Interpretar Olavo na nova versão de Vale Tudo tem sido uma experiência intensa para Ricardo Teodoro. Parceiro de armações de César (Cauã Reymond) e cúmplice de Maria de Fátima (Bella Campos), Olavo é um trambiqueiro cheio de carisma, que vive de pequenos golpes, mas guarda um lado sensível, artístico e humano. Sonhava em ser fotógrafo de moda, mas se viu reduzido a sobreviver como pôde — inclusive dentro do próprio estúdio onde mora. É nesse fio tênue entre a ambição e a sobrevivência que Ricardo constrói um dos personagens mais contraditórios e fascinantes da trama.
“Acredito que o ponto de partida foi entender a condição social do Olavo”, explica o ator. “Fiz uma pesquisa sobre o mundo da fotografia e me inspirei em filmes como Blow Up, de Antonioni, para entender como um fotógrafo pensa em quadros e imagens o tempo inteiro. No fundo, o Olavo é um artista, e devido à urgência da vida, ele se viu obrigado a fazer trambiques para sobreviver no Rio de Janeiro.”
Ricardo destaca que o personagem é fruto de uma realidade dura e ainda muito presente no país: “Ele veio de fora, sem família, e precisou correr atrás dos seus espaços. A urgência da vida no Brasil, principalmente nas grandes cidades, foi algo que busquei evidenciar no personagem.” Essa urgência, segundo o ator, permite a Olavo circular entre diferentes classes sociais, com seu carisma e jogo de cintura, sem jamais perder o foco em seus desejos de ascensão.
Apesar de a novela retratar um Brasil dos anos 80, os dilemas continuam incrivelmente atuais. Para Ricardo, a trajetória de Olavo ecoa as contradições que ainda marcam a sociedade brasileira: “‘Vale Tudo’ foi escrita nos anos 80, mas, 37 anos depois, muitos dos dilemas sociais permanecem. Algumas mudanças aconteceram, mas outras estruturas continuam inalteradas.” Ele aponta, por exemplo, a maior representatividade racial na nova versão da novela: “Na versão original, havia apenas dois atores negros no elenco. Hoje, temos um número muito maior, ocupando diferentes núcleos da trama, incluindo eu, interpretando o Olavo.”
Esse dado não é apenas simbólico — ele dá mais densidade a um personagem que carrega o desejo de ser visto, de pertencer, de conquistar. “O Olavo é um personagem que deseja viver bem, ter acesso ao que considera o melhor: roupas elegantes, bons restaurantes, prestígio, reconhecimento.” E é aí que surge o conflito ético, que segundo o ator, ainda move o país: “Esse dilema – até onde se pode ir para conquistar o que se deseja – ainda é muito presente na sociedade. O Brasil é um país de contrastes e contradições, onde convivem o ‘jeitinho brasileiro’, a busca por sucesso e as dificuldades impostas pela desigualdade.”
Na trama, Olavo é um artista frustrado que sonhava com o mundo da moda, mas acabou encarando outra realidade. “Ele queria estar nos bastidores de desfiles como o São Paulo Fashion Week, registrando momentos icônicos. No fundo, ele é um artista, e isso nunca pode ser esquecido.” O ator lembra que, apesar de ter seguido um caminho tortuoso, Olavo continua levando sua arte a sério: “Todas as vezes que o Olavo está por trás da câmera, ele se entrega completamente. É como se o tempo se dilatasse para ele, como se aquele momento fosse uma fuga da realidade dura que o cerca.”
E essa fuga, para Ricardo, é carregada de emoção. Em uma das cenas que mais o marcaram, Olavo fotografa figurantes — um momento simples que carrega múltiplos significados: “Naquele momento, percebi o quanto as figuras do Olavo e das modelos presentes na cena se conectam com a realidade de quem está no Rio de Janeiro, principalmente pela proximidade com a televisão, o glamour e o status de ser uma celebridade.”
A lembrança levou Ricardo diretamente ao seu próprio início na carreira: “Essa cena me fez lembrar muito da minha própria chegada ao Rio de Janeiro em 2012. Eu também fui muito influenciado pelo sonho de ser reconhecido, de mostrar o meu trabalho. Quando cheguei, fiz um videobook e fui levado por pessoas que, apesar de não terem muita experiência, me falavam sobre os acessos que eu teria e como eu daria certo na cidade.”
Ao ver seu próprio reflexo no personagem, ele conclui com maturidade: “O que aprendi, e que é refletido no Olavo, é que não existe fórmula mágica. Não tem receita de bolo para se dar bem em lugares como o Rio ou São Paulo. Você vai aprendendo um dia de cada vez, com as experiências, os tombos, e as lições que a vida te dá.”