Nos últimos desfiles das grandes semanas de moda, uma tendência chamou atenção – e não foi exatamente uma peça de roupa. A silhueta exageradamente fina voltou a dominar as passarelas. Embora algumas marcas tenham apostado em modelagens curvas e até enchimentos estratégicos para destacar quadris e ombros, o que se viu, na prática, foi a reestreia de corpos extremamente magros sob holofotes.
Em vez de evoluir, parece que a indústria da moda está retrocedendo nos debates sobre inclusão. Dados recentes do relatório da Vogue Business mostram que, entre os 8.703 looks analisados em 198 desfiles, apenas 2% foram apresentados por modelos de tamanho médio (equivalente ao 38-44 no Brasil), e míseros 0,3% por modelos plus size. Ou seja, os corpos que mais se aproximam da maioria das mulheres brasileiras seguem quase invisíveis no mundo fashion.
Quando os padrões de beleza excluem a realidade feminina
A maior preocupação nem é apenas com a falta de representatividade, mas com o quanto isso afeta a saúde física e emocional de quem consome essas imagens. Afinal, a moda dita tendências — não só de roupas, mas de comportamentos. E, quando o corpo ideal exibido volta a ser o extremamente magro, o risco de desencadear transtornos alimentares, principalmente entre os jovens, cresce de forma alarmante.
A volta dos padrões de beleza inalcançáveis não acontece por acaso. Ela caminha ao lado de outras questões sociais. Para especialistas, esse retorno à magreza extrema está ligado também a um movimento conservador em alta, que rejeita a pluralidade e tenta recolocar a mulher em moldes antigos. Ao invés de celebrar a diversidade, a indústria parece mais preocupada em seguir um padrão homogêneo, muitas vezes branco, alto e extremamente magro.
A nova droga da moda e a falsa sensação de controle
Outro fator que pode ter contribuído para o ressurgimento da volta da magreza é o uso de medicamentos como o Ozempic e o Wegovy, indicados originalmente para tratar diabetes e obesidade, mas que passaram a ser usados por celebridades e pessoas influentes com o único objetivo de emagrecer.
Essa tendência não só reforça o ideal da magreza como sinônimo de sucesso e beleza, como também pode mascarar distúrbios alimentares graves. Além disso, cria uma ilusão perigosa de que todos podem (e devem) alcançar esse corpo padrão, mesmo que isso custe a própria saúde.
A moda precisa rever seus padrões de beleza
Durante anos, marcas e estilistas pareciam caminhar rumo à inclusão. Vimos modelos curvilíneas estampando capas de revistas importantes e desfiles com mulheres de diferentes tamanhos, idades e etnias. Agora, com esse aparente retrocesso, resta o questionamento: até quando a indústria vai ignorar a beleza que existe fora do tamanho 36?
É importante lembrar que a moda tem um enorme poder de influência e, por isso, deveria estar na linha de frente quando o assunto é representatividade. Voltar a valorizar apenas um tipo de corpo não condiz com o que vemos nas ruas, nas redes sociais e, principalmente, dentro de casa.
Enquanto algumas marcas resistem e mantêm modelos de diferentes biotipos nas passarelas, como a Collina Strada, a grande maioria ainda segue reproduzindo os mesmos padrões de beleza ultrapassados de sempre.
Resumo: O retorno da magreza extrema às passarelas acende um alerta sobre o retrocesso nos debates sobre inclusão. Apesar de avanços nos últimos anos, o padrão único de beleza volta a ganhar força, excluindo corpos reais e alimentando padrões inatingíveis. É preciso pressionar a indústria para que ela reflita a verdadeira diversidade feminina.
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