Por Marcos Michalak e Lígia Menezes
De volta à TV com a reexibição de História de Amor, Carla Marins revisita um dos papéis mais marcantes de sua carreira, agora sob um novo olhar – como mãe de um adolescente, que vive a mesma fase de sua personagem na novela!
Aos 56 anos, a atriz transborda vitalidade e compartilha, neste bate-papo, como cuida do corpo e da mente com treinos diários, alimentação consciente e uma rotina de meditação que, segundo ela, “te tira do automático e te faz experimentar o lugar do observador”.
Carla também fala sobre os desafios da maternidade em tempos de redes sociais e violência de gênero, e revela sua atuação em projetos sociais voltados ao combate do trabalho escravo. Com sensibilidade, consciência e energia de sobra, ela mostra que o tempo só aprofundou sua conexão com a vida – dentro e fora das telas.
Carla, você está de volta à telinha com a edição especial de História de Amor. Como tem sido rever essa fase tão marcante da sua carreira?
É emocionante perceber como nosso trabalho atravessa e impacta as pessoas de várias gerações. Na novela eu fazia uma adolescente e agora tenho um filho da mesma idade, está sendo interessante rever essa fase de outro prisma. E que experiência feliz foi fazer a novela! Só tenho memórias boas, trabalhávamos muito, havia sempre muito texto, com cenas longas e difíceis, mas tudo fluía muito bem.
Sua personagem na novela vive um drama intenso, mas você, na vida, transborda equilíbrio e saúde. Como é sua rotina de cuidados com o bem-estar, especialmente agora depois dos 50?
Esta década exige atenção. Na alimentação, aumentei o consumo diário de proteína e evito ao máximo açúcar e alimentos processados. Suplemento vitamina C, ômega 3 e magnésio. Em relação aos cosméticos prefiro os mais naturais, sem tanta química. O corpo definido e a disposição vêm do treino, bem completo, idealizado pelo meu marido, o professor Hugo Baltazar. Hoje, treino todos os dias orientada por ele e faço exercícios aeróbicos como uma corrida de 30 minutos três vezes por semana. Há dois anos comecei a meditar diariamente e parei de ingerir bebidas alcoólicas, decisões que qualificaram muito minha saúde mental e física.
Conta para a gente um pouquinho mais sobre seus treinos…
O treino é todo dia e bem completo, individualizado, para uma mulher 50 mais e voltado para minhas necessidades, onde trabalho força, resistência, velocidade e flexibilidade em uma aula dinâmica. O aeróbio não pode faltar, gosto de correr pelas ruas do condomínio onde moro três vezes por semana. Antes do treino faço alguns exercícios corretivos para cuidar de alguma disfunção postural que pode aparecer.
A gente percebe que você leva uma vida superativa e conectada com a natureza. O que mudou na sua percepção de saúde e autocuidado com o passar dos anos?
Entender a importância da manutenção da saúde mental. É preciso estar em plena atenção para se manter positiva, criativa e independente de tudo o que te aprisione (até pensamentos negativos). Moro perto da Floresta da Tijuca, onde faço caminhadas com meu golden e trilhas; seu verde me acalma e me autorregula.
A maturidade traz novos olhares sobre o corpo, a mente e até sobre o ritmo da vida. Como você lida com essas mudanças e o que tem aprendido nesse processo?
É uma década muito interessante, essa dos 50, de questionar quem somos, o que queremos e o que realmente importa. É quando percebemos que a jornada é sobre autenticidade e conexão e se concentra menos em adquirir coisas e mais em encontrar significado.
Você é inspiração para muitas mulheres que buscam envelhecer com leveza e vitalidade. Quais hábitos considera indispensáveis no seu dia a dia?
Me manter positiva é um compromisso diário que faz bem a mim e a todos que me cercam. Movimentar o corpo é fundamental e consumir arte, sempre que possível, através do teatro, cinema, literatura, música, porque a arte nos inspira, amplia fronteiras, nos estimula ao novo e nos mantém interessantes! Lembro-me de trabalhar com Ary Fontoura e ele sempre chegar no camarim comentando sobre um filme ou uma peça em cartaz, achava ele sempre atemporal e uma inspiração.
Vamos falar de meditação: como a prática contribui para sua saúde mental? Como é sua prática e quantos minutos por dia você faz?
Na entrada da menopausa, a meditação foi uma grande aliada e, após o período crítico, mantive a prática. Começo o dia com uma meditação guiada do Dr. Joe Dispenza de 15 minutos de duração, chamada “Meditação para a Manhã.” À noite faço outra de 9 minutos, também guiada pelo Dr. Joe, que chama “Meditação para a Noite.” A meditação te tira do automático, te faz experimentar o lugar do observador. Você entra em contato com seu eu mais íntimo e entende então quem está no comando. Durante o dia, se estou ansiosa ou preocupada com algo também tiro um tempo para me autorregular. É uma jornada única, de autoconhecimento e libertação do ego.
Seu filho já é adolescente. Como é ser mãe de adolescente com redes sociais no mundo? Quais são os principais desafios que você enfrenta com a maternidade?
O maior desafio é ver meu filho crescer em uma sociedade que naturaliza a violência dos homens contra as mulheres. Tenho um filho de 16 anos e me responsabilizo e atuo em sua criação, junto com o pai, para que seja um homem digno, que ame e admire as mulheres. Assistimos juntos a série Adolescência e conversamos sobre a ascensão nefasta de grupos masculinistas com discurso misógino e que incitam o ódio contra as mulheres na internet. Muito triste e cruel, a violência masculina contra as mulheres tem que acabar.
Como é seu trabalho no Mhud (Movimento por Direitos Humanos)? Pode nos contar um pouquinho sobre isso?
O Mhud procura trazer visibilidade para a luta contra o trabalho escravo moderno, pauta de vida do Padre Ricardo Rezende, que conheci nos anos 90 através de Dira Paes, Leticia Sabatella e Marcus Winter. Através do Mhud, exercito um olhar e um fazer empático em prol dos vulneráveis – e é muito importante sairmos de nossas “bolhas” quando vivemos em um país ainda tão desigual.
Você pensa em voltar para as telinhas? Tem algum projeto relacionado a isso também à vista?
Tem sim e estou louca para contar, mas não posso ainda! (risos)
E pra fechar: qual recado você gostaria de deixar para quem te acompanha novamente em História de Amor e se inspira na sua trajetória, dentro e fora da TV?
Acho que nós mulheres precisamos nos informar cada vez mais sobre a nossa própria história. Entender os apagamentos históricos, valorizar a luta que outras mulheres que vieram antes de nós travaram e celebrar as conquistas que nos tornam cada vez mais “sujeito” e com voz.
Vamos ensinar as meninas a se apaixonarem primeiro por si mesmas e buscarem sua emancipação profissional e financeira antes de focarem sua atenção em Romeus e Alecrins. A palavra de ordem é emancipação: emocional, profissional e financeira.
Agradecimentos:
Styling: Samantha Szczerb | Beleza: Zuh Ribeiro | Locação: Casa Joa 94 | Agradecimentos: Arsiè, Pulsa.
