Ter um adolescente em casa muitas vezes é como viver com um colega de quarto silencioso: a convivência é limitada e os encontros acontecem, na maioria das vezes, por acaso. Mas, segundo a orientadora parental Anita Cleare, isso não significa que a relação está perdida — só precisa de pequenos ajustes. No livro Enfurnados (Editora Latitude), ela compartilha estratégias para reforçar os laços familiares sem recorrer a cobranças, broncas ou ameaças.
A especialista explica que respeitar o espaço do jovem e estar por perto de forma afetuosa é a base para uma convivência saudável. Por isso, reunimos as principais lições do livro que mostram como equilibrar a liberdade do seu filho com o convívio familiar — e sim, é possível fazer isso sem conflitos.
Escolha o melhor momento para se aproximar do seu filho
Você já deve ter notado: seu filho adolescente dificilmente vai querer conversar quando você tem tempo livre. Então, que tal aproveitar aqueles momentos espontâneos em que ele demonstra abertura? Pode ser no caminho para a escola, enquanto prepara um lanche ou até durante uma pausa entre os jogos. “O segredo é usar qualquer oportunidade em que ele esteja disposto a falar, mesmo que você esteja cansado”, recomenda Anita. Essa disponibilidade sincera pode abrir portas para conversas mais profundas.
Para tirar o filho do quarto, evite parecer um “sabe-tudo”
Em vez de impor conselhos, experimente ouvir. De verdade. “Cultivar conversas nas quais os pais não são os especialistas muda a dinâmica do diálogo”, explica a orientadora. Pergunte sobre os jogos que ele gosta, os vídeos que assiste, as opiniões dele sobre algum tema atual. Isso demonstra interesse genuíno, fortalece o vínculo e faz com que ele se sinta valorizado.
Use frases neutras para mostrar que você está por perto
Seu filho está irritado, triste ou fechado demais? Forçar a conversa não é o caminho. Em vez disso, use frases como: “estou aqui, se quiser conversar” ou “podemos tentar resolver isso juntos, se você quiser ajuda”. Segundo Anita Cleare, essa abordagem evita que o jovem se sinta pressionado e favorece a criação de um ambiente seguro para a troca emocional.
Estabeleça momentos em família longe das telas
Nada de impor proibições rígidas. A dica da especialista é criar rotinas familiares que incentivem o uso equilibrado da tecnologia — como refeições sem celular ou um momento antes de dormir sem telas. “Espaços livres de tecnologia ajudam a desconectar os filhos aos poucos, de forma natural”, ensina. Essas pausas também favorecem o convívio em casa sem que isso soe como obrigação.
Negocie as regras com o seu adolescente
Dizer “nada de celular depois das 22h” pode até funcionar por um tempo, mas tende a gerar resistência. Prefira algo como: “qual o melhor horário para você jogar sem atrapalhar o sono?”. Ao envolver o jovem nas decisões, ele se sente mais respeitado — e as chances de ele cumprir os combinados aumentam. “Negociar limites gera mais adesão e reduz o conflito”, aponta Anita.
Preste atenção aos sinais de alerta do isolamento
Se o isolamento vier acompanhado de tristeza constante, queda no rendimento escolar ou perda de interesse nas atividades que antes o alegravam, vale ligar o alerta. “Nesses casos, procurar ajuda psicológica é importante”, orienta a especialista. O apoio de um profissional pode fazer toda a diferença tanto para o jovem quanto para a família.
Incentive a convivência em doses pequenas, mas significativas
Você não precisa organizar jantares elaborados ou viagens em família todos os finais de semana. O segredo está nos pequenos momentos: assistir a um programa de TV juntos, tomar um sorvete no meio da tarde, fazer compras no supermercado. “Essas atividades simples ajudam a fortalecer os laços sem sufocar o jovem”, ressalta Anita.
Dê o exemplo ao seu filho adolescente
Quer que seu filho largue o celular? Mostre, com ações, que você também está tentando fazer o mesmo. “Os pais são o principal modelo dentro de casa. Por isso, usar a tecnologia com equilíbrio é essencial”, alerta a orientadora. Comece deixando o celular de lado durante o jantar, por exemplo. Pequenas atitudes assim mostram que você está junto nessa mudança.
Cuidar do vínculo com um adolescente exige paciência, mas também oferece recompensas emocionais valiosas. Com escuta, flexibilidade e presença afetuosa, você consegue sim tirar o filho do quarto e construir uma relação mais leve e próxima — mesmo que a porta continue fechada de vez em quando.
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