Recentemente, a cantora Maiara, da dupla com Maraisa, causou um alvoroço na internet devido à mudança brusca no seu corpo. A sertaneja surpreendeu o público ao aparecer muito mais magra do que o habitual, o que levou muitos internautas a especularem sobre o uso do medicamento Ozempic, originalmente utilizado para o tratamento da diabetes, mas que também pode ser prescrito como tratamento para obesidade. No entanto, Maiara fez fez questão de negar essas acusações. Mas, afinal, emagrecer rápido demais é saudável?
Para responder a essa pergunta e entender como o emagrecimento rápido afeta a nossa saúde e quais são os riscos associados ao uso inadequado de medicamentos para perder peso, em meio ao ‘boom do Ozempic’, AnaMaria conversou com o endocrinologista e médico do esporte Ricardo Oliveira, Mestre pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a nutricionista e profissional de educação física Sylvia Pozzobon, pós-graduada em Nutrição Clínica pela UFRJ. Confira a seguir.
Emagrecer rápido demais é saudável?
Emagrecer rápido pode ser tentador, mas também pode haver potenciais riscos à saúde associados a essa abordagem. No entanto, Sylvia destaca que nem sempre o emagrecimento rápido é um problema, sendo preciso entender em que contexto se deu este processo de perda de peso. “Caso o paciente tenha iniciado uma reeducação alimentar e exercícios físicos e esteja perdendo peso rapidamente, entretanto, está se alimentando adequadamente, com uma quantidade saudável de calorias prescritas pelo seu nutricionista, conforme sua situação e sua prática de exercícios, estamos diante de uma perda de peso rápida, porém planejada e saudável”, informa a nutricionista.
Além disso, ela acrescenta que, em alguns casos, dietas para emagrecer rápido muito baixas em calorias podem ser úteis em pessoas muito obesas e que precisam perder muito peso, pois geram grande motivação pela perda de peso inicial. “Vale destacar que devem ser estratégias curtas e pontuais, as quais devem ser supervisionadas por médico e nutricionista e aplicadas em pacientes sem comorbidades“, aponta.
Entretanto, o que geralmente ocorre quando falamos em emagrecimento rápido é uma perda de peso feita de maneira pouco saudável, por meio de uma restrição severa de calorias, onde a pessoa na maioria dos casos não se encontra em situação de obesidade e não possui nem acompanhamento nutricional e nem médico.
“São em sua grande maioria pessoas impactadas pelas dietas para emagrecer rápido da moda, com promessas milagrosas, que estimulam práticas alimentares não saudáveis e muitas vezes perigosas. Estas dietas podem ter efeitos colaterais como fadiga ou fraqueza, tonturas, constipação, pele seca, perda de cabelo, alterações menstruais e intolerância ao frio, e os efeitos secundários mais graves são desenvolvimento de gota e cálculos biliares“, informa Sylvia Pozzobon.
O emagrecimento rápido pode ser uma estratégia válida
De acordo com Ricardo Oliveira, é crucial entender o contexto em que a perda de peso ocorre, especialmente em casos de sobrepeso ou obesidade. Ele destaca que, em um cenário de excesso de peso, emagrecer rápido pode não ser problemático, desde que o indivíduo esteja seguindo um planejamento alimentar e uma rotina de atividades físicas adequados, sem excessos.” Estudos norte-americanos indicam que indivíduos que perdem peso de forma mais rápida inicialmente tendem a alcançar uma maior perda de peso final, o que é benéfico em casos de obesidade”, destaca o médico.
No entanto, Ricardo alerta que a obesidade é uma doença crônica, desenvolvida ao longo de anos. Por isso, não se deve esperar reverter esse processo em poucas semanas. “Dietas muito radicais, com calorias insuficientes e rotinas exaustivas de treinamento físico, não são recomendadas. Além de gerar um balanço energético muito negativo, levando à fadiga, irritabilidade e piora da imunidade, a chance de manter esse tratamento a longo prazo é mínima,” explica o endocrinologista. Esse é um problema comum observado com as chamadas “dietas da moda”, que prometem um emagrecimento rápido, em poucos dias, mas não sustentam resultados duradouros e saudáveis.
