Sair de uma relação abusiva é desafiador. Essa dinâmica de relacionamento tem um começo sutil antes de situações mais graves acontecerem, como agressão física e manipulação total da pessoa abusada. Portanto, é crucial perceber logo no início que está lidando com um abusador. Deixar para trás uma relação traumática é um processo complexo que exige uma primeira etapa imprescindível: o fortalecimento emocional.
Para entender mais profundamente como é possível sair de um relacionamento abusivo com segurança, AnaMaria conversou com especialistas no tema: Priscilla Souza, psicóloga comportamental, e Mayra Cardozo, advogada especialista em gênero, sócia do escritório Martins Cardozo Advogados Associados e idealizadora do método Alma Livre, criado para auxiliar mulheres a saírem de relacionamentos tóxicos e abusivos.
Como sair de um relacionamento abusivo?
O relacionamento começa bem: o abusador é muito sedutor, carismático e apaixonante. Por isso é frequente que pessoas, principalmente inseguras, se envolvam em relações assim. Priscilla explica que os abusadores normalmente buscam pelo mesmo perfil para se relacionar.
Quando a pessoa está envolvida em um relacionamento abusivo, dificilmente perceberá os sinais sozinha. Priscilla detalha como se dá o progresso terapêutico em casos em que há esse tipo de violência: “A primeira queixa é normalmente um problema no trabalho ou dificuldade para enfrentar a vida de maneira geral. Depois percebemos que existe um relacionamento abusivo, e geralmente, a vítima não é consciente disso”.
“Se o relacionamento estiver evoluindo e a pessoa decidir que é hora de colocar um ponto final, é necessário suporte de um profissional da saúde mental para fortalecimento emocional. O abusador sempre fará promessas para manter a vítima sob abuso”, orienta a psicóloga. Priscilla acrescenta que é comum que a família e amigos se afastem devido ao controle que o abusador exerce sobre a vítima.
Então, o primeiro passo para sair de um relacionamento abusivo é o trabalho de conscientização da vítima. “A partir disso, começamos a reconstrução da autoestima e da autoconfiança, para ela entender que, se quiser, pode sair desse sistema, recomeçar com outra pessoa ou até ficar sozinha por um tempo”, diz a especialista.
Rede de apoio
Os amigos, familiares e grupos de apoio são fundamentais para suporte emocional quando alguém decide sair de um relacionamento abusivo. A terapia deve ser combinada com uma rede de apoio sólida. Nesse sentido, é primordial que as pessoas entendam o tempo da vítima.
“A pessoa abusada, normalmente, tem baixa autoconfiança e precisa do suporte de pessoas que demonstrem compaixão, que digam que não será fácil, mas que ela conseguirá. Para quem está de fora, é fundamental se manter presente na vida do abusado”, destaca a profissional.
Como reconhecer os sinais de alerta?
Mayra salienta a importância de orientar mulheres a reconhecerem os sinais de um relacionamento abusivo para prevenir a escalada da violência. Os sinais incluem comportamento controlador, isolamento de amigos e familiares, manipulação emocional, ameaças, agressão física ou verbal, e mudanças drásticas no comportamento do parceiro. “É importante que as mulheres estejam atentas e confiem em seu instinto quando algo não parece certo”, afirma a advogada.
Além disso, as vítimas devem também se informar sobre recursos disponíveis, como abrigos, centros de apoio e linhas de ajuda. Ter um plano de emergência, incluindo um lugar seguro para ir e acesso a documentos pessoais, pode ser vital em relacionamentos abusivos. Procurar orientação de profissionais especializados em violência doméstica e criar um plano estratégico com a ajuda profissional são passos essenciais para garantir a segurança antes de buscar ajuda formal.
Saída segura
Uma vez que a vítima está consciente do relacionamento abusivo, para sair dele de maneira segura, é fundamental documentar todas as evidências de abuso e manter um diário detalhado dos incidentes. Informar amigos e familiares de confiança é parte essencial deste processo.
É indispensável que mulheres que sofrem esse tipo de violência saibam que existem recursos legais disponíveis para ajudá-las, como a solicitação de medidas protetivas de urgência, ordens de restrição e afastamento do agressor e o registro de boletins de ocorrência nas Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAM).
A ajuda especializada pode orientar sobre processos criminais contra o agressor e auxiliar no acesso de abrigos seguros, centros de apoio e programas de assistência social que oferecem suporte financeiro e habitação. A prioridade é garantir a segurança e o bem-estar da mulher por ações legais estratégicas e eficazes.
“As ordens de proteção são medidas legais destinadas a garantir a segurança de uma pessoa que está sendo ameaçada ou abusada. Elas podem incluir ordens de afastamento do agressor, proibição de contato, restrições sobre visitas e até a retirada do agressor do domicílio”, detalha Mayra.
Para obter uma ordem de proteção, a vítima precisa apresentar evidências de abuso, que podem ser físicas, como fotos de ferimentos, ou documentais, como mensagens ameaçadoras. A denúncia pode ser feita em delegacias, especialmente nas Delegacias de Atendimento à Mulher, ou diretamente no Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher.
Para manter a segurança durante o processo de separação, é importante que a mulher tenha um plano de ação claro. Mayra lista algumas dicas práticas:
Evite estar sozinha: sempre que possível, esteja acompanhada por amigos ou familiares de confiança.
Mude rotinas: altere trajetos e horários habituais para evitar encontros com o agressor.
Comunicação limitada: use métodos seguros e discretos para comunicar-se com pessoas de confiança sobre seu paradeiro e estado.
Planeje uma saída rápida: tenha uma mala pronta com documentos, dinheiro e itens essenciais.
Tecnologia com cautela: desabilite serviços de localização em dispositivos móveis e redes sociais para não ser rastreada.
Busque apoio especializado: consulte uma advogada e uma equipe multidisciplinar para orientações legais e suporte emocional contínuo.
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