Procedimentos de harmonização peniana, como o uso de PMMA (polimetilmetacrilato) e ácido hialurônico, vêm ganhando visibilidade no Brasil, mas especialistas alertam para os riscos envolvidos. Jorge, que não quis se identificar, passou por duas cirurgias de reconstrução peniana após realizar procedimentos estéticos malsucedidos.
“Em meados de 2005, fui convencido por propagandas publicadas em jornais e revistas que prometiam o aumento do pênis”, contou à BBC News Brasil. Ele viajou a São Paulo e aplicou PMMA em uma clínica sem saber se o profissional era médico.
A substância aplicada, o PMMA, é um acrílico de uso permanente no organismo. Inicialmente, Jorge ficou satisfeito com o resultado. Dez anos depois, repetiu a aplicação em sua cidade natal, no Distrito Federal. Em 2018, fez a terceira intervenção, desta vez com urologistas — um deles chegou a sugerir aplicar o produto também na bolsa escrotal.
Quando tudo saiu do controle
Segundo Jorge, o médico chegou a mostrar sua própria região genital para convencê-lo a ampliar o procedimento. Ele aceitou, mas a decisão marcou o início de um drama que duraria anos. Cerca de dois anos após a última aplicação, ele começou a sofrer com inflamações recorrentes e dolorosas.
Durante as crises, a bolsa escrotal dobrava de tamanho e exigia aplicações de corticoides para aliviar a inflamação. Com o tempo, surgiram feridas. “Era como se meu corpo quisesse expulsar aquele PMMA de algum jeito”, contou. Os rins começaram a dar sinais de desgaste devido à sobrecarga provocada pelos medicamentos.
Diante da gravidade, Jorge foi orientado a remover o PMMA cirurgicamente. O urologista Ubirajara Barroso Jr., da Universidade Federal da Bahia, conduziu as cirurgias. A primeira, em 2024, retirou o acrílico da bolsa escrotal. A segunda, em abril de 2025, focou na reconstrução do pênis. Um mês após a última operação, Jorge ainda se recuperava, mas já comemorava: “Foi possível cicatrizar as feridas e remover boa parte do PMMA”.
Hoje, ele diz ter recuperado parte da autoestima, mas faz um alerta: “Fujam das propagandas fantasiosas e procurem informações confiáveis antes de aceitar qualquer procedimento no órgão sexual”. Ele também reconhece que, em nenhum dos procedimentos, conversou com a esposa: “Ela sempre se colocou muito satisfeita e disse que não precisava disso”.
A popularização da harmonização peniana
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil dizem que casos como o de Jorge têm se tornado mais comuns, acompanhando o crescimento da chamada harmonização peniana nas redes sociais. O termo é usado para descrever intervenções que prometem aumentar o tamanho ou a espessura do pênis.
O cirurgião plástico Flávio Rezende, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, explica que, por décadas, os homens foram alvos de promessas falsas de aumento peniano. “Durante a vida inteira, muitos indivíduos não tinham qualquer possibilidade real de tratamento”, comenta.
Mas isso começou a mudar. Em 2018, um episódio marcou a carreira de Rezende: após atender um paciente com queimaduras graves, ele foi questionado se havia aumentado o pênis do homem durante a reconstrução da pelve. Isso o levou a estudar e testar métodos de aumento peniano.
O que é possível fazer com segurança
Atualmente, segundo Rezende, há dois grupos principais de procedimentos: cirúrgicos e não cirúrgicos. No primeiro, estão métodos como a liberação de ligamentos e a lipoaspiração da região pubiana — que ajudam a alongar o pênis ou torná-lo mais visível em homens com sobrepeso.
No segundo grupo está o uso do ácido hialurônico, substância absorvível usada em diversas áreas da estética. “O preenchimento que ele traz fica muito semelhante ao aspecto natural do pênis”, explica o urologista Fernando Facio, da Sociedade Brasileira de Urologia.
Esse procedimento tem baixa taxa de complicações quando feito por profissionais qualificados. Caso algo saia errado, existe um composto capaz de reverter os efeitos do ácido hialurônico. Também há quem aplique botox na bolsa escrotal, conhecido como “escrotox”, mas esse uso ainda carece de comprovação científica.
Apesar de novas possibilidades, Barroso Jr. lembra que os métodos ainda não têm acompanhamento de longo prazo. “Mas órgãos como o Conselho Federal de Medicina validam o uso do ácido hialurônico para promover mudanças corporais”, afirma.
Quem realmente precisa?
Intervenções para aumento peniano são indicadas em casos específicos, como homens com micropênis ou com gordura excessiva na região púbica, o que “esconde” o órgão. O pênis médio, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia, mede de 13 a 14 cm em ereção.
Mas e quem está dentro da média e ainda assim se sente insatisfeito? Para Barroso Jr., é uma questão de autonomia. “Falamos de procedimentos de baixa complexidade que, muitas vezes, podem gerar melhoras na autoestima e na percepção corporal.”
No entanto, os especialistas destacam que é preciso avaliar a saúde mental do paciente. Existe uma condição chamada dismorfia corporal, em que a pessoa tem uma percepção distorcida do próprio corpo e nenhuma intervenção estética resolve o problema.
Carmita Abdo, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, reforça que muitos homens com desejo de fazer harmonização peniana podem estar lidando com essa condição. Nesse caso, a orientação correta não é um procedimento estético, mas apoio psicológico.
Resumo: Procedimentos de harmonização peniana têm se popularizado no Brasil, mas especialistas alertam para riscos graves, como inflamações e perda do órgão. O caso de Jorge, que passou por duas cirurgias após complicações com PMMA, ilustra os perigos. Médicos reforçam a importância de buscar orientação adequada e avaliar questões psicológicas antes de qualquer intervenção.
Leia também:
Procedimentos estéticos: como evitar riscos à saúde e resultados indesejados