Olá, pessoal!
O Outono chegou. Vocês já ouviram falar nas doenças relacionadas à sazonalidade? São doenças que se manifestam com maior frequência em determinadas estações, conforme acontecem as mudanças climáticas e ambientais. A asma é uma delas.
Com a nova estação, as variações de temperaturas e mudanças de fatores ambientais, como a qualidade do ar, início do frio, ambientes fechados, aumento de infecções respiratórias e maior exposição a alérgenos que desencadeiam crises de asma. A asma é uma condição respiratória relevante e potencialmente grave.
A doença tem características multifacetadas e pode ser caracterizada pela presença de tosse, sibilos (chiados), falta de ar e sensação de aperto no peito; entretanto nem sempre todos os sintomas estão presentes simultaneamente. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que cerca de 262 milhões de pessoas convivam com asma em todo o mundo, sendo ela responsáveis por 455 mil mortes anualmente.
Trata-se de uma inflamação crônica das vias aéreas que leva à hiperresponsividade brônquica, obstrução do fluxo aéreo e sintomas respiratórios recorrentes. A hiperresponsividade brônquica é um mecanismo caracterizado pela inflamação das vias aéreas inferiores (árvore brônquica) – figura 1, causando edema da mucosa, aumento de secreção e hipertrofia da musculatura dos brônquios –figura 2. Com isso, os pacientes têm dificuldades para inspirar o ar devido à obstrução do fluxo aéreo, causado pelo estreitamento bronquiolar.
Figura 1 – árvore brônquica Figura 2 – Brônquios: normal e inflamado
As crises são ocasionadas pela resposta exacerbada do nosso sistema imunológico (células de defesa), envolvendo principalmente eosinófilos, mastócitos, linfócitos T auxiliares do tipo 2 (Th2), citocinas (proteínas inflamatórias celulares) como IL-4, IL-5 e IL-13.
Vale ressaltar que as manifestações da asma não são iguais para todos. Nesse contexto, conhecer os mecanismos inflamatórios com base em suas características observáveis (fenótipos) – tabela 1 – e pelo mecanismo biológico/molecular (endótipo) de acordo com presença de citocinas específicas (T2 alta/T2 baixa) é fundamental para uma abordagem individualizada, considerando o tipo de asma, grau de gravidade e fatores de riscos associados – tabela 2.
Tabela 1 – Fenótipos da asma
Tabela 2 – Fatores de riscos
Diagnóstico e tratamentos
Não é infrequente as crises de asma nos serviços de urgência. Os pacientes que apresentam uma crise de broncoespasmos (chiado) e dispneia (falta de ar) devem receber cuidados rápidos. Nestes casos, o tratamento inicial tem como objetivo “tirar” o paciente da crise, com medicamentos intravenosos e inalatórios de rápida ação broncodilatadora, que ajudam na passagem de ar para os alvéolos (onde ocorre as trocas gasosas).
Após isso, o médico deve classificar a gravidade e investigar fatores causais que possam ter causado e contribuído para os sintomas que motivaram a ida ao Pronto-Socorro. Posteriormente, o paciente deve ser encaminhado para seguimento ambulatorial com o pneumologista, profissional especialistas em doenças pulmonares.
Nesta etapa, a investigação deverá ser feita com a realização de exames complementares pertinentes que avaliam a função pulmonar (espirometria com uso de broncodilatador), testes alérgicos (dosagem de IgE e sensibilização de alérgenos), além da avaliação das respostas inflamatórias de cada paciente.
O tratamento envolve o uso de medicações (medicamentoso) e, fundamentalmente, orientações e informações aos pacientes sobre a doença e medidas de prevenção e controle (não medicamentoso). Deve ser individualizado e embasado na tríade: controle dos sintomas, prevenção de crises e melhora na qualidade de vida.
Medicamentoso
– Uso de Broncodilatadores de curta duração: alívio rápido dos sintomas (ex.: salbutamol);
– Corticoides inalatórios: controle da inflamação brônquica;
– Broncodilatadores de longa ações associados aos corticosteroides em casos moderados a graves;
– Antagonistas de receptores de leucotrienos como moduladores de respostas inflamatórias.
Não medicamentoso
Pautado na orientação e informação sobre a doença. O objetivo é ensinar o reconhecimento de crises, gravidade e importância envolvimento do paciente na realização do autocuidado.
Um ponto fundamental consiste evitar exposição a alérgenos como poeira, pelos de animais, pólen de flores, perfumes, abolir o tabagismo, fumaças, ambientes com mofos etc. A exposição frequente contribui para a manutenção da inflamação das vias aéreas e aumento dos episódios de exacerbações.
Outro cuidado relevante, diz respeito a vacinação. A imunização contra influenza e pneumococo é fortemente indicada para os pacientes asmáticos que tendem a apresentarem manifestações clínicas mais graves frentes às infecções desses microrganismos.
Novos tratamentos
Há alguns anos, houve a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) para o uso terapêutico de imunobiológicos. Os medicamentos, constituídos por anticorpos específicos, são indicados para asma grave não controlada. Contudo, embora apresentem resultados promissores, seu acesso ainda ocorre de forma restrita devido ao alto custo e à burocratização para serem liberados tanto pelo setor público (SUS) quanto pelo setor privado (operadoras)
Conscientização sobre a asma
A asma pode ser controlada na maioria dos casos com diagnóstico precoce, tratamento adequado e medidas de prevenção. Saber diagnosticá-la e tratá-la oportunamente não só melhora a qualidade de vida e diminui internações desnecessárias (desperdícios de recursos), como também previne até morte por insuficiência respiratória em casos de crises graves.
Nesse sentido, cabe aos profissionais de saúde orientar, explicar e informar aos pacientes sobre a doença e suas complicações. É fundamental capacitá-los a reconhecerem os sintomas e crises, além de conscientizá-los acerca da importância da adesão ao tratamento e uso correto dos medicamentos e dispositivos inalatórios. O envolvimento ativo dos pacientes no manejo de quaisquer doenças sabidamente ajuda no sucesso do tratamento e resultados.
Se cuidem!
Até a próxima.
Referências:
GLOBAL INITIATIVE FOR ASTHMA (GINA). Global Strategy for Asthma Management andPrevention. 2024
WORLD HEALTH ORGANIZATION. Asthma. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/asthma.