Uma jovem de 35 anos, Kamila Costa Quadra, morreu após um procedimento dentário realizado em uma clínica de Serra, no Espírito Santo. O incidente ocorreu no dia 5 de fevereiro, quando a paciente passou por uma raspagem gengival e ficou internada por 16 dias quando a equipe médica tentou controlar uma infecção.
A raspagem gengival é indicada quando a pessoa tem a raiz de um dente íntegra e teve quebra desta coroa até a gengiva. “Esse procedimento é considerado comum e, nesses casos pode-se realizar um corte na gengiva com a finalidade de expor uma pequena parte da raiz onde será posteriormente apoiada e confeccionada uma nova coroa dentária, seja em porcelana ou em resina”, explica o cirurgião-dentista Mauro Macedo.
Posteriormente Kamila precisou passar por uma nova cirurgia na boca, mas a infecção não apresentou melhora, atingiu seu sistema respiratório e a jovem apresentou uma pneumonia que afetou 75% de seu pulmão. “Os riscos desse procedimento são os mesmos de qualquer protocolo em que exista corte e risco de infecção pela corrente sanguínea”, ressalta.
O que podemos fazer para prevenir novos casos
Para o especialista, que também é Membro da Academia Brasileira de Odontologia, é preciso estruturar um sistema de controle e monitoria. “Alertamos os pacientes que passam por essa cirurgia que, após o procedimento, se houver muita dor e vermelhidão no local e edema, é preciso reavaliar de maneira urgente. Se não tratada nesta fase de forma imediata e urgente, o quadro pode evoluir rapidamente para uma infecção sistêmica, podendo inclusive, culminar com a morte do paciente por endocardite bacteriana quando a bactéria tem acesso via sanguínea ao coração”, detalha o cirurgião.
Ainda, segundo Macedo, é preciso atentar-se para o quadro geral de saúde do paciente antes de realizar qualquer procedimento. “Os cuidados devem ser os mesmos independente da magnitude da cirurgia pequena ou grande, pois até mesmo uma baixa imunidade do paciente, o fato do paciente por exemplo ser diabético ou portador de uma doença imunossupressora pode levar a sérias complicações”.
Caso de Kamila acende alerta para possíveis complicações
No caso da jovem que infelizmente perdeu a vida, é preciso investigar as condutas pré, durante e depois da cirurgia. “Emitir opinião em cima de ouvir somente uma das partes é um pouco complicado e precoce para apurar o caso. Diante dos fatos de como a matéria foi exposta, parece que a paciente passou sim pela mão de vários profissionais que talvez não tenham dado a devida atenção na evolução do problema por não acreditarem na gravidade do mesmo”, explica Macedo.
Ao longo dos dias seguintes à raspagem e incomodada com a dor e inchaço, Kamila, segundo declaração de familiares, procurou atendimento quatro vezes na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde recebia apenas medicação para dor e era liberada. Somente na última ida ao local, quando a mãe dela insistiu para que ela fosse internada, é que os médicos solicitaram exames detalhados e perceberam a gravidade do caso.