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O boom do Ozempic e seus efeitos negativos
Ricardo explica que a semaglutida, comercializada no Brasil como Ozempic, foi originalmente desenvolvida para tratar diabetes tipo 2. Estudos revelaram que, além de melhorar significativamente o controle da glicose, a substância também promove perda de peso. Isso levou à aprovação da semaglutida para o tratamento da obesidade, e uma versão com dose maior, chamada Wegovy, deve chegar às farmácias brasileiras ainda este ano. “O Ozempic é utilizado em doses de 0,25 a 1,0 mg/semana, enquanto o Wegovy alcançará até 2,4 mg/semana”, destaca o endocrinologista.
Entretanto, o uso do Ozempic meramente por razões estéticas, sem necessidade médica, tem crescido e traz consigo potenciais riscos. Ricardo alerta que o medicamento deve ser prescrito e monitorado por profissionais de saúde. Usá-lo sem indicação pode levar a efeitos colaterais indesejados e comprometer a saúde. Ele enfatiza que o medicamento deve ser utilizado apenas no contexto adequado, onde há uma necessidade médica clara e acompanhamento.
Além disso, o médico fala sobre a popularização de termos como “Ozempic’s face” e “cabeça de Ozempic”, explicando que esses fenômenos não são exclusivos do uso do Ozempic. “O termo ‘Ozempic’s face’ se refere ao envelhecimento facial associado à perda de peso rápida, onde a gordura facial, que sustenta o colágeno e outros tecidos, diminui, causando um aspecto envelhecido”, explica Ricardo.
Quanto ao termo “cabeça de Ozempic”, o médico o desmistifica: “O tamanho da cabeça não muda em um adulto. A desproporção entre cabeça e corpo após uma perda significativa de peso é apenas uma mudança nas proporções entre os membros, incluindo cabeça e tronco, não um efeito específico do medicamento. Na verdade, mais um termo criado na internet que de científico não tem nada”, aponta Ricardo Oliveira.
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Quais as melhores estratégias para emagrecer de forma saudável e sustentável?
Para que a perda de peso aconteça, Sylvia Pozzobon explica que é necessário um déficit calórico, ou seja, comer menos do que se gasta, em linhas gerais. “Entretanto, não podemos considerar apenas isso para a promoção da perda de peso saudável e menos ainda para a manutenção do peso saudável pós-emagrecimento. Isso porque é impossível viver em restrição alimentar eterna”, inicia ela.
Assim, de acordo com a nutricionista, a perda de peso bem-sucedida é aquela baseada em um planejamento alimentar equilibrado, associado a mudanças comportamentais que gerem um estilo de vida saudável e sustentável. A prática regular de exercícios físicos é um diferencial neste processo e na mudança de comportamento.
“O sucesso do emagrecimento não deve ser medido pela velocidade com que os números caem na balança, apesar de muitas dietas da moda estimularem isso, mas sim através das alterações de comportamento que irão fazer com que a pessoa faça escolhas saudáveis rotineiramente sendo capaz de manter seu peso equilibrado a longo prazo”, destaca a nutricionista.
Ainda sobre emagrecer rápido, Ricardo Oliveira ressalta que avaliar a perda de peso depende do contexto de cada pessoa, ou seja, peso inicial, peso máximo alcançado, histórico de peso e se possui ou não outros problemas de saúde. “Para pessoas com obesidade, podemos sugerir de um modo geral uma perda de peso por meio de dieta planejada individualmente para criar um déficit de 500 a 1 mil kcal, objetivando uma diminuição de 0,5 a 1 kg por semana, com metas realistas (fonte ABESO)”, informa ele.
“O uso de medicamentos pode e deve fazer parte do tratamento da obesidade, como em qualquer outra doença crônica, como diabetes mellitus e hipertensão arterial, por exemplo. Uma equipe multidisciplinar com médico, nutricionista, educador físico e, em casos selecionados, profissionais de saúde mental psicólogos e psiquiatra) é o melhor caminho para um indivíduo que precisa perder peso e deseja fazê-lo com segurança”, finaliza o médico endocrinologista e do esporte.
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