ir ao velório?
Não há regra. Crianças podem participar dos rituais de despedida, desde que sejam bem preparadas para o que vão encontrar. Explique como será o momento, quem estará lá, que as pessoas estarão tristes e chorando. Mas não obrigue: o mais importante é respeitar o desejo da criança.
Respeite o tempo do luto
O luto é um processo, não um evento. Algumas crianças vão chorar, outras vão se fechar. Algumas demonstram raiva, medo ou tristeza. Outras, parecem seguir a rotina normalmente. Todas as formas de sentir são legítimas. Acolher sem julgamentos é essencial.
Fique atenta a mudanças comportamentais
Reações como medo de ir à escola, raiva excessiva, apatia ou isolamento podem surgir. Dê espaço, mas fique por perto. Se os sintomas se intensificarem ou durarem semanas, busque apoio profissional com psicólogos ou psiquiatras especializados em infância.
Resumo:
Conversar sobre a morte com as crianças pode ser desconfortável, mas é essencial para o desenvolvimento emocional. Falar com clareza, acolher os sentimentos e respeitar o tempo do luto ajuda a criança a entender a perda sem traumas. Quando necessário, o acompanhamento profissional é fundamental.