Quando um bebê chega, a lista de prioridades se reorganiza. De repente, o novo membro da família, que precisa de cuidados atentos, se torna o centro das preocupações. Essa mudança recai mais drasticamente sobre as mães, que precisam de tempo para se recuperar, física e emocionalmente, antes de voltar ao trabalho depois da licença-maternidade. Porém, a realidade é que, para muitas, esse retorno não acontece.
Enquanto as políticas de equidade de gênero avançam a passos lentos, continuar no mercado de trabalho após a maternidade ainda é um desafio. Prova disso é que, de acordo com uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), 35% das brasileiras com maior escolaridade deixam o emprego após a licença maternidade. Entre mulheres com nível educacional mais baixo, esse percentual atinge 51% das trabalhadoras.
“As desigualdades no mundo corporativo se acentuam quando a mulher decide ser mãe, porque é esperado que ela dedique mais tempo aos cuidados com os filhos. Existe o desejo de ser vista além da maternidade, mas as barreiras colocadas pelos empregadores as fazem ter de escolher”, explica Thaís Roque, escritora e especialista em carreira.
Os obstáculos para voltar ao trabalho
Apesar do desejo (e necessidade) de voltar a trabalhar, é comum que essas mulheres se deparem com diversos obstáculos. “Mulheres que tiveram filhos recentemente querem retomar suas carreiras com confiança e sem culpa. Entre os principais desafios enfrentados por esse público estão a evasão de empresas após o período de licença-maternidade, pressão social, autocrítica e a disparidade salarial”, explica Maria Eduarda Silveira, headhunter e sócia-fundadora da BOLD RHO.
Como retomar a carreira com confiança
O primeiro passo para recomeçar é acolher sua nova versão. A maternidade transforma, e retomar a carreira não significa voltar a ser exatamente como antes — e tudo bem! Encarar essa fase com gentileza e paciência é essencial para construir um novo equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Seja gentil com você mesma
Sentir que não dá mais conta do ritmo de antes, ou se culpar por deixar o filho em casa, é mais comum do que parece. “O mais importante é lembrar que essa fase é passageira. Com o tempo, você vai se readaptar à rotina profissional e pode até passar a valorizar esses momentos fora de casa como um tempo para si mesma”, explica Thaís.
Planeje seu retorno
Se a volta ao trabalho já tem data marcada, comece a se preparar com calma. Atualize seu currículo, revise o portfólio e volte a movimentar seu perfil no LinkedIn. “Deixe claro que está aberta a novas oportunidades”, orienta Maria Eduarda. No lado pessoal, organize a nova rotina familiar antes da volta. “O seu primeiro dia no trabalho não deve coincidir com o primeiro dia da criança longe dos pais”, alerta.
Nova versão de si, novas habilidades: aproveite!
Durante a maternidade, você desenvolveu competências importantes, que também são valorizadas no ambiente corporativo. “Você passa a estabelecer melhor seus limites, adquire a habilidade de lidar com múltiplas tarefas e se torna muito mais resiliente. Todos ganham quando há uma mãe na equipe”, afirma Thaís. Valorize isso no seu discurso profissional.
Encontre uma rede de apoio
Estar ao lado de outras mães que já viveram — ou estão vivendo — o mesmo desafio pode fazer toda a diferença. Thaís, que é criadora de duas comunidades voltadas para empreendedoras, destaca a importância desses espaços: “Ainda falamos pouco sobre o quanto essa etapa pode ser difícil. Conversar com outras mulheres pode aliviar a pressão e abrir novas possibilidades”.
Reflita sobre o que você quer
Nem sempre voltar para o mesmo cargo ou área faz sentido após a maternidade. “Muitas mulheres acreditam que empreender é a única saída, mas essa nem sempre é a melhor escolha. Pode ser que um cargo corporativo com jornada reduzida faça mais sentido para o seu perfil”, aponta Thaís. Por isso, vale investir em autoconhecimento para entender o que realmente combina com sua nova fase de vida.
O papel das empresas
Por fim, a responsabilidade pela reintegração das mães ao mercado não pode ser apenas delas. É essencial que as empresas também façam a sua parte. “Ações como reintegração gradual com realinhamento de metas, espaços adequados para amamentação e rodas de conversa sobre maternidade são medidas que ajudam na retenção de talentos e no bem-estar das colaboradoras”, reforça Maria Eduarda.
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